Tuesday, February 26, 2008

Aprendendo a...


Aprendendo…estou aprendendo…aprendendo a viver…a viver nesta insana existência que mais me parece insistência…Aos poucos aprendo a viver acompanhado da solidão de quem não tem ninguém a seu lado, a ouvir as palavras da boca que não fala nem conversa, a sentir o toque de quem não ficou por parecer ir com demasiada pressa. Aos poucos aprendo que aquela que considero a minha maior aprendizagem se afigura, cada vez mais, como uma miragem. Como se fosse um oásis de um deserto de quem não tem nada tão longe e tudo tem perto…

De facto, estou aprendendo. Aprendendo a ver a noite passar e mais um dia anunciar. Aprendendo a sentir o sabor de cada lágrima por mim derramada em mais uma e outra e outra noite ou madrugada. Aos poucos vou procurando a nascente que esta minha fonte faz jorrar e nem sempre sei se a quero realmente encontrar. Não sei porque as nascentes são isso mesmo: nascentes, locais onde nascem coisas. E uma nascente não pode nunca morrer ou ser vandalizada. Uma nascente deve ser estimada, cuidada e protegida para que possa continuar a fazer nascer algo para o resto da vida. E eu não sei se a minha nascente sabe que não sei se a tenho comigo e que, por vezes, a dou como perdida…

Mas nem por isso deixo de aprender. Continuo aprendendo. Aprendendo a calar sentimentos, a passar o cabo dos tormentos e a desejar melhores momentos. Aos poucos aprendo a sofrer como nunca pude imaginar que pudesse a acontecer. Sofro por não me querer ouvir e por não me deixar embalar na voz que me faz sorrir, no jeito tão lindo de olhar. Sofro por não querer ser mais do que aquilo que sei que posso ser. Sofro por notar que, aos poucos, e de mim mesmo, me começo a perder…

E no sofrimento aprendo também. Aprendo a crescer com a dor. Aprendo a calar a voz que sabe que fala de cor. Aprendo a aprender como se vive, ou sobrevive, a mais um dia de ausências presentes e de presenças ausentes. Aos poucos aprendo a ser mais um no meio de tantos transeuntes. A ser mais um que sai à rua por sentir que a alma está nua. Sem peças de vestuário nem dada que a tape. Sem o mínimo problema de demonstrar que já só lhe resta a dignidade. A dignidade de poder levitar sem que nada se levante. A dignidade de quem cavalga um cavalo demasiado velho e cansado, mas que mesmo assim tenta manter a postura de um cavaleiro andante…

E com isto…com isto talvez aprenda pouco. Aprendo que me sinto insanamente mais louco. Que é, cada vez mais, na loucura que resido. Que é aí que me encontro, única e exclusivamente comigo. É aí que sei que me vou encontrar, sempre em busca do irreal que julgo estar na realidade indisfarçável que encontro com o passar da idade…

Sim, estou aprendendo. A ser um mártir numa causa que, de justa, nada tem. A ser um ser que apenas sonhou em vir a ser…alguém. Alguém que sonhava, que vivia, que lutava pelo que sonhava e pelo que vivia. Alguém que ousava ter o brilho do olhar que sonhara um dia e a magia do sorriso que gostava que estivesse presente onde e quando mais fosse preciso…

Sim, estou aprendendo. A ser herói de uma guerra em que só eu combato. A ser vilão que foge e se esconde no meio do mato. A ser juiz de um tribunal que nada condena e nada absolve. A ser solução de um problema que tudo complica e tudo resolve…

Sim, estou aprendendo. Estou aprendendo a aprender qual a melhor forma de, a mim mesmo, suster. Por isso mesmo vou sustendo a respiração, vou procurando deixar que deixe de bater aceleradamente o coração. Vou aquietando-me na inquietude inquietante que me assola neste ou naquele instante em que não me encontro presente nem tão-pouco distante. Vou sorrindo parcamente ao choro que me visita amiudemente, esperando que o amanhã traga um choro que me mereça um sorriso diferente…

Sim, estou aprendendo. Aprendendo a saber lidar com o que mais ninguém lida: os problemas, as loucuras e os desvarios desta que, não sendo perfeita, continua sendo a minha vida…

Sim, a minha vida…na qual busco a perfeição que toda a gente garante que não existe. Talvez por isso não consiga andar mais sem aprender. Talvez por isso me sinta triste. E não sei quando irá isto passar. Mas sei que um dia alguma coisa acabará por surgir…e a partir daí, sim, “há-de haver onde começar”…

Nota do Autor: tenho saúde, a minha família (pais e mano) está bem e tenho amigos…apenas e só para não se preocuparem demasiado com as razões deste texto.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home