Saturday, March 29, 2008

Eternidade vs. Efemeridade...


A noite já vai longa, o dia parece eterno. Os segundos parecem dias, os minutos parecem meses e as horas parecem anos. Tudo parece desenrolar-se em slow motion. Nada parece saber, querer, poder ou conseguir acompanhar a velocidade dos meus pensamentos. Isto, quando penso, é claro, quando me dou a esse luxo, a esse exercício mental que tão bem faz ao cérebro…mas que tão mal parece fazer ao resto do corpo…

Sim, procuro não pensar. Procuro não pensar nas vidas que a vida tem. Nas vidas com vida própria e nas vidas do além. Procuro não tentar perceber no porquê de tudo o que vejo, que sinto ou que passo. Procuro não pensar e espero, dessa forma, poder sentir-me mais safo. Não é que me queira safar da vida que tenho. Sei que não me é possível. Só se morrer. Mas até lá, e sem o desejar, claro está, tento fazer com que as coisas sejam menos penosas…

Tento fazer com que tudo seja outra coisa que não o que realmente é. Se caio, tento fazer com que pareça estar de pé. Se choro, tento fazer com que pareça estar a sorrir. Se desejo o negrume da noite, tento fazer com que pareça desejar a luminosidade do dia. Tento, acima de tudo, fazer de conta…

Fazer de conta que não penso, que não sofro, que não sinto. É por isso que minto. Minto para fugir a esta realidade surreal na qual me vi envolvido desde que dei por mim como um desconhecido, como alguém que perdeu a sua identidade com promessas de eternidade. A mesma que me leva a não querer saber de nada, a mesma que me faz ansiar pelas tristes, mas calmas horas da madrugada…

Pois é na madrugada que encontro refúgio, guarida. É na madrugada que sou capaz de assumir a minha própria vida. É na madrugada que me dou conta do que sou, do que não sou, do que valho e do que não valho. É na madrugada que me apercebo que sou cavaleiro sem cavalo, que sou rei sem reino, que sou príncipe sem principado. É na madrugada que compreendo que sou apenas e só um vestígio, um resquício do meu próprio passado…

Afinal, já não sou mais o que sou. Já não sou o que fui, já não sou o que serei. Mesmo não sabendo o que virei a ser, sei que não sou o que me reserva o futuro. Sei que não posso ser amanhã o que sou hoje. Porque se o for, então não haverá amanhã. Porque se o for, então não quero ser. Prefiro continuar a fingir. Prefiro continuar a mentir. Prefiro acreditar que o hoje que sou amanhã é o retorno inevitável ao passado, o qual serve apenas para que me possa sentir identificado…

A noite já vai longa, o dia parece eterno. Mas no fundo, este eterno é efémero. Tal como a vida. Tal como tudo o que vivemos. Tal como tudo o que sentimos. Tal como tudo que omitimos. Tal como tudo o que queremos…

E se assim é, porque fingimos? Porque fugimos? De que fugimos?

Da efemeridade do que é eterno ou da eternidade do que é efémero?

Seja como for, creio que sou estúpido. Aliás, somos estúpidos. Eu, tu, ele, ela, todos os que fazem o que descrevi mais acima neste texto. Somos estúpidos porque se é verdade que nada na vida é tão eterno que não possa ser efémero, visto que tudo só é eterno enquanto dura, mais verdade ainda é o facto de nada na vida ser tão efémero que não possa ser eterno, uma vez que a eternidade pode residir no instante em que se dá um beijo, no momento em que se esboça um sorriso, no segundo em que se decide dar um abraço…

Talvez aí resida algo que não sei o que é, mas que desconfio ser algo de importante. Às tantas, e para que eu possa ser eterno, é disso que eu preciso. Às tantas, e para que eu possa ser feliz, eis então a fórmula mágica. Eis então o primeiro passo…

PS – Miúda (eu sei que sabes quem és), aqui está um texto, tal como me pediste. Creio que não é o que estavas à espera, mas é o que se pode arranjar.

1 Comments:

Blogger Vanessa said...

"Passamos a vida a mentir, até, sobretudo, talvez apenas, àqueles que amamos. Com efeito, somente esses podem pôr em perigo os nossos prazeres e fazer-nos desejar a sua estima. Mas acredito que, por vezes, a mentira exprima melhor do que a verdade aquilo que se passa na alma!
A verdade mascarada pode ser o refúgio para todos aqueles que desta mesma verdade precisam."
:)

11:59 AM  

Post a Comment

<< Home