Thursday, December 11, 2008

Divagações e Constatações...


Ainda me lembro…

Creio que sim, que ainda me lembro…

Creio que ainda me lembro do som que fazia, da velocidade a que andava, saltava, pulava, voava…da fúria com que batia por saber que havia por que bater, por saber que havia alguém por quem bater, por saber que havia qualquer coisa que valia a pena toda aquela ânsia, todo aquele batimento…

Mas hoje…hoje não sei. Aliás, sei. Não bate. É isso mesmo. Não bate. Como é possível? Nem eu mesmo sei. A mim também me faz confusão. Alguma, vá. Para ser sincero, não me faz assim tanta confusão. Parece que sempre foi assim. E eu sei que não, que há muito que assim não o é. Mas é-o agora. E depois?

E depois…nada. Não me preocupo. Não me incomoda a frieza dos actos, nem a gélida capa que se acumula e toma a forma do espaço que circunda. Não me chateiam as estalactites que se formam em redor do centro onde se concentra (ou deveria concentrar) todo o magma, todo o calor e toda a fonte de vida…

Afinal, pode-se viver no gelo. Eu sei que é o Sol que dá vida ao mundo, mas também sei que sem ele, ou sem o calor, a vida também é possível. Suportável, passível de se aguentar. Talvez não muito desejável ou apetecível...

Porém, na vida nem sempre se obtém as colheitas necessárias. Há que contar com as intempéries, com os desígnios indecifráveis da Natureza, com um sem número de situações e combinações e situações que podem afastar toda e qualquer fonte de calor de todo o vestígio de vida que se possa imaginar, mesmo que não se imagine vida sem calor…

Mas eu ainda me lembro…Creio eu…

De que me vale essa lembrança? De nada. De absolutamente nada. Não sinto saudades. Já não sinto saudades. Já não me comove todo aquele batimento, todo aquele bombear de sangue, de sensações e sentimentos. Já não me “diz nada” toda aquela panóplia de impulsos eléctricos, bombásticos e impressionantemente carregados de simbolismo, de desejo, de ambição, de planos, de esperança e de…

Enfim, já cá não mora nada disso. Parece que o oásis se transformou em deserto. Não porque tenha deixado de chover, mas sim porque o agricultor deixou de cultivar. As terras, dantes férteis e abundantes (quiçá em demasia), hoje são estéreis, áridas e sofrem cada vez mais com a erosão…

Ou será com a ilusão? Já nem sei. E, sinceramente, pouco importa. Tal como aquando de um desembarque nem sempre sabemos se voltaremos a pisar terra firme, ao enfrentarmos um penhasco nem sempre sabemos se a corda é suficientemente forte para aguentar com o nosso peso. E por vezes trazemos peso a mais connosco. Peso que não se encontra na mala ou na mochila que carregamos às costas…

Mas mesmo assim atravessamos. Ou tentamos. E se cairmos, paciência. A vida é isso mesmo, não? Quedas, tropeções, caídas e trambolhões? Se não é, parece…

Às tantas, vós que estais a ler, estais a julgar que caí. Não, não caí. Pelo menos há muito que não caio. Tão-pouco estou ciente se me encontro de pé. Alturas há em que acredito que estou naquele caminho onde já não há retorno, em que o próximo passo pode ser o último…

E se for…? E se for mesmo o último? Que importa, não é?

Afinal, já não bate. Há muito, muito tempo que já não bate…

Talvez se vá cumprir a profecia de quem um dia vaticinou o gelo e o degelo da solidão. O mais curioso é que tal vaticínio surgiu após tórridos momentos, escaldantes diálogos e apaixonantes interlúdios…

Talvez assim seja…

Que seja…afinal, já não bate…não da mesma forma…Porque não quer…e porque tão-pouco o quero eu…

E qualquer dia…qualquer dia já nem me lembro…

0 Comments:

Post a Comment

<< Home