Friday, October 19, 2007

Sinto saudades...


Hoje, mais do que nunca, sinto saudades. Sinto que sinto saudades das noites que a mim próprio minto quando digo não sentir saudades. Sinto saudades de um outrora nunca passado e sempre presente. Sinto saudades de absolutamente nada que tenha a ver com o tudo que me preenche.

Sinto saudades porque fui marcado por coisas ou pessoas que deixaram em mim marcas indeléveis, sinais de um tempo que passou, mas que está presente porque acredita no futuro. Sinto saudades porque algo ou alguém foi ou é demasiado importante para mim; porque há coisas que nada nem ninguém poderá apagar. Sinto saudades porque sou humano, porque sei que recordar é viver...mesmo que as recordações, às vezes, nos façam pensar naquilo que estamos a perder...

Sinto saudades porque sinto a necessidade de ter presentes fases, planos ou aspectos da minha vida. Sinto saudades porque quero ter algo presente em mim, porque quero saber que a saudade imensa não é aquela que parece não ter fim, mas sim a que deixa a nossa alma suspensa. Sinto saudades porque nas saudades residem o condimento do dia-a-dia que encaro sem a força da tua alegria, sem o brilho do teu olhar, sem a magia do teu sorriso.

Sinto saudades...porque sinto. Porque se não as sentisse estaria a perder o melhor de ti em mim: as recordações, as marcas por ti deixadas em terras nunca dantes calcorreadas. Sinto saudades porque nelas estás tu e estou eu; o mesmo eu que foi sem ter partido; o mesmo eu que me deixou para ir contigo; o mesmo eu que habita aqui e além, à espera do número redondo que é o cem...

Sinto saudades de pequenos pormenores, de pequenos grandes “pormaiores” que fazem com que as saudades se tornem ainda maiores e ao mesmo tempo mais dóceis e fáceis de suportar. Sinto saudades do toque suave no braço, da magia de cada abraço, das palavras trocadas no silêncio de cada olhar. Sinto saudades de estar contigo...fosse para rir, para brincar ou para aparvalhar...

Sinto saudades de todo o tudo que é nosso e que surge do nada; tal como do nada que é tudo e é todo por servir para tudo, mesmo se vindo do nada. Sinto saudades de risos, sorrisos e detalhes; de pequenos gestos que se tornaram milagres aos olhos de quem os viu. Sinto saudades de quem nada falou e tudo ouviu só por saber estar onde ninguém quis estar, por saber não negar o que nunca se sentiu...

Sinto saudades...sinto mesmo muitas saudades...Tantas que já nem o Mondego parece chegar para todas as minhas saudades poder abarcar. Mas nem por isso ele deixa de me ouvir; nem por isso ele deixa de para mim sorrir sempre que uma lágrima minha de felicidade nele acaba por cair.

E se lágrimas deito, é pela felicidade que trago escondida no peito. É porque sei que sentir saudades é bom. Porque sei que nas saudades estão pedaços de ti que aos poucos reconstruo e que aos poucos definem o que sinto. E se o que sinto são saudades, que venham elas então! Que seja invadido e inundado o meu coração. Pois sem elas a vida não teria sal. Sem elas a tua ausência seria algo de banal e a minha tristeza algo de normal.

Mas como não somos seres tristes, e porque não poderei nunca estar triste se me lembro de um teu beijo, de um teu abraço, da minha cabeça deitada no teu regaço, eis que me permito saudades sentir. Eis que me permito saudades ter...Pois nas saudades nunca chegaste a partir...e através das saudades, todos os dias, te posso ver...

2 Comments:

Blogger Vanessa Quinteiro said...

Quem sente saudades...está vivo!

1:21 AM  
Blogger Ceres said...

Que palavras bonitas ....

2:52 PM  

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