Tuesday, June 17, 2008

Ser como o rio que flui...


Deus,

Hoje quero falar Contigo. Não da forma como habitualmente costumamos falar. Quer dizer, dessa forma também, mas hoje preciso de algo mais. Hoje preciso de saber que Estás aqui mesmo ao meu lado, que Te encontras, neste preciso momento, a ver estes dedos que teclam algumas palavras na esperança de que algo de positivo possa sair daqui…

Hoje preciso do Seu apoio, da Sua amizade e da Sua compreensão. Eu sei que a tenho, mas hoje preciso de um pouco mais. Não é por mal, e sei que já deveria me dar por contente com a atenção que me é dirigida, mas sinto que devo pedir mais qualquer coisa…

Hoje pedirei, não por mim, mas por aqueles que, de uma forma ou de outra, eu posso ajudar ou tenho ajudado. Peço-Lhe, Senhor, que os torne um pouco mais independentes, um pouco mais autónomos e auto-suficientes. Peço-Lhe que os ajude a encontrar novas fontes de energia e novos apoios e motivações, pois começam-me a faltar as forças…

Creio que é normal. Talvez eu esteja a ser um fraco ao admitir isto, mas estou a caminhar rumo a um rumo desconhecido, rumo a um caminho que desconheço e que me obrigará a estar mais atento, mais alerta, mais empenhado. Estou no fim da transição para outras atmosferas, para outras auras que serão, obviamente, mais exigentes e mais condicionadoras…

Não quero defraudar expectativas, não quero que se habituem ao que já se deviam ter desabituado. Não sou o que dizem, sou o que sou. Não sou o que pensam, sou o que faço. Não sou o que sonham, sou o que existe. Não sou tão nem tão-pouco, valho o que valho. Não há como medir o “eu” que há em mim, não há como quantificar ou identificar o meu princípio, o meu meio e o meu fim…porque não há registos de nenhum desses períodos…

Sou intemporal, sou impossível de analisar, de ser debatido, explorado ou estudado. Sou apenas mais um, nada mais. Mas sou mais um que sabe a quantas anda e porque anda e por onde anda. Não ando às cegas…nem mesmo quando tal aparento…

Por isso não quero que me sigam na minha “cegueira”, na minha aparente desorientação. Não quero que ninguém se perca só porque contou comigo, com a minha presença, com o meu apoio. Pura e simplesmente porque já não é hora de apoio. Não é que este tenha acabado, mas já não há tempo nem condições para certas coisas…

Senhor, peço-Lhe que zele, ainda mais, pelas pessoas às quais me refiro. Rogo por elas ainda mais afincadamente do que rogarei por mim. Que cada uma dessas pessoas possa ser ajudada, abençoada e agraciada como eu tenho sido ao longo da minha vida. Que essas pessoas saibam interpretar os Seus sinais e que saibam ouvir a Sua voz, o Seu chamamento e saibam entender as Suas palavras…

Deus, ensinai-as a aprender a ouvir os seus corações. E ajudai-as a seguir os seus corações. Pois onde eles estiverem, é onde se encontram os verdadeiros tesouros que estas pessoas procuram. Eis a resposta do enigma que muitas destas pessoas procuram…

Neste momento preciso de uma pausa, de um ligeiro abrandar de ritmo. As rotas já estão alteradas e eu ainda não sei quais são as novas coordenadas. Não sei quais as estrelas do céu que devo seguir a partir de agora. Nem sequer sei se haverá estrelas no céu para se seguir…

Não sei que ventos se avizinham nem que novas sopram e transportam. Não sei que rios e vales se cruzarão no meu caminho, nem sei quanto tempo mais precisarei até que possa estar completamente ciente de que estou sozinho…

Apenas sei, Senhor, que a Si devo-lhe tudo e mais alguma coisa. A Si e aos Seus, os quais sabem quem são e não necessitam de uma referência mais racional ou abrangente. Apenas sei que preciso de ser coerente Consigo e que não merece nada mais da minha parte do que uma total transparência. Sei que há alturas em que as caravanas têm mesmo de se separar de modo a que todos possam proliferar. Não é uma questão de incompatibilidade nem de sobrevivência. É apenas a lei da vida…

Estou-Lhe grato, Senhor, pelas pegadas que me permitiu deixar marcadas nas areias da minha vida. Eternamente grato mesmo. Mas eu apenas marquei alguns grãos de areia e há todo um vasto e extenso areal que necessita de novas pegadas, de novas marcas e de novas impressões. Por isso digo-Lhe: está na hora…

Não estarei tão perto de modo a poder irromper debaixo da primeira pedra a ser pontapeada, nem estarei tão longe ao ponto de os ventos não me deixarem fazer ouvir…Estarei apenas por aí, algures, remando, mergulhando e saboreando os ventos, as marés e as maresias de outros mares. Estarei sempre ao alcance da vista daqueles que me souberem olhar com o coração. E serei sempre aquele grande amigo capaz de ser guardado na palma da mais pequenina mão…

Deus, obrigado por tudo, mas há mais caminhos que precisam de mim, e também eu preciso desses caminhos. Largo aqui as amarras do que fui, não para marcar terreno, mas sim para poder criar novas amarras que me possam sustentar e suportar em novas aventuras e desventuras. Partirei daqui deixando tudo o que sou, levando tudo o que fui…

E com isso saberei sempre que passado, presente e futuro não têm tempo para mim. Não, hoje não…

Porque hoje sei o que sou: sou simplesmente como o rio que flui…

Oh Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Obrigado, meu Pai…

Amén…

PS - para que não me acusem de plágio, o título deste post surge em homenagem a um dos meus escritores favoritos, Paulo Coelho. Ainda não li a sua última obra, precisamente aquela que tem como título “Ser como o rio que flui”, mas sei que deve ser
uma óptima literatura e a ideia do rio veio-me à cabeça, pelo que entitulei o post desta forma.

1 Comments:

Blogger Xiuipa said...

Ser como o rio que flui...
ás vezes é preciso seguir a corrente desse rio, deixar-nos ir e confiar.
Tal como referes no teu excelente texto, as rotas da vida em certas alturas alteram-se e ficamos sem saber as suas coordenadas.
Para as descobrir é necessario avançar e confiar, istó é, seguir o nosso coração e sobretudo ter fé que tudo vai correr pelo melhor.

mais uma vez parabéns pelo excelente texto.

12:29 AM  

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