Wednesday, June 11, 2008

Sou eterno...


“O caminho é longo, comprido, extenso. Tudo parece ser consumido pela vastidão que me rodeia, pelo imenso vazio que se encontra à minha frente. Passo a passo, faço-me à estrada, lanço-me em direcção ao futuro, mesmo sabendo que nem o presente sou capaz de entender…

Aos poucos dou-me conta do passado. Ele quer-me acompanhar, quer seguir comigo nesta viagem. Mas eu não quero. E não o deixo. Não preciso do passado ao meu lado. Nunca precisei, aliás. Sei perfeitamente o passado que tenho e tive, sei quais as coisas boas e menos boas que aconteceram e sei quais os erros e as virtudes de tudo o que, entretanto, fiz…

Sigo então sozinho, sem malas nem bagagens, sem mudas de roupa nem calçado alternativo. Sigo praticamente despido, desprovido de todo e qualquer utensílio que possa acabar por tornar-se um fardo ou um empecilho ao longo desta viagem. Não me posso atrasar mais…mesmo sabendo que ainda vou perfeitamente a tempo…

Do nada o presente aparece, pede-me que fique, que repense a minha decisão e que me deixe ficar. Não aceito. Não há como aceitar. Já decidi e está decidido. Olho o presente com a mesma ternura com que encarei o passado e na mesma sinto aquela saudade a bater no meu coração. Não profiro nenhuma palavra e volto novamente à estrada…

Estou leve, sinto-me leve. Não há em mim mais pesos para além daqueles que trago dentro do peito, da alma e do coração. Não carrego mais nada para além das memórias, das recordações e das saudades Não transporto nada mais para além do meu desejo de partir, de seguir para algures…

Reparo que não anseio o futuro. Não me sinto mais tão preso ao passado nem me sinto tão ligado a este presente. Vejo que o tempo não interessa, que as noções de tempo (passado, presente e futuro) começam a deixar de ter valor…

De que vale ter um passado quando o nosso presente é condicionado por este? De que vale deixar de viver tanta coisa no presente só porque alguém nos disse que o importante é o futuro? Ou deixar de viver tanta coisa no presente só por, um dia, ter havido este ou aquele passado?

Um amigo meu diz que o tempo é incontrolável. De facto, é, há que lhe dar razão. Não vale a pena lutar contra o tempo. Como tal, para quê dar tanta relevância a passados, a presentes e a futuros?

Um amor que tem passado, se não for bem estimado no presente, acham que terá algum futuro? Uma semente que se semeou no passado, se não for regada no presente, alguma vez se tornará uma flor no futuro?

A meio desta reflexão dou por mim parado, especado a meio do caminho a olhar para tudo e para todos os que não estão agora ali comigo. Encaro cada uma dessas pessoas e cada uma dessas coisas que, talvez, deveriam estar ali comigo e penso na temporização de cada uma delas…

Sorrio perante a minha própria apatia e a minha própria indecisão. Mas depressa faço-me à estrada novamente…

O tempo até pode ser incontrolável, mas eu também o sou. Também sei ser imparável. Também sei dar a noção de que sou eterno. Aliás, eu sou eterno…

Sou eterno porque quero ser intemporal, sou eterno porque acredito que tudo é eterno enquanto dura e sou eterno porque sei que um segundo pode ser eterno. Tal como um beijo, um olhar ou um abraço…Tal como o amor…

Sim, sou eterno. E com esta eternidade rumo em direcção ao infinito, ao céu, às estrelas e à lua…

O caminho ainda é longo, ainda parece vasto e extenso. Mas eu tenho tempo. Afinal de contas sou eterno, tal como eterna é a minha busca…

A estrada recebe-me de braços abertos, a brisa saúda-me suavemente e a Lua pisca-me o olho, sorrindo também para mim. Todos eles entendem a minha busca…E também entendem o porquê de ser eterno…”

2 Comments:

Blogger Kau said...

Inacreditável...conseguis-te com que sentisse tudo isso...e mais, ajudaste-me a resolver um grandeeeeeeeeee problema!!!!Bigada...

ps: Sim... realmente és eterno!!!

beijo e obrigado por me salvares o dia hoje.

8:13 PM  
Blogger Hagia Guedas安 said...

Olá Amigo LF!!!

Somos eternos por aquilo que fazemos por nós, marcamos lugares e pessoas pelo que somos e vivemos.
Construímos caminhos pelas lições do passado, pelas quedas sucessivas que dá-mos, não devemos largar o passado, ele é a continuidade da história que escreveremos no futuro.

As minhas palavras aos pé das tuas não são nada, mas agora falando como amiga, continua o teu caminho, se lutaste e não triunfaste, não temas as derrotas, caminha, reflecte, contempla o que te rodeia, a vida é demasiado pequena para sermos o público eterno do passado. O que fizemos certo ou errado será o que construirá o futuro, o que amanha seremos e faremos.
Não temas essa estrada, deixa-te guiar por ela, deixa-te ser eterno pelo que és.

Mas um conselho caminha sem temer mas manda a solidão passear… mas sozinha e não contigo.
Eu farei o mesmo, já sinto o vento fresco apelando a novos caminhos e na minha memória o passado a perder o seu presente, vai e não temas essa busca…

Beijo

AG

9:56 PM  

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