Até sempre, Enke...
A morte é um daqueles temas que poucas vezes ousamos abordar, discutir, debater. Seja pelo medo que dela temos (alguns), seja pela insistência em fazer deste um tema tabu, a verdade é que hoje em dia continua a ser difícil falar da morte. Tal como é difícil, e cada vez mais pelo que se vê, falar dos nossos próprios problemas…
Não digo isto por sentir necessidade de desabafar ou falar das coisas que me afligem. Neste momento estou suficientemente equilibrado e sei como lidar com o mundo que gira em meu redor. Mas, e infelizmente, há pessoas cujo desgaste é maior, cuja pressão é mais intensa e cujas fragilidades psicológicas acabam por ser demasiadas e até mesmo fatais. Como Robert Enke, por exemplo…
Não falo do guarda-redes excepcional que foi, nem das suas brilhantes defesas, dos seus vôos e estiradas. Falo, isso sim, do pai, do marido, do cidadão consciencioso e activo que era. Falo do Robert Enke ser humano, do Robert Enke que encantava tudo e todos à sua volta, fosse pelas acções que levava a cabo, fosse pelo terno sorriso expressado sempre que tinha a sua filha ao colo…
Hoje a sua selecção joga pela primeira vez desde que partiu. Não sei se consigo imaginar como será e como reagirão os jogadores germânicos quando se sentarem no balneário e virem que naquele canto, naquele cacifo não está mais o capitão do Hannover. Mas sei como se sentem neste momento…
A Federação Alemã de Futebol publicou hoje, no seu site oficial, uma carta escrita pelos companheiros de selecção de Enke. Porque alongar-me mais seria divagar no vazio, deixo, a seguir, excertos de um documento que a todos deve tocar e que a todos deve suscitar alguma reflexão…
“ «Sentámo-nos juntos muitas vezes e pensámos em ti. Em conjunto, ficámos em silêncio, juntos chorámos e juntos procurámos respostas, mas apenas nos surgiram mais interrogações, perguntas agonizantes»
«Por que não te conseguimos ajudar? Por que é que tu não conseguiste, não quiseste falar-nos dos teus problemas? Por que é que não é possível neste nosso desporto competitivo, na nossa sociedade competitiva falar abertamente de medos e doenças?»
«É um pensamento penoso para todos nós, que tivesses estado em solidão, mesmo quando estavas rodeado por nós; que tantas vezes pensaste que estavas a perder muito mais do que uma mera partida de futebol; que para ti havia muito mais em jogo que para nós»
«Vamos sentir a tua falta. No caminho para o estádio, nos balneários, na grande área. Vamos sentir a tua falta porque eras um guarda-redes extraordinário. Mas, muito mais, porque eras uma pessoa excepcional. Hoje jogamos pela Alemanha, jogamos pelos adeptos. Mas a maioria de nós vai jogar por ti. Por um bom amigo cuja morte nos uniu ainda mais. Somos uma equipa e tu farás sempre parte dela.» “
Descansa em paz, Enke.
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