Mãe...

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(suspiro)

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Mãe,

Nem sei bem por onde começar…há tanto a dizer, ficou tanto por dizer que, por mais que eu me esforce e por mais que não me deixe levar por esta enorme vontade de chorar, sei que nunca vou conseguir dizer tudo o que me vai na alma…

Há dias, mais precisamente quando o Pai fez anos, lembrei-me de um episódio que aconteceu há um ano atrás, ainda estavas entre nós. Lembrei-me da felicidade que senti quando, no meio de tudo o que se estava a passar, te lembraste do aniversário do Pai e lhe deste os parabéns. Lembrei-me do quão feliz e emocionado ele ficou, da forma como vocês se abraçaram e de como eu, sentado naquela poltrona ao lado da tua cama, me senti menino outra vez, pequeno, indefeso, mas feliz por ver o casal mais belo do mundo tal como eu sempre o conhecera: feliz, apaixonado, abraçado…

Hoje, passado um ano, tudo isto assola-me a mente. Tudo isto passa e repassa naquele que é o filme da minha (ainda) curta existência…

Sabes Mãe, queria muito que pudesses voltar, nem que fosse por um minuto, nem que fosse por um segundo. Para voltar a sentir o teu perfume, para voltar a sentir os teus mimos, para voltar a ouvir a tua gargalhada, enfim, para voltar a ver os teus belos olhos…

Queria tanto que ainda cá estivesses, que pudesses ficar a tomar conta da tua neta, Mãe, que tem o teu nome, que tem a cor dos teus olhos, que é loirinha como tu…Queria tanto que cá estivesses, para a abraçar, para a mimar, para a ensinar e a educar da mesma maneira que fizeste comigo e com o meu irmão…

Queria tanto, mas tanto Mãe, que pudesses voltar a sentar à mesa connosco, que partilhasses os nossos almoços de família, Uma família que ajudaste a construir e que ainda hoje se mantém unida porque tu existes. Em cada um de nós, em cada uma das nossas acções, em cada uma das nossas lembranças…

Já gastei um maço de lenços, Mãe, e sinto que ainda mais serão gastos…

Sei que sabes o que se passa, o que faço, por onde ando. Sei que olhas por mim, pelos teus, e que zelas e rezas por nós aí em cima. Sei que Deus te chamou porque precisava de ti aí e porque aí, onde te encontras, podes nos ser mais útil…mas não me conformo, Mãe. Custa aceitar, custa acreditar que já passou um ano e que tudo aconteceu do modo como aconteceu: tão repentinamente, tão…

Mãe, porque tudo tem que ser assim, tão difícil? Porque será que dizem que a Saudade é boa, quando ela nos faz chorar, independentemente de ser de tristeza ou alegria? Porque será que não posso ir ter contigo, subir aos céus rapidamente só para te dar um beijinho e depois voltar com a doce e reconfortante sensação desse nosso reencontro?

Custa saber que não estás aqui fisicamente, que já não te posso ligar às tantas da madrugada, fosse qual fosse o assunto. Custa saber que não estás aqui para me ajudar a criar a Márcia, a tua neta. Ela é tão linda, Mãe. A sério, não é por ser minha filha, mas ela é mesmo linda…

Enfim…

Queria que soubesses isto e muito mais. Queria que o mundo soubesse que há um ano perdeu um dos seus bens mais preciosos, uma das pessoas mais fantásticas que nele habitaram. Um anjo, um verdadeiro anjo. E não o digo por seres minha mãe, digo-o pela quantidade de admiradores que granjeaste ao longo da vida, pela quantidade de pessoas que também sentem a tua falta…

Mãe, faz hoje um ano que partiste, levando uma parte de mim contigo. Faz hoje um ano que me senti triste, perdido, sem rumo e sem sentido. Felizmente mandaste-me a pequena Márcia, esse tesouro belo e inestimável. Faz hoje um ano que tudo mudou…

Obrigado por tudo, Mãe…A gente vê-se…

Beijo do tamanho do mundo, com saudades do tamanho do universo…