Alma...

Ontem senti a minha alma. Senti-a enquanto ouvia Fado. E falar de Fado é falar de tanta coisa que nem sequer ouso tentar classificar seja o que for, relativamente ao Fado. Posso apenas dizer que Fado é Fado. Fado é alma. Fado é dos que têm alma. Mais ninguém pode perceber o Fado. A voz, no Fado, pouco importa. Importa sim a alma, a força interior que nos leva a arrepiar a cada acorde, a sensibilidade interna que nos leva a sorrir enquanto derramamos uma lágrima. E depois outra...e outra...e mais outra...
Fado é Alma. Alma essa que é tudo o que quisermos que seja, mesmo que nada saibamos sobre o assunto. Seja ele Fado ou Alma.
E isto ocorreu-me não por ter alma de fadista (com muita pena minha), mas sim por ter estado em contacto com a minha Alma. Alma minha esta que me diz que sou fadista por necessidade. Sou fadista porque me identifico, porque sei o que é essa Saudade que só existe nesse Português que é tão vosso, e que aos poucos lá se vai tornando meu também...Sei que sinto o Fado. Não como sinto o Samba ou o Pagode, mas sinto o Fado. Sinto-o porque tenho alma. Uma alma que ri, sorri, chora e vibra a cada reverberação da guitarra, seja ela portuguesa ou não.
Esta alma minha sabe que Fado é destino, é desígnio divino. Sei que Fado é fardo. Sei que Fado é sangue, suor e lágrimas. E sei que foi Deus que me pôs no peito, não um rosário de penas, mas sim um coração dolente, sadio e doente, um coração que sente até o mais insensível dos sentimentos. Sei que é estranha esta minha forma de vida, a qual enche o meu coração. Sei que este meu coração não sabe para onde vai e que por isso mesmo, às vezes, recuso-me a acompanhá-lo mais...
E ontem, a cada acorde, a cada voz que trinava no palco improvisado no beiral de uma escada ou no corredor de mesas, consegui ter a plena consciência de algo, quiçá, importante: "Ó gente da minha terra, agora é que eu percebi, esta tristeza que trago foi de vós que a recebi". E esta não é a minha terra. Mas dela bebo e recebo a tristeza que povoa, algures, esta minh'alma sedenta de algo que não provei ainda...
Talvez por isso me identifico com o Fado. Talvez por isso, ontem, tenha alcançado níveis de transcendentalismo nunca dantes por mim alcançados. Talvez por isso a minha alma tenha rejubilado. E rejubila. E talvez continuará a rejubilar...
E se assim for, "Que Deus me perdoe, se é crime ou pecado, mas eu sou assim, fugindo ao Fado fugia de mim, cantando dou o brado, e nada me dói, se é pois um pecado ter amor ao Fado...que Deus me perdoe"...
* And so my soul has spoken...
1 Comments:
A tua definiçao de Fado,consegue ser muito mais coerente do que a de muitos Fadistas.E apesar de eu nao te conseguir descrever aquilo que sinto,aquilo que esqueço, quando canto Fado,quando ouço Fado, gostei imenso daquilo que li...identifiquei-me bastante,digamos.
A alma fica recheada de tanta coisa, que todos aqueles arrepios que sinto quando uma mera guitarra trina,libertam esta alma presa, por vezes, a um nada, ou a um tudo.
Tudo é Fado na minha vida, apesar de muitos nao perceberem aquilo que o Fado quer dizer...
Ama o Fado, a vida fica muito mais completa...
[opinioes]
Parabens pla forma como escreves,como te revelas.
Bj*
Vanessa
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