Friday, November 16, 2007

Alma...

Ontem fui acossado por um estranho sentimento. Um sentimento que não se pode descrever, um sentimento que não se pode, porque não há como, relatar. Ontem fui espectador atento num palco especial, num palco mítico e místico. Um palco pequeno em tamanho, mas infinito em sensações. Vozes cantavam, mas quem voava eram os corações. Os mesmos que sabiam cada acorde, os mesmos que reconheciam cada refrão como se fossem de sua autoria.

Ontem senti a minha alma. Senti-a enquanto ouvia Fado. E falar de Fado é falar de tanta coisa que nem sequer ouso tentar classificar seja o que for, relativamente ao Fado. Posso apenas dizer que Fado é Fado. Fado é alma. Fado é dos que têm alma. Mais ninguém pode perceber o Fado. A voz, no Fado, pouco importa. Importa sim a alma, a força interior que nos leva a arrepiar a cada acorde, a sensibilidade interna que nos leva a sorrir enquanto derramamos uma lágrima. E depois outra...e outra...e mais outra...

Fado é Alma. Alma essa que é tudo o que quisermos que seja, mesmo que nada saibamos sobre o assunto. Seja ele Fado ou Alma.

E isto ocorreu-me não por ter alma de fadista (com muita pena minha), mas sim por ter estado em contacto com a minha Alma. Alma minha esta que me diz que sou fadista por necessidade. Sou fadista porque me identifico, porque sei o que é essa Saudade que só existe nesse Português que é tão vosso, e que aos poucos lá se vai tornando meu também...Sei que sinto o Fado. Não como sinto o Samba ou o Pagode, mas sinto o Fado. Sinto-o porque tenho alma. Uma alma que ri, sorri, chora e vibra a cada reverberação da guitarra, seja ela portuguesa ou não.

Esta alma minha sabe que Fado é destino, é desígnio divino. Sei que Fado é fardo. Sei que Fado é sangue, suor e lágrimas. E sei que foi Deus que me pôs no peito, não um rosário de penas, mas sim um coração dolente, sadio e doente, um coração que sente até o mais insensível dos sentimentos. Sei que é estranha esta minha forma de vida, a qual enche o meu coração. Sei que este meu coração não sabe para onde vai e que por isso mesmo, às vezes, recuso-me a acompanhá-lo mais...

E ontem, a cada acorde, a cada voz que trinava no palco improvisado no beiral de uma escada ou no corredor de mesas, consegui ter a plena consciência de algo, quiçá, importante: "Ó gente da minha terra, agora é que eu percebi, esta tristeza que trago foi de vós que a recebi". E esta não é a minha terra. Mas dela bebo e recebo a tristeza que povoa, algures, esta minh'alma sedenta de algo que não provei ainda...

Talvez por isso me identifico com o Fado. Talvez por isso, ontem, tenha alcançado níveis de transcendentalismo nunca dantes por mim alcançados. Talvez por isso a minha alma tenha rejubilado. E rejubila. E talvez continuará a rejubilar...

E se assim for, "Que Deus me perdoe, se é crime ou pecado, mas eu sou assim, fugindo ao Fado fugia de mim, cantando dou o brado, e nada me dói, se é pois um pecado ter amor ao Fado...que Deus me perdoe"...

* And so my soul has spoken...

1 Comments:

Blogger Vanessa Quinteiro said...

A tua definiçao de Fado,consegue ser muito mais coerente do que a de muitos Fadistas.E apesar de eu nao te conseguir descrever aquilo que sinto,aquilo que esqueço, quando canto Fado,quando ouço Fado, gostei imenso daquilo que li...identifiquei-me bastante,digamos.
A alma fica recheada de tanta coisa, que todos aqueles arrepios que sinto quando uma mera guitarra trina,libertam esta alma presa, por vezes, a um nada, ou a um tudo.
Tudo é Fado na minha vida, apesar de muitos nao perceberem aquilo que o Fado quer dizer...
Ama o Fado, a vida fica muito mais completa...
[opinioes]

Parabens pla forma como escreves,como te revelas.
Bj*

Vanessa

3:18 PM  

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