Monday, November 12, 2007

Relatos oníricos...


A noite cai. Os sons que se ouvem são pouco nítidos. Há risos, há copos, há gargalhadas e há bramidos. Há toda uma sinfonia que não sei distinguir. Saio. Aliás, já saí. Não vou sozinho, mas por vezes pareço desacompanhado. A culpa não é de quem comigo vai, mas sim do meu próprio ser que se quis pôr de lado. Enquanto eu falo, o meu ser (a minha alma) observa o que se passa à minha volta. Surgem perguntas. Fazem-se questões. Nem sempre há resposta. Calam-se as multidões. Mas a alma está lá. Não perdoa, não facilita e não vacila.

Faz-me pensar enquanto ajo, falo ou digo. Faz-me voar enquanto canto, ando ou ouço. Faz-me ficar enquanto me ausento, ainda que por momentos. Os sons continuam iguais, mas parecem diferentes. Há corações vazios e sentimentos ausentes, há almas que falam mas não se fazem ouvir, há seres que choram e não sabem carpir.

As mágoas afogam-se. Mas se não tenho mágoas, que afogo eu? A alma não me deixa afogar nada mais para além da mágoa de não ter mágoas. Mas faço minhas as mágoas dos outros. Sinto a insanidade dos outros como poucos. Arrisco-me a que nos julguem loucos por sermos tantos e parecermos tão poucos. Mas, afinal...quantos somos? Quando? Onde? Ontem ou anteontem? Não importa...ou melhor, pouco importa...ou importa o que importar a quem tiver que se achar importado por ter que se importar com o que ninguém se importa...Talvez nos importemos mais com o que não devíamos importar.

As guitarras trinam as suas cordas. As vozes afinam e desafinam no mesmo tom e ao mesmo tempo. Sinto que faltam coisas que façam deste um menor momento. Então é um momento bom. Um grande momento. Brindemos então a este momento. Ao momento em que celebramos nada por não podermos celebrar tudo. Brinda-se à vida, ao amor, à amizade e à morte...À morte? Oh, triste esta nossa sorte. Ter que ouvir isso de quem parece ter perdido o norte...E que sortudos são os que perdem o norte. Pois não se importam mais com a sua sorte e apenas querem viver a vida para além da morte.

Os corpos levitam, as almas flutuam. Os seres transitam, as estrelas se orgulham. Há que se orgulhar do espectáculo que queremos montar. A rua é nossa, foi nossa e será passadeira vermelha desta e de tantas outras alucinações. Afinal, será sempre assim...desde que saibamos ouvir os nossos corações. Almas caminham, vozes despertam. Sentimos o frio, as mãos se apertam. O caminho é longo, o destino mágico. A maioria se queda pela magia de tal rochedo, o qual para muitos é ainda um segredo. Há almas que deambulam e seguem caminho. Vão tentar a sorte em busca de vinho. Regressam felizes e com sede no paladar. As almas já juntas só querem comemorar.

Saltam as rolhas, enchem-se sos copos. Brinda-se à vida, ao dia e à noite. E de noite em noite lá fomos. Falámos e fomos falando. Uns respondendo e outros perguntando. Uns correndo e outros caminhando. Falou-se, parou-se e à berma encostou-se. Do nada e do tudo falou-se. O frio veio e lá se instalou. A loucura do grande vazio tudo tocou. Baco queria tomar conta da situação. Mas coitado, mal ele sabia que era alucinação...

Alucinados estavam eles. Os quais afinal éramos nós. Os quais, apesar de muito unidos, pareciam sós. Cada qual traçando a sua meta, cada qual seguindo à velocidade de poucos nós. Uns seguem mais depressa, outros ficam para trás. Há coisas que então são descobertas. E depois da descoberta, zás...nada mais será como dantes. Nem mesmo o carvão que dá origem aos diamantes. Sabem-se segredos, descobrem-se verdades. E nem foi preciso zangarem-se as comadres. Ouvem-se histórias, assumem-se fetiches. Deus lá de cima nos olha e considera-nos uns fixes.

Seguimos rumo ao local da partida. Afinal, é mesmo assim o rumo da nossa vida. Voltámos sempre ao local do crime. E assim fizemos, mais satisfeitos do que quando partíramos. Mas ainda havia história a ser escrita. E lá se escreveu em tons de negro, pois a falta de luz guarda melhor um segredo. Aos poucos as almas regressam aos lares que tanto veneram. Há despedidas que não se esquecem, há figuras que não se desvanecem. Louco, louco, louco...e agora, pouco a pouco, sinto e pressinto algo. Sei que algo se passa. Mesmo depois do que se passou. Há almas inquietas, alguém me alertou.

O fogo alastra, o ser quase se arrasta. A chama consome a sua metade homem e nada quer poupar. A alma clama por ajuda e pela brisa começa a chamar. A brisa resiste e não insiste em vir. A chama então começa a sorrir. O ser que não sabe o que está a passar pede a Deus que o ilumine e Ele, a ele, passa a iluminar. Há coisas que passam e não querem seguir sem um rasto deixar, sem uma lágrima fazer cair. Há almas que sentem muito mais do que o ardor. Sentem fogo, sentem brasas. Sentem minutos de horror. Passados uns minutos e tudo afinal não passou de um mau bocado, algo estranho e sobrenatural. As almas envolvidas seguem então o seu caminho. Cada uma segue o seu rumo, protegida por Deus e pelo seu carinho.

Caio na cama e julgo que vou descansar. Mas afinal acordo e vejo que, afinal, estava a sonhar...

PS- este é um relato onírico, mas original...

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