Monday, November 12, 2007

Conversas...


É fim-de-semana. Há pessoas que regressam aos lares, há pessoas que procuram outros caminhos, há pessoas que não regressam nem procuram nada, e há pessoas que, sem motivo aparente, reúnem-se e juntam-se. Agrupam-se e manifestam as suas opiniões. Falam, debatem, discutem e opinam. Por tudo e por nada. Sobre o tudo e sobre o nada. Argumentam em prol da vida tão ardentemente como desejam afastar a morte. E no final, eis que tudo se falou e nada se discutiu. Tudo se tocou, mas quase nada se sentiu.

Não critico. Afinal sou, fui e serei parte integrante deste tipo de ajuntamentos. Aliás, sou apologista e forte incentivador deste tipo de situações. Mas quero mais. Preciso de mais. Porque há conversas que precisamos, nós, seres humanos, de ter. Porque há sensibilidades que se devem tocar e há susceptibilidades que se devem ferir. Pelo bem da vida, pelo bem do progresso humano e pelo desenvolvimento intelectual de cada um de nós...

Há conversas que nos escapam por sob os dedos. Há coisas que não ousamos falar porque pura e simplesmente não sabemos, ou queremos, quebrar tabus. Há quem não aceite que a morte é uma passagem para outra fase melhor, mais pura e elevada da própria vida. Há quem não aceite que se morra feliz, caso assim tivesse de ser, aos 26 anos. Há quem se recuse a se auto-definir (sim, eu mesmo...). Há quem não saiba como ou por quem se daria a vida. Há quem não ouse discutir o Amor enquanto força motora de tudo quanto é vida. Há quem isto e quem aquilo...E no fundo, de que vale tudo isto? De que valem estas conversas? De que valem as caminhadas? De que valem as idas a becos recônditos em busca do néctar dos deuses? De que vale a sobreposição de vozes em catadupa?

Sinceramente, vale muito. Muito mesmo. Vale muito, pelo menos para mim. Porque assim cresço, conheço e percebo melhor o ser humano. Ou melhor, tento perceber melhor o ser humano. Acho que nunca irei compreender totalmente esse animal que nós somos. Mas pronto, ainda não é hora disso. O que importa é que nas conversas podemos ler nas entrelinhas. Nas conversas podemos sentir um pouco do aroma e da essência de cada um dos intervenientes. Nas conversas encontramos vestígios das nossas raízes e das marcas que outros deixaram em nós. Nas conversas podemos decifrar a mais frágil das almas e o mais destemido dos seres. Nas conversas podemos alcançar o limite do ilimitado, podemos indagar e ser indagados. Nas conversas podemos até conquistar o olhar de quem evita olhar para nós. Nas conversas vemos o reflexo do que somos, fomos e poderemos vir a ser...

Mas, e porquê só ao fim-de-semana? Falta de tempo? Ou falta de gestão de tempo? É certo que dormir é saudável e indispensáel, mas será assim tão importante dormir 10, 12 ou 14 horas por dia? Para quê? É no onírico que pensam encontrar as respostas para a vida? Se assim fosse, haveria um 11º mandamento a dizer "Dormitai o máximo que puderdes, pois no sono encontrarão o caminho para os segredos da vida"...Qual a mais valia de horas e horas enfiadas numa sala, num escritório, etc?

Enfim, se eu soubesse a resposta a tudo isto, talvez não estivesse para aqui a dialogar sozinho, a debitar estes pensamentos na blogosfera à espera, ou não, que alguém se decida importar e fazer desta minha luta, a sua luta. Não é que esteja à espera disso...Aliás, neste momento não espero nada. Mas gostava que houvesse mais gente a preocupar-se com a desumanização da Humanidade. Gostaria que os Telejornais abrissem os seus noticiários com notícias do género "Interacção pessoal e debate livre de ideias passa a ser ensinado desde o 1º ciclo". Ou "Governo prepara nova legislação sobre pensamento livre"...Seria muito bom. Muito bom mesmo. Não para mim, é claro. Aliás, também para mim, é óbvio. Mas seria a Humanidade a principal vencedora.

Pois é através do confronto de ideias que se avança. Na vida, na ciência, na política, no amor, etc...Mas falo de um confronto de ideias são, claro, desprovido de interesses e de jogos, joguinhos e joguetes. Falo de um confronto de ideias à Sócrates (o filósofo, como é óbvio), à Platão, à Descartes, à Karl Marx, à Che Guevara...à Laurindo Filho*...Falo de um confronto de ideias em que tudo é passível de ser aceite e em que nada deve parecer absurdo. Só assim poderemos evoluir. Só assim poderemos almejar alcançar um estado mais avançado em termos intelectuais, mentais e espirituais. Não sejamos tacanhos ao ponto de não aceitar o que desconhecemos. Não sejamos patêgos ao ponto de menosprezar esta ou aquela teoria menos visada, conhecida ou divulgada. Até porque nem todos podem ter o mesmo conhecimento.

No fundo, e agora que estou prestes a concluir esta minha tese, digamos assim, páro, leio e releio tudo o que para trás deixei escrito, e só me apraz comentar o seguinte: Bah, isto são só conversas...

PS- Percebem?


* Não levem a mal, mas eu sei o porquê de ter dito e escrito isso...e um dia vocês também saberão...

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