Sunday, April 27, 2008

(In)Diferente...


A atmosfera parece estar a mudar. Sinto algo de diferente a cada passo que dou, a cada esquina que dobro, a cada pessoa que cumprimento. Não, não é nada motivado pela pessoa com quem falo ou com o pavimento que lenta ou apressadamente vou calcorreando…

Sou eu…eu estou diferente. Para melhor ou para pior? Depende das perspectivas. Na minha perspectiva, estou…diferente. A noite já não é a mesma para mim; a alvorada assume outros contornos; nem tudo merece ter um princípio, um meio ou um fim; lá fora tanto se ouve o chilrear de um passarinho como o grasnar de um bando de corvos…

Com isso assumo a diferença que em mim se faz sentir. Sinto-me indiferente à indiferença. Sinto-me pertencente à classe dos “sem pertença”. Sinto-me habituado a que me julguem pelos actos presentes e pelas faltas ausentes. Com isto, acabo por notar que algo em mim muda, que algo em mim surge, vai, vem, parte, regressa e torna a partir sem deixar rasto…

E tão-pouco procuro eu esse rasto. Não sinto a mínima vontade de o procurar. Dizem que faço mal, que deveria procurar saber o que seria. Ou será. Ou poderia ser. Mas não. Recuso-me. Afinal, estou diferente, sou diferente. E também me sinto indiferente…

Não, esta indiferença não é a mesma dos que já nada querem, nada ambicionam e nada desejam. A minha é diferente. A minha é minha, é única e é bonita. A minha indiferença é o meu bote de salvação, é a minha escapatória para uma vida que, por vezes, parece condenada a não ter glória. A minha indiferença é o que me mantém por aqui nestes dias…

Com ela ouço as palavras que nunca disse e que nunca soube calar; ouço os sons que sempre quis ouvir, mas nunca soube decifrar; ouço as ondas que rebentam por aqui mesmo que não tenha eu um mar; vejo os traços de quem um dia, sem querer, ousei beijar; sinto os braços de quem um dia me soube embalar; toco na alma de quem um dia ousadamente quis amar…

A atmosfera parece estar a mudar. São os ventos de mudança que, talvez, se façam anunciar. Não sei que novas trazem, nem sei se trazem alguma coisa. Sei apenas que para algo hão-de servir. Quanto mais não seja para varrer o que não precisar de cá ficar e para transportar até algures a mensagem que, sem saber qual é, poderá servir a alguém ou chegar a ninguém…

Mas chegue onde chegar, vá para onde for, há uma certeza que fica no ar: o rasto que não quero seguir, atrás de mim há-de continuar. Não tem nome, não tem rosto, não tem cheiro e não tem cor. Mas eu sei onde ele está, sei quem ele é e sem qual a sua cor. Um dia chegaremos lá, onde o seu nome é, no fundo, o meu destino. Um dia chegarei ao Amor…

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