Friday, April 18, 2008

Sons...


Tão perto e tão longe. É assim que hoje me sinto. Sinto-me perto de mim e longe do meu eu. Sinto-me longe do mundo que um dia alguém me prometeu. Sinto que sinto que não sei o que sente este que, hoje, é o meu próprio eu…

Mas afinal, o que é o perto e o longe? Como se mede a distância dos sentimentos? Como se sabe até que ponto existe um longe ou um perto naquilo que sentimos e percebemos? Mede-se pela dor, pelas lágrimas, pela soturnidade? Ou medir-se-á antes pela sensação de que há e haverá sempre um perto e um longe, talvez até à eternidade?

Não, não estou dorido, nem a chorar, nem tão-pouco soturno. Estou antes cansado, moído e dormente. Também reina em mim alguma tristeza, alguma apatia perante a chuva que continua a cair não só lá fora, como também sobre e em mim. Sou o reflexo das nuvens que encobrem o sol, sou a extensão das águas que caem do céu e inundam ruas, vielas e calçadas, sou como que o uivo do lobo que se ouve, ecoa e se escoa ao longo das madrugadas…

E mesmo que esse eco se propague para longe, a distância continuará a ser subjectiva, quase que surreal. O eco pode ser mais audível lá para onde vai do que aqui de onde foi. E isso não se explica. Apenas acontece, tem lugar e sucede. E é nessa sucessão, nesse encadeamento de situações, de ecos e gritos, que tudo assume a forma disforme que, por vezes, se torna uniforme. É nesse emaranhado de reverberações que se tornam inaudíveis, mas perceptíveis, as ânsias, as mágoas e o bater desses corações…

Sim, porque batem os corações, batem esses órgãos tão simples e complexos, esses seres cujos intuitos, por vezes, parecem desprovidos de nexos. Não que o coração tenha que bater com outro objectivo que não aquele para o qual nasceu. Não que o coração tenha que ser mais do que o próprio eu para o qual nasceu. Não, creio que não. Mas talvez pudesse ser menos enigmático, menos misterioso, menos inquietantemente inquietante. Mas pronto, há que aceitar…há que continuar a medir a distância e o valor de longe e do perto…

Porque ambos continuarão a existir, ambos continuarão a ser o que são: conceitos inquantificáveis, impossíveis de aquilatar, concretamente abstractos e gradativamente redutores de tudo o que é e deixa de ser importante quando falamos de sentimentos…

Talvez por isso me sinta assim, tão longe e tão perto. Talvez por isso sinta que, enquanto a chuva cai, estou em plena travessia do deserto. Talvez por isso o coração bata longe, muito longe, demasiado longe. Tão longe que quase não o ouço, tão longe que mal dou por ele…

E se porventura o seu bater ressoa e ecoa novamente até mim, eis que dou comigo a rir, eis que dou comigo a chorar…por não saber se tal som voltarei a ouvir….se tal som me voltará a tocar…

1 Comments:

Blogger Nês said...

Mais uma vez, um texto que me toca especialmente...

Não vou dar-te, de novo, os parabéns, porque já sabes o que penso em relação ao teu jeito para escrever...não é para todos nem para qualquer um!

Mas, ainda assim, há textos e textos...e este é, sem dúvida, um dos que deixa as "borboletas no estômago", como sempre digo, a bater asinhas...porque me revejo!

Bjinh

11:58 PM  

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