Thursday, May 01, 2008

Um olhar...


Muito mais do que todas as palavras ditas entre nós, são as que ficaram por dizer que acabam por pesar. São elas que contribuem para este meu estado de pseudo-neurose, no qual não distingo a ténue fronteira entre a insana sanidade e a sã demência que parece ir e vir ao longo dos meus dias…

No fundo, são as frases inacabadas, os gestos suspensos, os beijos não dados e os olhares entrecortados que me fazem pensar no porquê de toda esta situação, no porquê de tudo o que é e deixa de ser, mesmo que não sendo, mesmo nunca tendo sido…

E daí à ideia de ilusão, é um pulo. Rapidamente dou comigo a interiorizar que me iludi, que me deixei enredar nas minhas próprias alucinações e nos meus próprios devaneios…

Mas então…e os cheiros? E os beijos? E os abraços? E os olhares, os sorrisos, os toques, os risos, as lágrimas, as aventuras e desventuras? Afinal, aconteceram ou não?

À distância a que me encontro, já pouco ou nada sei. Tenho em mim registos, tenho comigo algumas provas que me parecem irrefutáveis. Mas e daí? De que vale essa irrefutabilidade, essa certeza quase imutável de que, afinal, um dia fui são, estive lúcido e realmente senti o que penso ter sentido, vivi o que penso ter vivido, beijei quem penso ter beijado, abracei quem penso ter abraçado?

Enfim, restam-me esses registos, não é? E que belos registos…às vezes torno-me realizador de cinema das minhas próprias recordações, das minhas próprias lembranças. E então começo a rever tudo, a sequenciar tudo de maneira a ver o filme do que vivi…ou penso ter vivido…

Durante o tempo em que o “filme” roda, na plateia só me encontro eu. Eu e mais ninguém. Não sei se gostaria de estar acompanhado aquando desta maratona de longas ou curtas-metragens que é a minha vida. Talvez até deseje companhia…

Mas não há cachet nem plafond para um tapete vermelho por onde possa passar a estrela principal, não há camarote nem hotel cinco estrelas que possa albergar a companhia desejada, a companhia pretendida…

Porquê? Não sei….Pode parecer ilógico, mas não sei. Mas como há tanta coisa que não sei, esta é apenas mais uma delas. E enquanto isso o filme vai rodando e as cenas vão passando, vão ganhando vida e vão fazendo com que ficção e realidade se misturem mais uma e outra vez…

Muito mais do que as palavras ditas, são as que teimo em calar que hoje me fazem falar, me fazem escrever e me fazem pensar. Por isso mesmo me encontro agora aqui, perante o mundo, pronto a me confessar:

Estou ciente que as lágrimas que ainda não sorri são como os sorrisos que nunca hei-de chorar…e se um dia quiseres saber onde estás então em mim, procura-te nos meus olhos, pois lá encontrarás a beleza do teu sorriso…reflectido no brilho do meu olhar...

Um dia chamaram a isto doce ilusão…que giro…e eu que ainda creio que isto é amar…

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