Thursday, January 24, 2008

Afinal...



Queria saber o que dizer. Queria ser sábio o suficiente para poder dar a cor do passado a este presente sem futuro aparente. Queria saber como colocar o ponto no i, sem ter que recorrer ao que sei que cada um sabe de si. Queria saber estar e saber ser o que não soube nunca ser nem estar. Queria ousar como um cobarde que nada teme e que não se importa se a sua alma arde. Queria estar ali, exactamente ali e agora. Queria estar dentro sem ter que me sentir de fora. Queria ser razão, cognição e conhecimento, queria ser água, luz e alimento…

Gostava de saber o que dizer. Gostava de saber o que sentir. Gostava de perceber o que me leva a rir quando o nada já se foi e o tudo está por vir. Gostava de atentar na generalidade dos pormenores gigantescos que marcam a nossa insignificância. Gostava de saber porque pensarão que estou triste ao escrever isto, quando estou alegre e mais não sei do que isto. Gostava de acreditar que não farão juízos de valor sobre tudo e sobre o nada, sobre o que quer que for. Gostava de pensar que não haverá assimilações e associações, que não haverá quem comece a pensar em um ou mais corações…

Julgava saber o que dizer. Julgava saber como exprimir esta falta de sabedoria que afecta o meu dialecto escriturário. Julgava estar apto a esta ausência de presença, bem como a presença da ausência. Julgava ser o mais fraco de todos os fortes e o mais forte de todos os fracos. Julgava saber que o Homem descende de Deus, do Universo e dos macacos. Julgava saber que há coisas que são como o respirar: basta apenas começar…

Pensava saber o que dizer. Pensava que o pensamento pensante era pensativo o suficiente. Pensava que a voz falava por nós quando um de nós estava ausente. Pensava que via a silhueta de quem não está, esteve ou estará. Pensava sentir o perfume da Primavera que atravessa o Outono do Inverno do Verão que nunca chegará…

Sabia que não sabia o que dizer. Sabia que os dias passam a correr. Sabia que enquanto uns nascem, outros limitam-se a desaparecer. Sabia que a noite se complementa com a aurora que raia no crepúsculo de cada dia. Sabia que só sabia que nada sabia…

Sentia que não sabia o que dizer. Sentia que nada ganho quando a aposta não é para perder. Sentia que nada fazia se limitasse o meu ser a menos ser e a mais parecer. Sentia que tudo o que sinto resulta do entendimento do que não pressinto, mas que julgo ser verdade quando a mim mesmo minto…

Enfim, queria escrever algo…gostava de escrever algo…julgava que ia escrever sobre algo…pensava que ia escrever sobre algo…sabia que ia escrever algo…sentia que ia escrever algo…

Mas mesmo assim não sei se disse tudo. Não sei se quem falou foi o meu “eu” falante ou se desta vez imperou o meu “eu” mudo. Não sei se fui azarado ou sortudo por ter apostado em nada, esperando acertar em tudo. Não sei se encontrei o que nunca perdi ou se perdi o que nunca encontrarei…

Apenas sei que algo fiz…que algo tentei e se o tentei foi porque o quis…e se o quis foi porque gostava, julgava, pensava, sabia e sentia…

Afinal…afinal até sabia o que sem querer, dizia o que mais queria…

3 Comments:

Blogger Vanessa said...

"O jovem diz o que pensa. O velho pensa o que diz"
Mário Silva Brito

1:53 PM  
Blogger MI said...

afinal...(h)á final?hum...

1:54 AM  
Blogger MI said...

afinal escolheste outra imagem...gosto mais desta;-)

1:54 AM  

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