Divagação...
Hoje não sei sobre o que hei-de escrever. É estranho estar perante o PC e ver que ele espera de nós o mesmo de tantas outras noites: mais um texto, mais umas palavras, mais qualquer coisa. Até parece que estou a falar do ser humano…
Mas, de facto, não sei o que escrever hoje. Sinto apenas uma necessidade premente de dar asas aos meus dedos e deixá-los guiarem-me por entre os labirintos do meu pensamento. Então…se são labirintos, como é que saio? Aliás, como é que entro? Bem, creio que isso agora pouco importa. Até porque, pelos vistos, já entrei. Não sei onde estou nem o caminho a tomar. Sei apenas que estou algures por aí, a fazer algo…
Talvez esteja onde queria estar e não posso. Ou onde podia estar mas não quero. Quiçá estou com quem quero estar e não posso. Ou então com quem posso estar e não quero. Às tantas até estou a fazer o que quero e posso. Ou se calhar…se calhar estou a fazer algo que não quero e não posso fazer. E vai daí, até sei o porquê de tudo o que faço sem poder, mesmo não sabendo os porquês de todo o porquê que me legitima o que posso fazer…
Efectivamente, já nem sei o que estou a dizer. Aliás, sei. Sei que divago e que me disperso. Sei que estou longe, estando perto. Sei que sinto a dormência da minha própria ausência em mim. Sei que procuro avistar mais além e, felizmente, não vislumbro o fim. “O fim de quê?”, pergunto eu. “O fim do que teve princípio”, respondo eu. “Mas porque procuras o fim se ainda estás a meio?”, indaga-me o meu ser. “Realmente…tens razão…”, acabo eu por responder.
E eis então que surgem umas cataratas belíssimas. O som da água a bater nas rochas, quase à velocidade da Luz, é espantoso. O arco-íris que se vê a meio da queda de água é lindíssimo. A brisa que sopra algo ruidosamente parece falar comigo. Eu paro, ouço e escuto. “Realmente estás a meio…”, diz a brisa. “A meio de quê?”, pergunto eu, algo receoso. “A meio de tudo o que possas imaginar…e do que possas desconhecer”, responde a brisa. O seu som sibilino é engraçado e cativante. Sinto-me tentado a continuar o diálogo. “E o que queres que faça agora que sei que estou a meio de tudo o que possa imaginar e desconhecer?”, digo-lhe cuidadosamente. A brisa sorri. Sorri e dá uma leve gargalhada. E a seguir responde-me: “Fazes o que quiseres. Como sempre foi o teu percurso até agora. No entanto, independentemente disso, o resto do caminho far-se-á por aqui…”. “Não percebo”, respondo-lhe eu. “Ai, não?” diz a brisa com algum desdém. “Tens que descer pelas cataratas se quiseres prosseguir o teu caminho. E se não fizeres, serás mais um diletante…Ficarás a meio de tudo…”. E com isto desaparece.
De repente, não ouço mais nada. As cataratas continuam a correr, mas silenciosamente. O ar torna-se seco. Ouço apenas e só o latejar das minhas veias a pulsar. O suor escorre-me pela cara. Não percebo o porquê de tudo isto. Primeiro sentei-me em frente ao PC porque queria escrever, mesmo não sabendo o quê. Depois perdi-me nos meus próprios labirintos e quando dou por mim, vejo uma paisagem magnífica e paradisíaca. Penso que estou num conto de fadas (e não de Inverno), mas acabo por ser interpelado pela brisa. E depois de um ligeiro diálogo, sou informado de que tenho que saltar para seguir caminho ou parar ali e ficar a contemplar o que poderia ter sido…
Ainda tento falar com os meus “eus”, mas eles entraram em black out. Também não me falam. Não me respondem. Parece que estou sozinho. Olho para o céu. Olho e procuro ver algo que me dê um sinal ou algo que seja um sinal. Começo a falar com o meu Pai lá de cima. Durante alguns minutos trocámos ideias e debatemos argumentos. Como sempre, são mais que muitos os seus ensinamentos. Findo o diálogo, falo com o meu coração. Ausculto a minha alma. Indago o meu espírito. Ouço tudo de todos. Mas no fim, a decisão é e será sempre minha. E é isso mesmo que me preocupa…
Quantos estão ou estariam dispostos a saltar numas cataratas “apenas e só” porque é essa a chave para a conclusão dos seus projectos, dos seus sonhos e das suas ambições? Quantos seriam capaz de desafiar uma queda de centenas de metros, a uma velocidade vertiginosa, “simplesmente” para poderem finalizar o que um dia teve princípio e agora que já vai a meio pode nunca mais ter fim? Quantos ousariam um rendez-vous com o perigo de um mergulho desta índole “só” por causa de mais uns anos de trabalho, de entrega, de luta e dedicação?
Estou imóvel. Parece que ganho raízes à rocha sobre a qual me sento a cada segundo que demoro a decidir. Ainda só se passaram 5 ou 6 minutos, mas parece que estou ali há séculos. Tenho que decidir. Preciso decidir. Não posso não pensar na decisão. Há que ter tudo em conta: alma, cabeça e coração…
Nunca fui de negar brigas. Sempre adorei um grande desafio. Até hoje tenho sido abençoado por Deus com algumas conquistas e algumas vitórias. E também tenho tido a sorte de conseguir superar os obstáculos mais difíceis e de conquistar as coisas mais improváveis. Mas isto…até mesmo para mim isto parece-me…demasiado???
E torno então a olhar para mim. Vejo-me e revejo-me. E faço o filme da minha vida. Acredito que sim. Que sou capaz. Mas estou indeciso. A maior ânsia é aquela de quem tudo quer e nada pode. Mas…querer não é poder? Não! Não é…mesmo que a populaça diga o contrário. Querer não é poder. Mas eu quero. E eu posso querer…Certo? Porque não? Nada me impede. Sou livre. Eu quero, sim senhor. E mesmo que não possa ou não deva, quero continuar a querer. Vou querendo a benquerença de querer o que nos é querido, de desejar todo o fruto proibido, de desafiar as leis do Cupido, de ir atrás do que foi prometido e ainda me é devido…
Vejo com clareza o negrume da água lá em baixo. A espuma tem tanto de tão bela e pura como de esmagadora e arrepiante. O Sol tosta-me a pele e a minha boca já está ressequida. Surge-me um pensamento que não contava que me surgisse mais. Mas que raio? Será que até neste momento não me deixas em paz? “Não sejas tolo, sou eu…o teu próprio eu”. Fico baralhado. Por momentos não sei que dizer. “Vim aqui só para te deixar isto, este pequeno pedaço de papel”. Pousou-o na rocha e desapareceu…
Julgo estar a ficar insano. O que mais me falta acontecer? Agarro e leio o papel. Aquelas palavras…aquelas palavras eram conhecidas. Haviam já sido imensamente proferidas por bocas mais e menos queridas. Mas o que importa isso agora? Importa sim que aquelas eram as palavras que eu precisava de ouvir para ser ainda mais assertivo. E devido a estas palavras, “(…)e pior não há do que acordar e ver que não se viveu, não se sonhou e só se morreu!”, saltei…Mergulhei de cabeça e saltei…
Ao longo da descida…(suspiro)…ao longo da descida vi rostos que não julgava tornar a ver tão rapidamente; senti cheiros tão intensamente como quando os sentia no antigamente; acariciei peles cujo odor e suavidade, só por si, me trouxeram Felicidade; tive na boca beijos carregados de desejos de um outrora entretanto ido, mas sempre presente e nunca fingido…Ao longo da descida senti que desci ao fundo e aos confins do Mundo. Senti que me dirigia para o centro da Terra. Era como que fosse à procura dos segredos que ela encerra. Ela? Ela quem?
O embate é tão intenso que penso que este pensamento já não me pertence. Mas só me pode pertencer. A mim e mais ninguém. Continuo a ir ao fundo. A luz já quase não se faz notar nesta zona. E procuro então vir à tona. A subida é feita a pulso. Sei que posso lá chegar. E vejo que estou cada vez mais perto da Luz. A Luz que me guia de dia e de noite. A Luz que não deixa nada nem ninguém me açoite. Seja o corpo ou a alma. A água agora parece mais calma. Aos poucos os sons tornam-se audíveis. Porém há dores que sinto no corpo que são horríveis. Quero gritar, mas ainda estou submerso. Quero respirar, mas ainda estou na água. Ah, mas que mágoa…
Mas chego ao meu destino. Pelo menos, imediato. Esse é mesmo o mais puro facto. Já não estou aflito com a água nos pulmões. No peito parecem bater cem corações. Se assim fosse, seriam tantas as paixões. Mas mais não são necessárias. Já me bastam as diárias. As diárias, sim. Porque sou um apaixonado pela vida. Apenas por isso saltei…apenas por isso arrisquei…
Alcanço a margem que me dá acesso à minha própria miragem. A que me refiro? À vida. Porque se ainda só vou a meio, não colho tudo o que semeio. E se ainda tudo não colhi, é porque o futuro ainda não vi. E se não vi, posso considerá-lo uma miragem. Não como aquelas do deserto. Não, porque sinto que estou cada vez mais perto. De tudo e de todos. Da Terra e do Céu…
Sigo então caminho. E sei que não estou sozinho. Estou com quem quer estar comigo, seja amigo ou inimigo. Estou com que estou, estando mesmo sem estar. Vou caminhando um caminho que só a mim compete trilhar, mas comigo levo gente, sentimentos, saudades e recordações para um dia mais tarde poder recordar. Sigo e vou seguindo sem saber por onde vou. Mas sigo na certeza do que quero, de onde vim, de onde parto e do que realmente sou. E como diria Fernando Pessoa “Aqui ao leme sou mais do que eu; Sou um Povo que quer o mar que é teu; E mais que o Monstrengo que a minh’alma teme; O Monstrengo que habita nas trevas do Mundo; Manda a vontade que me ata ao leme; D’El Rei D. João II”. E aqui não há monstrengos. Nunca houve nem haverá. Importa sim o caminhando que se faz caminhando, pois o amanhã tarde ou cedo chegará…
Já fui. Já nem sei onde me encontro. Enfim, como sou tonto. Acabei por ter mais um desencontro. O que vale é que existe este conto. Mas qual conto? Então, mas isto não se passou? Isto não aconteceu? E estas linhas: quem as escreveu? Terei sido eu? Estranho…eu que até nem sabia sobre o que escrever, acabo por ter em mãos algo que não sei quem foi o autor. Mas a ele dou-lhe o meu louvor. A ele dou-lhe nota dez. Não, nota vinte. Melhor ainda: dou-lhe nota cem. Porquê? Porque ousou, e continua a ousar, o que poucos sabem saber e apreciar: ousei ir mais além…
Nota do Autor: Há um prémio para quem adivinhar quanto tempo este texto demorou a ser encontrado…E para quem responder ao que se segue…
PS- Reparem na imagem. Mas reparem bem. Vêm algo mais do que o fogo e um homem envolto nesse mesmo fogo?
PS 2- Como interpretam esta imagem?
4 Comments:
Ainda bem que arricas-te é isso que se quer... E ainda bem que seguis-te o teu caminho, aquele caminho... Aquele trilho que muitas pessoas gostariam de conseguir trilhar e não o conseguem...
Quanto as respostas... Na primeira conhecendo te como te conheco aposto em 20 minutos... Nas outras eu para mim a foto é muito mais que um homem envolvido no fogo, é como que um "buraco negro" que nos transporta para outra galáxia, que nos transforma noutro eu, no eu do nosso outro mundo que acredito que existe... O buraco negro que nos iria indicar o nosso trilho mais correcto a seguir...
A minha aposta vai para: uma Mulher.
A minha aposta vai para uma pessoa (homem ou mulher) envolta no fogo da paixão que apesar de ser interessante e irresistível só a arrasta para um fundo negro...
Não gosto muito de adivinhas mas aceito o desafio!
Não acho que vá acertar...nada é 100% certo mas...demoraste quase uma hora?
O primeiro impulso diz-me que são duas alianças de fogo que se estivessem sobrepostas encaixariam perfeitamente. No meio delas alguém controla a chama e a sua posição...esse alguem esta acente na terra mas olha o ceu...
no fundo existem duas manchas que parecem ser arvores...o q importa é k acho que se separam as duas metades...diria que cada anel de fogo pertence a uma das margens, mas que se se unissem podiam seguir o mesmo caminho...que como é escuro...seria sempre uma incognita!...fiz o q pude!
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