Friday, February 01, 2008

Dor...


Dói-me…

Dói-me a alma. Sinto-a dorida depois de tudo e de nada, depois do amanhecer e da madrugada. Sinto-a fraquejar cada vez mais por não poder ser mais e mais do que aquilo que eu próprio exijo a mim mesmo. Sinto-a debilitada ao ponto de não querer mais alcançar o fim da estrada. Não por temer o fim, mas por saber que já não tenho forças em mim…

Dói-me o coração. Dói-me este pedaço de mim que procura dizer o sim através do não. Dói-me esta área tão pequena e tão gigantesca que guarda memórias desta minha vida pitoresca. Custa-me ouvi-lo chorar sempre que não ouve aquela melodia ou quando não sente aquela fragrância. Custa-me saber que respira com dificuldade apenas porque me encontro num além mais além que a Eternidade…

Dói-me todo o meu ser. Dói-me tudo o que pode ser e não ser. Dói-me tudo o que procura ver e querer o que se quer por se poder ter, mesmo que não se tenha o que se pode ter, mesmo que veja o que não se tem, tendo-o mesmo sem querer…

Doem-me as madrugadas preso à ilusão de que não tenho coração. Doem-me as horas passadas em branco, seja deitado na rua, na cama ou num banco. Doem-me as lágrimas que escondo por saber que o que tenho nada tem de hediondo. Dói-me o peito por ter sido eleito por mim próprio para defender uma verdade que mais parece uma mentira de Pinóquio. Magoa-me ser e estar a ser o ser que está porque tem de estar, mas que não deveria gostar se não está a ser o que gostaria de ser e de estar…

Doem-me as lágrimas que não derramo com os olhos. Doem-me as dores que em mim aparentam ser aos molhos. Dói-me o ver-te e o contemplar-te numa esfera mais longe do que daqui a Marte. Dói-me saber que escolhi a dor como caminho para poder enfrentar isto sozinho…

Dói-me saber que já nada temo. Nem a vida nem o perecer. Dói-me saber que o que mais quero é acabar com a dor que escolhi fazer-me doer. A mesma que sei que há-de continuar…aconteça o que acontecer…

Dói-me estar aqui a escrever sobre isto. Dói-me não poder desabafar sobre isto. Dói-me saber que choro compulsivamente e que a cada letra a dor me deixa mais dormente. Dói-me saber que escolhi a sofreguidão como forma de apaziguamento deste meu coração que já nem diz que sim, nem diz que não…E nada diz porque pouco lhe importa o como e o porquê de se ser feliz…Logo o objectivo que eu sempre quis…

Dói-me saber que desejo o que desejo. Dói-me saber que tudo e nada desejo e que tanta tristeza para mim mesmo ansejo. Dói-me saber-me assim. Dói-me saber-me no princípio do fim de algo que nada nem ninguém pode imaginar. Dói-me saber que nada nem ninguém me pode ajudar…

E será que será mesmo assim? Eu sei que sim. Mas os que crêem que me podem ajudar que se cheguem a mim. Que me guiem e que me mostrem que a falta de caminhos não significa o fim. Que me demonstrem que estou errado e que vale a pena escolher ser massacrado, torturado, etc e tal…Que me mostrem que ainda há algo mais afinal…

Algo que me faça sair do limbo…Algo que me faça não desejar tal sorte…Algo que me faça ver que a desventura é a face mais próxima da loucura que é a morte que nos faz morrer por dentro sempre que ousamos albergar um sentimento…

Dói-me…Dói-me tanto ser e estar assim…Dói-me tanto saber que mais uma noite se perdeu, que mais uma vez quem se tramou fui eu por querer o que ninguém quis desde Prometeu: o fogo que arde nos olhos de quem não nos encara, o sorriso na face de quem nos olha de soslaio, a expressão de quem nos deseja como os estudantes que anseiam pela Queima das Fitas em Maio…

Não estou sóbrio…Mas não estou ébrio. E se ébrio pudesse estar, não seria de álcool ou de nada do género. Se pudesse estar, estaria ébrio de mim mesmo. Estaria ébrio do meu coração, da minha alma e do meu ser. Estaria ébrio por desejar o que poucos desejam ter: o Fado de ser alguém que estima alguém que não se vê…nem se quer deixar ver…

Por isso, caríssimos, a Dor é minha companheira. Porque sabe que lenha arde nesta minha fogueira. Porque sabe que não consigo suportar isto uma vida inteira, mas que estou disposto a cair de pé. Porque sabe que isto vale o que vale e é o que é. Porque sabe que na Dor tenha a companhia que desejo desde que não tive o abraço ou o beijo que sei não ser descabido, que sei ser por ambos, ou muitos, pretendido…

Dói-me saber que não sei o que será de mim depois de concluir este texto. Dói-me saber se tudo isto não é mais um pretexto para justificar esta minha louca insanidade que agrava-se e apura-se com o avançar da minha idade. Dói-me ter tanto para dizer e não ter ninguém para escutar. Dói-me saber que tenho quase tudo o que preciso e quase tudo o que sempre quis…E mesmo assim falta-me algo poder dizer que sou feliz…

O que falta? Falta não sentir dor na alma. Falta não estar disposto a esperar pela hora que acredito que vai chegar. Falta ser menos humano e mais divino. Falta ser menos divino e mais humano…Falta o que falta a quem sente falta…

Faltas…Falto…Sobra a dor…Que não arranja amigos…E que assusta a malta…

2 Comments:

Blogger Noddy said...

Padrinho as coisas são a importância que nos lhe damos e como eu já te disse eu estou cá, para tudo e para nada... para aqueles momentos bons que toda a gente quer estar mas também naqueles momentos difícies...

Não é por nao haver caminhos que uma pessoa desiste e eu sei que tu não és assim, as forças podem faltar para prosseguir, para escolher o mais acertado, mas é para isso que, eu por mim falo, eu cá estou pronta a dar uma opinião, sim um opinião decisão final tem de ser sempre refectida por ti... Para mim há sempre algo mais afinal… nada acaba por aqui...

Dói eu sei que sim... mas já lutás-te por tanto na vida e é agora que vais desistir de ver esse "fogo que arde nos olhos de quem não nos encara, o sorriso na face de quem nos olha de soslaio..." acredita, crê e reflecte...

E uma coisa te digo "O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo", entendes o que te digo, certo?

1:56 PM  
Blogger Noddy said...

"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o
nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Terminas-te uma relação? Deixas-te a casa dos pais?
Partis-te para viver noutro outro país? A amizade tão longamente cultivada
desapareceu sem explicações?

Tu podes passar muito tempo te perguntando por que isso aconteceu. Podes dizer para ti mesmo que não dará mais um passo enquanto não entenderes as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas na tua vida, a serem subitamente transformadas em pó.

Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: os teus pais, os teus amigos,o teu irmão… todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que tu estás parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças
significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir
embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diz para ti
mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembra-te de que houve uma época em que podias viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerra ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por
soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na tua vida.

Fecha a porta, muda o disco, limpa a casa, sacode a poeira. Deixa de ser
quem eras, e transforma-te em quem és..."

Paulo Coelho

2:50 PM  

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