Saturday, May 17, 2008

Sonhei contigo...


“Estávamos algures reunidos. O grupo estava todo ali – amigos, conhecidos e colegas. Não sei bem a razão que nos juntava desta vez, mas sei que estávamos ali para o mesmo: conviver…

E lá também estavas tu. Não sei se é de estranhar ou não, nem sei se era suposto estares. Também não sei dizer se fiquei surpreendido por te ver ali, no meio da malta. Às tantas também eras uma de nós…

Pensando bem, talvez até fosses. Pensando bem, a maneira como rapidamente começámos a falar e a interagir leva-me a crer que já devíamos ser amigos há algum tempo. As nossas conversas fluíam, tínhamos sempre assunto e a simpatia e cumplicidade com que nos tratávamos leva-me, agora, a crer isso…

E no meio de tantas risadas, de tantos sorrisos, de tantos olhares, de tantos suaves e ligeiros toques no braço, na mão ou na pele, eis que por um momento ficámos sem assunto. Nada de grave…estávamos a beijar-nos…

Não sei de onde veio o beijo. Quer dizer, não sei de quem partiu a iniciativa. Fiquei baralhado, atónito…afinal, estava surpreendido comigo mesmo. Olhaste-me de uma forma tão meiga e inocente que nem me atrevi a dizer nada. Apenas sorri e segui-te…

Afastámo-nos um pouco do resto da malta. Não muito, mas o suficiente para evitar curiosos. Mais beijos, mais olhares, mais carinhos, e de repente o mundo ganhara uma nova cor, uma nova dimensão. A cada beijo, todo eu tremia. Não, não era de frio nem de medo. Era um tremor bom, de regozijo, de satisfação. Parecia que os nossos lábios haviam sido feitos um para o outro. Parecia que as nossas línguas sabiam exactamente o que procurar nas nossas bocas. Cada canto e recanto das nossas bocas era percorrido com uma suavidade tal que até arrepiava. Suave ou mais sôfrego/apaixonado, os beijos eram divinais. Até nos fazia suspirar. Antes de voltarmos para junto do pessoal, olhaste para mim com a mesma timidez e inocência de há minutos atrás e abraçámo-nos…foi o abraço mais sentido que alguma vez sentira na vida…

De volta ao grupo, sentámo-nos juntos, lado a lado. Eu nem sabia se havia de esquecer o resto do mundo, olhar só para ti e contemplar a tua beleza, ou se havia de tentar disfarçar a alegria imensa e incontrolável que se fazia sentir no meu coração, na minha alma, no meu ser…

E como que adivinhando os meus pensamentos, agarraste-me na mão. Puseste-a sobre a tua, e ambas sobre a tua perna. Olhaste para mim e não disseste nada. Não era preciso…acho que percebi…

Ficámos assim até irmos embora…

Mas, e no meio das habituais despedidas, perdi-me de ti. Procurei por ti e não te encontrei. Perguntei por ti e ninguém me soube responder. Fiquei desolado…Acordei…”


Este foi o sonho que me fez interromper o sono. Hoje adormeci pouco antes das 2h e estava embalado no sono até que acordei. Ao tentar virar-me na cama senti algo de estranho. Era como se estivesse acompanhado, era como se alguém estivesse ali, deitado junto a mim. Virei-me e não vi ninguém. Era impossível estar ali alguém. Há vários meses que durmo sozinho…

Mas, e no meio do escuro que reinava neste quarto, posso jurar que era como se estivesse ali alguém a meia dúzia de centímetros de mim. Sei que pode parecer estranho, mas foi o que senti. Não fiquei assustado nem tive grande reacção. Ensonado, é certo, mas a tentar raciocinar de alguma forma, procurei tentar perceber o que se passava…

Posso garantir que não sei bem o que aconteceu. Mas posso afirmar que quem estava ali, mesmo não estando ninguém, eras tu. Tu, que estiveste no meu sonho; tu, que conviveste comigo alegremente; tu, que tantas vezes me encantaste com o teu olhar doce e o teu sorriso magnífico; tu, que, com os teus beijos, me levaste ao êxtase e ao nirvana em termos de sensações; tu, que com esse teu perfume inconfundível, fizeste-me acreditar que a Primavera estava presente; tu que, com esses teus abraços, fizeste-me sentir a pessoa mais segura deste mundo…

Não sei como nem porquê, mas sei que eras tu. Estavas ali, deitada a meu lado. Talvez a contemplar-me…talvez a querer dizer-me algo…Mas eu não te via, apenas te sentia. Quis falar contigo, tentei falar contigo, mas não obtive resposta. Também não sabia muito bem como proceder, o que fazer…estava a ser tudo demasiado rápido, intenso e estranho…

Acabei por, aos poucos, notar que me deixavas. A ânsia de tentar saber quem tu és, fez-me desesperar. Não me lembrava do teu nome…incrivelmente, não me conseguia recordar do teu rosto…Como é que é possível? Logo eu que tenho tão boa memória…Foste…

Ainda estive uns bons minutos na cama, a olhar para o tecto, a tentar absorver o que me tinha acontecido. Terá sido sonho? Ilusão? Delírio?

Eu sei que sonhei, sonhei com o que descrevi acima. Iludido não creio ter estado. Foi tudo demasiado real, demasiado presente. O teu perfume, a sensação de presença de alguém a poucos centímetros de mim…isso aconteceu…E também não creio ter delirado. Se delirei…bem, se delirei então foi de amor…

Tive que me levantar para escrever isto. Acho que me ocorreu o facto de ao escrever isto, tu poderes tornar a aparecer, poderes tornar a fazer notar a tua presença. Mas tal não aconteceu…

Neste momento, neste preciso instante, tenho os olhos marejados de lágrimas. Gotas de água abundam, jorram e escorrem pela minha face abaixo. Estou triste por não me lembrar de tudo, aliás, do mais importante: de quem és ou eras…


Acredita: dava uns bons anos de vida para poder decifrar este enigma. Tudo porque o que senti contigo foi bom, muito bom. Fez-me sentir vivo, fez-me sentir que ainda sinto, que ainda desejo, que ainda não morri…

Mas não me lembro…

Ainda sinto o teu perfume a pairar no ar. Ainda sinto o doce sabor dos teus lábios nos meus. Ainda sinto a tua pele a roçar na minha, as tuas mãos a percorrem o meu pescoço, os meus cabelos, os meus braços. Ainda sinto o coração a bater…

Não sei como explicar nada disto. Apenas sei que vivi tanta coisa de há umas horas para cá, que até o sono que me embalava se foi. Talvez tenha ido contigo…

Gostaria de saber quem és. Por isso, e se puderes e não te importares, volta. Não quero que voltes por estar com segundas intenções. Quero apenas que voltes para saber quem és, de modo a que te possa procurar nesta vida ou esperar por ti numa outra, se for caso disso. Quero saber se já sei quem és ou se nunca saberei quem és. Preciso…

E até lá, esperando que tal momento chegue, quero te agradecer. Obrigado por me teres acompanhado nas primeiras duas horas de sono em condições que tive ao longo dos últimos quinze dias. Obrigado pelo bem que me fizeste sentir ao longo dessas mesmas duas horas. Obrigado por teres ressuscitado em mim sensações há muito adormecidas. Obrigado…

Sei que não voltarei a dormir tão cedo. Vou esperar que o sono chegue. E rezar para que te traga contigo…

Beijo…

5 Comments:

Blogger Xiuipa said...

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1:18 PM  
Blogger Xiuipa said...

pois é porque será que sonhamos se depois acordamos e vemos que nada é real.
porque será que um simples sonho nos pode deixar tão feliz? e depois essa felicidade evaporar-se de repente quando acordamos.
talvez o sonho seja uma maneira de termos momentos de uma infinita felicidade com a realidade que desejamso ter mas não temos.
não dido que os sonhos não são reais, pois elessão reais, pois nós entregamo-nos a eles por isso mesmo, mas não é uma realidade do mundo, mas sim uma realidade nossa, uma realidade do nosso sono,realidade esta que desaparece ao acordar,apesar de nos lembrarmos dela já não a vivemos como no sonho.
mais uma vez parabéns pelo texto.

1:23 PM  
Blogger Kau said...

tive muitos sonhos desses...mas sempre soube com quem eram...depois foi-se tornando uma ilusão, mais tarde um suplício e por fim um pesadelo que não tinha fim!!!sabes porquê???porque no início sonhei,depois tornei me dependente desses sonhos porque me sentia "viva" e depois quanto mais pedia para sonhar mais esses sonhos se íam com o vento e dei por mim a "olhar para o tecto" porque não conseguia adormecer...pois os sonhos que tanto desejei desapareceram tão velozmente como apareceram...e acredita a queda foi bem alta!!!parabéns pelo texto...é daquelas descrições que faz qualquer pessoa perceber o que sentiste. beijo

8:19 PM  
Blogger Mónica said...

Dizem que o sonho comanda a vida...Por isso n�o deixes de sonhar porque ao fazer isso deixar�s de viver ;)
Ah e pensa bem se vale a pena conhecer o sonho, pode vir a tornar-se pesadelo...
P.S. - cada vez escreves melhor, os meus sinceros parab�ns. Quando for grande tamb�m quero escrever assim :D

4:55 PM  
Blogger Inês said...

"a vida é tão diferente
daquilo que sonhamos
talvez o nosso mal seja acordar

lancei o meu futuro
para lá do firmamento
e agora não consigo lá chegar

estou a sentir
a minha voz perdida no deserto
mas sou quem diz

que a vida deixa sempre a porta aberta
p'ra que eu possa lá entrar
e quem sabe regressar
à mais pura inocência

a vida é tão diferente
dos sonhos que lembramos
eu sei que o nosso mal é recordar

perdi o teu futuro
p'ra lá do nosso tempo
e agora não consigo lá voltar

estou a sentir
a minha voz perdida no deserto
mas sou quem diz

que a vida deixa sempre a porta aberta
p'ra que eu possa lá entrar
e quem sabe te encontrar
na mais pura inocência"

11:42 AM  

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