Wednesday, July 30, 2008

A vida é como um mar...



A vida é como um mar...

Há dias em que as ondas não se fazem sentir, em que a mais breve e ligeira brisa é suficiente para nos fazer navegar, em que há tempo para tudo - para pescar, para apreciar os golfinhos que puerilmente acompanham a marcha do barco, para apreciar o pôr-do-sol e para deixarmo-nos dormitar sob um céu estrelado, repleto de sonhos e fantasias...

E também há dias em que o mar se torna revolto, em que as ondas surgem qual montanhas oceânicas, em que os ventos não sopram, mas sim rugem, lançam temíveis e incompreensíveis bramidos, dias em que o Sol não desponta porque a névoa é demasiado densa, noites em que a agitação é imensa e não podemos descurar o rumo que traçámos inicialmente, sob pena de nos virmos a perder...

Neste momento, estou algures no meio da tempestade. Há cada vez mais e mais ondas a rebentarem sobre o meu barco, há cada vez mais e mais ventos a tentarem impedir-me de chegar ao meu destino, ao ponto que escolhi para poder aportar e descansar, mesmo que por breves momentos, em paz. Neste caso, não falo apenas metaforicamente, falo da realidade pura e crua dos factos, das coisas e das questões que compõem esta minha vida, ou se quisermos, esta minha travessia oceânica...

Já velejei as águas calmas do Atlântico, já me deixei levar pelos mares do Norte, já visitei as baías do Índico, já provei o gelo dos mares do Sul...mas nunca me havia aventurado nas águas do Pacífico. O nome por si só tem o seu quê de engraçado - pacífico, pois claro... - e não deixa de ser curiosa essa nomenclatura. Seja como for, julgo que me encaminho agora rumo às águas do Pacífico Sul, local desconhecido para muitos. Não sei o que me espera, não conheço rotas, não estudei as suas correntes marítimas. Nunca me interessei muito por esta zona dos oceanos por saber que não estava preparado para esta travessia...

Mas quis o destino que aqui viesse parar. Como? Não sei. Porquê? Tão-pouco o sei. Para quê? Não faço a mais pequena ideia. Apenas sei que neste momento já não há tripulação a bordo desta embarcação para além de mim. Aos poucos todos foram saltando borda fora, outros apearam neste ou naquele porto e por lá se estabeleceram. Que fazer, é a lei da vida, não é? E com isto acabei por ficar sozinho, membro único de um barco gigantesco, mas que por vezes parece um mero bote salva-vidas...

Sou Imediato, Grumete e Capitão deste barco. Sou Cozinheiro, Médico e guarda-costas de mim mesmo...É a mim que cabe a difícil tarefa de tentar encontrar a rota certa, o caminho mais seguro e indicado para poder aportar e finalmente pisar terra firme. No entanto, já não há bússola, astrolábio, sextante, já não há nada. Todos os instrumentos de orientação extraviaram-se ao longo desta viagem que já leva...algum tempo...mais do que eu próprio desejara...

Resta-me recorrer ao meu instinto, à minha capacidade (supostamente inata) de orientação, de guia. Só me resta recorrer à Natureza, aos astros e às estrelas. Foi assim antigamente, talvez possa ser assim agora. A minha única salvação parece ser guiar-me pela estrela-guia, pela astro que sempre orientou os marinheiros desde que estes se aventuraram em alto mar. Mas nem sempre consigo ver a minha estrela-guia. Por vezes torna-se difícil encontrá-la, guiar-me por ela. Névoa, neblina, chuva, nuvens, tudo acontece de quando em vez e atrapalha a minha orientação. Talvez por isso me sinta meio desorientado, meio perdido, sem saber muito bem que rumo tomar, que rota seguir...

Nessas alturas dirijo-me aos céus e peço aos deuses que sejam clementes e benevolentes, rogo-lhes que me poupem umas quantas situações mais periclitantes, mais trabalhosas. Peço-lhes que me ajudem, pois as forças são cada vez menores, os ânimos já quase que não existem e torna-se complicado. Umas vezes sou atendido prontamente...outras vezes parece que é pior, que mais valia não pedir nada. A vida é mesmo assim: um dia contamos com chuva e aparece-nos um arco-íris, e noutro dia sonhamos com a brisa e somos abanados por ciclones e tufões...

Por agora, julgo estar a passar no meio de uma zona bastante instável em termos metereológicos. Tão depressa faz Sol como chove granizo, de manhã o barco parece que vai ser devorado pelas ondas e à noite o barco deixa-se embalar sonolentamente na calmia do oceano. Tudo isto faz-me estar preparado para tudo, mesmo não sendo capaz de prever nada...

Aliás, as previsões nunca foram o meu forte. Há muito tempo atrás, muito antes de me tornar marinheiro da vida, eu era um homem da terra firme, uma pessoa que prezava muito bem ter os pés bem assentes em terra e estimava muito essa segurança. Estimava tanto que passei a tê-la como garantida e aos poucos tornei-me náufrago sem nunca ter me lançado a um oceano revolto. Acabei por ser engolido pelas ondas do mar e lançado para bem longe da terra firme. E eu, que tanto prevera coisas para mim e para os meus, eu que tantos planos fizera e que tanto projectara para o meu futuro, dei-me conta do meu erro, da minha incrível ingenuidade e pedi a Deus para que me deixasse sucumbir perante o vaivém constante das ondas. Mas Deus tinha outros planos para mim...

Deus fez de mim náufrago para que pudesse apreciar a salvação, caso a alcançasse e fizesse por merecê-la. E creio ter feito por isso, visto que fui salvo. Certa noite, no meio de um intenso nevoeiro e quando julgava estar quase nos limites da hipotermia, eu vi a luz. Aliás, vi uma estrela, a minha estrela. Inconscientemente, mas como se não tivesse feito outra coisa na vida, deixei-me salvar por ela. Não sei que manobras de reanimação foram entretanto utilizadas, mas a verdade é que, dias depois, todo eu estava restabelecido, pronto para me aventurar naquilo que surgisse, fosse por terra, ar ou mar. Quis o destino que me quedasse em terra por mais uns tempos. E assim pude voltar a contemplar o Sol, os montes, a Lua, as estrelas. Pude voltar a sentir a alegria de viver que julgara extinta em mim e perdida em pleno naufrágio pessoal...

Seguiram-se meses felizes, dias felizes, horas felizes, minutos e segundos mais felizes ainda. Estava de volta ao mundo. Eu era de novo eu, um ser do mundo, que amava o mundo e que sonhava o mundo. Com o passar do tempo pensei e repensei sobre o meu papel e teorizei bastante sobre a questão das previsões. Estive bastante reticente em voltar a querer prever ou planear coisas, mas como a vida só me dava bons motivos e como tudo era perfeito, lá me lancei eu em algumas previsões...

Porém, não é só no alto mar que o tsunami actua, e eu acabei por ser varrido por um imenso tsunami estando em plena terra. Todos os meus planos, todas as minhas ideias, tudo, mas mesmo tudo foi por água abaixo. Não sei se poderia ter previsto isso. Acho que se pudesse, tê-lo-ia feito. Nem tão-pouco creio ter estado distraído ao ponto de me tornar o verdadeiro causador da minha própria desgraça: mais não fiz do que actuar consoante as indicações que recebia de um lugar que poucos conhecem e que quase ninguém ousa a se aventurar...

O certo é que o ditado da montanha e de Maomé ganhou uma nova significação - se Maomé não vai ter com o tsunami, o tsunami vem ter com Maomé...

E quiçá imbuído de uma raiva tremenda contra este tsunami, decidi tornar-me marinheiro. Deixei de parte o amor à terra firme, o apego às previsões mais facilmente perceptíveis dos campos, bosques e vales, e lancei-me numa aventura marítima. Para trás ficava tudo...até mesmo eu...Era também o fim das previsões, dos planos e dos ideiais de futuro...

No início foi difícil habituar-me. Não conhecia mares, rotas, ventos, ondas, estrelas, não conhecia nada. Talvez no passado eu tivesse sido um marinheiro de águas doces, mas agora eu era marinheiro de oceanos. Mas aos poucos lá me fui habituando e comecei a gostar das diferentes rotinas que o dia-a-dia me trazia. A cada porto uma aventura, uma história, uma ou várias conquistas. Em cada mar, nova aventura, novos obstáculos, novas conquistas. E por vezes, no retorno a um mesmo mar, as aventuras duplicavam de emoção, de interesse, de magia...

Doravante, pensei eu, será este o meu futuro - sulcar os mares, conhecer ventos e marés, pescadores e marinheiros, trutas e sereias. E assim foi, de facto, por algum tempo. Contudo, e apesar da excitação de um maremoto à vista, da beleza de uma ondulação mais inconstante, e apesar de ter conseguido reunir um tripulação nobilíssima, faltava-me algo. Comecei a notar isso quando, ao acordar numa bela manhã com um aroma de jasmim enebriante a pairar no ar (estranho, eu sei, em pleno alto mar sentir-se um aroma a jasmim), senti-me esmorecido, vazio por dentro, oco. Julguei estar a meio de uma crise de meia-idade, mas a sensação fez por me acompanhar ao longo de vários dias...

Foi então que decidi avisar a tripulação que iríamos, a partir de agora, navegar todos os mares e mais alguns, mas sem a ajuda de instrumentos de orientação, sem nexo e sem rumo aparente. Passaríamos a ser marinheiros errantes e a desafiar a vida em pleno alto-mar. Dei liberdade para que cada um decidisse o seu caminho e frisei que não haveria ressentimentos da minha parte se ninguém quisesse ficar. Apenas dois ou três permaneceram comigo. Mas ao fim de uma semana resolveram abandonar-me. Ou melhor, e sendo mais correcto para com eles: resolveram salvar-se. Um desses marinheiros, o último a deixar a embarcação, ainda hesitou na hora do adeus, mas acabou por seguir rumo a outros horizontes. Porém, após uma emocionada despedida, esse camarada fez questão de me alertar para os perigos que poderia vir a correr ao prosseguir sozinho, sem meios úteis para além do barco e sem tripulação. E quando icei a ponte que ligava o meu barco ao cais, ele disse-me: "Eu sei o que pretendes. Vais atrás do teu sonho, da tua estrela-guia". Na altura não liguei ao que disse...afinal, que sabia ele?

Após uns dias calmos e prazeirozos a disfrutar das maravilhas de uma vida a sós e com a Natureza a ser generosa comigo, eis que me dou conta da minha solidão, da minha situação e do caminho que havia escolhido. Ali estava eu, só e sem meios, abandonado por mim mesmo à minha própria sorte e sem saber o que fazer, por onde ir e que caminhos tomar. Resolvi deixar que as coisas tomassem o seu rumo naturalmente. O que o Fado quisesse, assim seria...

E quis o Fado que certa noite eu acordasse a meio de um sonho inusitado. Sonhava com uma estrela-guia, com a minha estrela-guia! Não quis acreditar...de imediato vieram-me à memória as palavras do marinheiro. Mas como sabia ele? Não consegui encontrar explicação lógica para isso. E lembrei-me dos meus tempos de juventude, dos meus tempos de moço de terra firme, numa altura em que dizia que nem tudo tem uma explicação lógica na vida. E de repente, as saudades. Saudades da terra firme, saudades dos habitantes da terra firme, saudades dos usos e costumes, das tradições, saudades de tudo o que um dia tivera e que tão inutilmente soube desperdiçar...

E não há pior saudade que aquela que sentimos em alto mar. Porque aqui nada mais há para além do mar. Só se tem água à volta. Água, água e mais água. E eu já estava farto de meter água na minha vida. Com tanta memória a assaltar-me a mente, com tanta sensação esquecida a assolar-me o coração, perdi-me em alto mar. Comecei a embrenhar-me em matagais oceânicos desconhecidos, em autênticas selvas amazónicas labirínticas e, aparentemente, sem saída...

Tive que me sujeitar ao que me estava a acontecer. Tornei-me mais fechado, mais circunscrito em mim e sobre mim mesmo. Passei a estar mais atento, mais solícito a todo e qualquer sinal que pudesse captar, fosse do mar, do ar, ou lá do que fosse. Julguei que ia ensandecer. Comecei a falar tanto tempo comigo mesmo que, às vezes, conseguia discutir...comigo. Tive que recorrer a Deus e aos Anjos e solicitei-lhes as suas companhias. Em boa hora o fiz, senão...

Porém continuei à deriva, sem saber por onde ia e para onde me levava o destino. Até que um dia se fez luz. Estava na altura do crepúsculo, ou lusco-fusco, como quiserem, e ela apareceu. A minha estrela-guia. Tão bela e surreal como quando aparecera no meu sonho. Brilhava tão intensamente que custava olhar directamente para ela. Aos poucos o seu brilho tornou-se suportável e do nada golfinhos surgiram a saltar, peixes-voadores a voar, gaivotas a planar sobre o barco e quase que podia jurar que o Monstro de Lockness também passou por ali...

Fitei a estrela-guia com cara de miúdo, com ar de garoto que nunca viu uma prenda tão bela como aquela que deseja ter no seu aniversário. Lá estava ela, a pairar sobre mim. A minha estrela-guia...

E como se de um conto do Peter Pan se tratasse, a estrela começou a falar comigo. Dia após dia ela aparecia, indicava-me o caminho, fazia-me companhia. Se estava triste ela animava-me, se chorava ela limpava as minhas lágrimas, quando estava mais só ela até me afagava os cabelos. Certa noite, quando revisitava o baú das minhas memórias à procura da sensação quase esquecida do que era amar, ela beijou-me. Pelo menos eu creio que sim. Talvez isto seja algum efeito retardatário da insolação ou algo do género, mas a verdade é que me senti beijado. E foi tão bom, tão mágico, tão lindo...

Com tudo isto, deixei de me sentir só e passei a galgar os mares quase tão velozmente quanto um chita percorre a sua presa na savana africana. Todos os quadrantes marítimos passaram a constar do meu livro de visitas. Todos, à excepção do Pacífico Sul...

Os dias tornaram-se tão belos, as noites tão mágicas, os segundos tão eternos, tudo graças à companhia da minha estrela-guia, que um dia, e sem saber muito bem como, quando e porquê, me dei conta que estava apaixonado por ela. Tentei rebater esta ideia, quer dizer, ninguém se apaixona pela sua estrela-guia...Mas era mesmo isso que sentia. Já não podia mais calar isso em mim. Não valia a pena. Para quê guardar algo tão belo? Porque não mostrar ao mundo a magia que se instalara em mim, a ternura que me ajudara a sentir a pessoa mais acompanhada, mesmo tendo em conta os últimos anos sem tripulação? Eu já não estava só e os céus, os ventos, os mares e as marés mereciam partilhar esta alegria comigo...

E certa noite, quando estávamos ambos abraçados a contemplar algumas constelações que testemunhavam a nossa cumplicidade, deixei escapar o que sentia por ela. No início ela não pareceu muito à vontade, mas logo deu a entender que não havia mal e que estava feliz por me fazer sentir tão bem, tão feliz. Permaneceu ali comigo até que adormeci. Ao acordar, dei conta de um bilhete que ela me deixara. "Obrigada e sê feliz"...

Sobressaltado, pus-me logo de pé, a chamar por ela. Invoquei vezes sem conta o seu nome, como tantas vezes fizera quando precisava da sua ajuda, mas ela não acudiu. Desta vez apenas podia escutar o resvalar das ondas no meu barco. Estava só novamente. Nesse dia nem o Sol, nem a Lua, nem mesmo as estrelas se mostraram. Nem os golfinhos, nem os peixes-voadores, nada, absolutamente nada se mostrou. Foi como se o mundo estivesse submerso num imenso e tenebroso eclipse, mas onde não se via a Lua ou o Sol...

Senti-me triste. Amargamente triste. Imensamente magoado e desejoso de gritar ao mundo que me sentia injustiçado e que, uma vez mais, o Fado não fora justo e que me passara nova rasteira. Ainda enchi os pulmões bem a fundo para depois tentar expelir/explodir raivosamente toda a minha angústia, mas nem sequer tive tempo para tal. Do nada, ondas gigantescas atiraram o meu barco para longe e de todos os lados ventos titânicos sopravam tão intensamente que os dois mastros principais se partiram e acabaram por ser sugados por alguns remoinhos que, entretanto, se abeiravam da minha embarcação. "O Poeta", nome com que baptizaram o meu barco, pouco tempo depois de me ter decidido tornar marinheiro, gigante conhecido e respeitado em todos os mares, tremia agora de medo e assemelhava-se a uma casca de noz a flutuar numa ribeira mais intempestiva por força das águas de Janeiro. E também eu tremia...

Não sei precisar quanto tempo durou a batalha entre o oceano e eu, apenas sei que quando as coisas acalmaram, eu senti um vento gélido a soprar e a arrepiar-me a espinha. Já tinha ouvido falar de tal vento, mas não queria crer. Eu não podia estar no Pacifico Sul. Mas estava. Assim pude comprovar através do tempo quase sempre nebuloso e chuvoso, pela falta de peixes a acompanhar a embarcação e pela violência com que tempestades repentinas e calamitosas surgiam e depois desapareciam, deixando sempre marcas e danos no Poeta...

Pensei desistir. Aliás, essa era uma das minhas especialidades - desistir. Noutros tempos, desisti da vida em terra, abdiquei de tudo o que havia conseguido e construído, deitei fora tantas e tantas coisas boas só por...estupidez, só pode. Como me arrependo. Como me arrependo de não ter tentado mais um bocadinho, aqui e ali, de modo a poder salvaguardar, reforçar ou assegurar que o que era meu, meu era. Mas não o fiz. E nem mesmo quando fui abençoado com a dádiva do amor após anos e anos de solidão, nem mesmo aí soube ser astuto e soube aguardar pela altura certa, pelo momento oportuno e pela hora mais indicada para declarar o meu amor...

E ao pensar nisso, lembrei-me de ter lido algures uma pergunta curiosa: "Desde quando há alturas propícias para se dizer a alguém que o/a amamos? Desde quando este tipo de sentimentos se rege por tabelas mais ou menos quantificativas e certeiras? Desde quando há tábua-rasa no amor?". Não sei porquê, mas esta lembrança aliviou-me, mesmo sabendo que isso não iria trazer de volta a minha estrela-guia...

Em vão tornei a chamar por ela. Ela não apareceu. Pelo menos não como eu estava à espera. Certa noite, numa das poucas noites em que o mar estava calmo e em que conseguia enxergar mais do que um palmo à frente dos olhos, dei conta de uns gritos. Claro que pensei que estava a alucinar...gritos em pleno alto-mar, no Pacífico Sul, tss tss, ao que chega um ser solitário. Mas de facto havia gritos, havia alguém a gritar por socorro, a pedir auxílio. Desci rapidamente ao meu camarote e fui buscar uma velha candeia que ainda iluminava qualquer coisa ao longe e comecei a procurar iluminar a zona de onde provinham os gritos. O meu únco receio era que o barco passasse, literalmente, por cima dela. Sim, era uma ela...

Como que por milagre, consegui descobrir o seu paradeiro exacto e resgatá-la. Após uma missão de salvamento pouco mais do que suicida, o Poeta acolhia o seu segundo tripulante actual, o primeiro em vários anos. A jovem encontrava-se tão debilitada que tive medo que nem viesse a saber quem era e como tinha ido ali parar. Tratei dela como se fosse minha filha (era um pouco mais nova do que eu, mas não tão nova assim), como se fosse um tesouro e tentei providenciar-lhe cuidados médicos tão bons e prestáveis que fariam corar de vergonha até o mais reputado médico de Nova Iorque...

Os dias seguintes, curiosamente os primeiros em que o Sol apareceu (finalmente!!!), foram dedicados única e exclusivamente a esta menina que surgira do nada na minha vida. Apesar do seu estado débil, ela ainda ia conseguindo comer qualquer coisa e passei a ter algo que há muito tempo não tinha: companhia às refeições. Isto, apesar de ter que comer ao lado dela, ela na cama, ainda combalida, e eu sentado no chão. À noite contava-lhe histórias das viagens que tinha feito ao longo dos anos, falava-lhe das lendas e dos mitos que testemunhei. De dia discutia com ela, salvo seja, quais seriam as melhores rotas, etc e tal, de modo a tentar conseguir que ela falasse. Mas nada...

Até que, numa noite como tantas outras, estava eu a tentar adormecer após tê-la adormecido a ela, quando ela desata a gritar, a espernear e a barafustar. Estava a sonhar. Ou melhor, estava a ter um pesadelo. De pronto abeirei-me dela e tentei acalmá-la. Impelida de uma força descomunal, a jovem não se quis deixar domar e deu bastante luta, chegando mesmo a atingir-me com pontapés e socos, acabando por me abrir o lábio inferior. Mas ao fim de alguns minutos a fera já estava dominada e para meu espanto, ela começou a acalmar-se quando comecei a afagar-lhe os cabelos. Aos poucos a menina assustada voltava ao seu estado sonolento e acabou por adormecer sobre o meu colo, agarrada à minha mão...

A manhã veio pouco depois e com ela uma grande supresa: a menina acordou-me. E falou comigo. Pediu desculpas pela noite agitada e explicou que desde miúda que tal lhe acontece. Agradeceu tudo o que tinha feito por ela, revelando que nestas semanas em que esteve acamada, esteve sempre consciente de tudo e que estava eternamente grata pela atenção que lhe havia dispensado, e apresentou-se: Clara. Era esse o seu nome...

Daí em diante resolvemos atracar numa ilha selvagem que surgiu no nosso horizonte e descemos para procurar mantimentos e madeira para reforçar o Poeta. As tempestades e a água do mar estavam a deixá-lo bastante enfraquecido e não queria naufragar devido ao desleixo ou à falta de atenção para com o meu grande companheiro de guerra...

Passaram-se algumas semanas de reparação e de reforço da estrutura do Poeta. Quanto à comida, só vivíamos à custa dos peixes que ambos pescávamos. E numa dessas pescarias, o impensável aconteceu. Clara ia sendo abalroada por um peixe que eu nunca vira antes, um peixe grande o suficiente para causar fractura de costelas ou algo do género, e, num impulso irreflectido, coloquei-me entre ela e o peixe, acabando por levar uma valente cabeçada na zona abdominal. Não sei quem ficou pior, se eu ou o tal peixe, mas as dores foram tão intensas que tive que voltar rapidamente para a praia. Ao chegar ao areal, uma valente chuvada começa a cair e nem tivemos tempo de correr para o barco atracado à beira-mar. Aliás, com as dores que sentia, eu mal conseguia andar, quanto mais correr. Abrigámo-nos no meio das árvores, mas a chuva, cada vez mais fria e intensa, começou a aumentar ainda mais as minhas dores. Clara, preocupada comigo e com o meu estado, resolveu aproximar-se de mim para me abrigar debaixo da sua toalha, já que eu estava só de calças, e...do nada, estávamos os dois cara a cara. De repente, o meu coração começou a palpitar, o meu corpo a tremer e não conseguia deixar de admirar a beleza de Clara. Ela, não sei como nem porquê, não deixava de se aproximar de mim e estava cada vez mais próxima, olhando sempre nos meus olhos. E foi aí que nos beijámos...

Se tivesse que descrever aquela sensação, acho que escolheria o 4 de Julho, dia dos Estados Unidos da América, quando os americanos comemoram a sua grandeza com milhares e milhares de fogos-de-artifício. Foi tão bonito, tão puro e tão belo...ai ai, um autêntico sonho...

E foi um sonho o que eu vivi a partir de então. Até que a monção passasse, acabamos por ficar atracados na praia e então tive direito a uma vida de rei: comer e amar, amar e comer. Fazíamos amor em todos os cantos e recantos da praia, éramos livres e donos de um mundo que apesar de ser só nosso, era o mais perfeito de sempre. Durante esse tempo aprendi a falar através do silêncio do olhar, aprendi a saborear a doçura de um beijo, aprendi a decifrar a magia de um toque, aprendi a identificar a força de um abraço, enfim, aprendi a amar novamente. E eu voltava a ser feliz. O passado já lá ia, importava, isso sim, o futuro...

A monção passou e fizemo-nos de novo ao mar. Não sabíamos para onde ir, mas isso pouco importava. Pelo menos, assim parecia...

Contudo, certo dia fomos surpreendidos por um tufão gigantesco. Clara perguntou-me se eu sabia que tufão era esse (os anos no mar permitiram-me identificar todos os tufões, ciclones, tsunamis, etc) e eu respondi que não sabia, que não conhecia aquela zona. Uma onda mais alta que o Everest varreu-nos para bem longe e o Poeta, mesmo tendo em conta as reparações e os reforços, não conseguia aguentar tanta agitação. De repente, e quando nos preparávamos para nos fecharmos nos camarotes, o barco dá uma guinada e tomba para um dos lados. Eu ainda consigo me agarrar a um cabo, mas Clara é apanhada desprevinida e começa a deslizar pelo convés em direcção ao mar bravio. De imediato lancei-me na direcção dela, mas apenas consegui agarrá-la por uma mão...

"Salva-te", dizia-me ela. "Salva-te, senão vamos os dois ao fundo". Não podia deixar que isso acontecesse, e foi isso que lhe disse, mas a força das ondas fazia o barco abanar cada vez mais e as nossas mãos começavam a soltar-se uma da outra. "Se fores, eu vou contigo. Depois de tanta coisa nesta vida, não te quero perder. Voltei a viver graças a ti, por isso..."...e zás, nova onda a rebentar e a jogar-nos uns bons 3 metros para o ar. Ao embatermos no mar, as nossas mãos já não estavam mais agarradas e estávamos unidos apenas por dois dedos...

"Deixa-me ir, por favor, salva-te e perpetua a nossa memória. Sei que escreves todas as noites nuns papéis que tens guardado num baú do camarote. A partir de agora, escreve sobre nós, sobre o que vivemos...mas deixa-me". Um dedo...apenas um dedo sustentava o corpo da mulher que eu aprendera a amar. E ao dar-me conta disso, decidi que ia morrer com ela. Não era a morte que desejava, mas ao menos ia com quem amava. E antes que o dedo não suportasse mais o corpo de Clara, eu disse-lhe "Clara, eu amo-te...e vou contigo até ao fim do mundo...eu amo..."...já não pude acabar a frase porque as ondas separaram-nos e quando julgava que ia deslizar junto com ela para o oceano que haveria de servir como sepultura não só de dois corpos, mas também de um amor lindo e mágico, eis que o destino prega-me uma partida e faz-me ficar preso num dos cabos que serviam para içar as redes de pesca...

"Maldito, maldito sejas...", foi tudo quanto consegui gritar enquanto via desaparecer, para sempre, a mulher que mais amara na minha vida...

A tempestade deve ter demorado horas e horas a passar, porque quando acordei os abutres estavam empoleirados no único mastro que sobrevivera àquela tragédia. E por incrível que pareça, o Poeta estava "de pé" e a navegar, ainda que tropegamente. O cabo que me impedira de conhecer o fundo do mar e lá me instalar com a minha amada continuava preso às minhas calças. Ao olhar para ele, desatei a chorar. Chorei durante várias horas...

Os dias passavam e apesar da bonança que se fazia anunciar em termos metereológicos, o meu coração continuava a ser fustigado por tsunamis e tsunamis de tristeza. Era a segunda pessoa que perdia após confessar o meu amor. A primeira de carne e osso, já que a primeira não era bem uma mulher, era mais uma aparição. Não tinha apetite, não tinha sono, não tinha vontade de viver, não tinha nada. Só desejava morrer...

Mas no meu inconsciente permanecia o pedido que Clara me havia feito: perpetuar a nossa história em papel. Não sabia se ia ser capaz. Para mim, Clara e o amor que lhe tivera (e tinha...e tenho ainda) eram superiores a todo e qualquer tipo de declaração ou manifestação literária. Mas em honra ao amor que sentia por ela e por tudo que passara com ela, lancei-me nessa tarefa...

Certa noite, mais uma daquelas em que o nevoeiro é tão denso que não vemos nem os próprios pés, e enquanto pensava na possibilidade de Clara ter sido levada para uma ilha deserta pelas ondas ou de algum navio ter conseguido dar com ela tal como acontecera comigo, o Fado deu-me a conhecer mais uma das suas facetas fatalistas. Algo embatera em mim ou eu embatera contra algo, pouco importa. O que importa é que o Poeta ficou desfeito e começou a partir pelo meio. Só tive tempo de recolher o que mais interessava (alguma comida, estojo de primeiros-socorros, uma arma e munições, e os apontamentos que acumulei ao longo de anos e anos de viagens). Coloquei tudo no bote salva-vidas (agora sim o Poeta era um bote salva-vidas) e lancei-me ao mar. Ao ver o mastro do Poeta ser engolido pelas ondas do mar, gritei bem alto o nome de Clara...

E recebi resposta. "Filho, és tu? Estás aí?", respondeu-me aquela voz suave e melodiosa que tantas vezes me sussurrara ao ouvido que me adorava, que eu a fazia feliz e sentir coisas que nunca sentira. Era Clara e ela estava viva. Mas como? Seria possível? Eu chamava por ela e ela por mim, mas o nevoeiro era demasiado forte. Pela ondulação do mar, reparei que ela deveria estar nalguma embarcação de grande porte e que se dirigia na direcção contrária à minha. Até nisso o destino estava a ser caprichoso...

Enquanto o destino teimava em nos afastar, Clara despedia-se de mim dizendo-me, entre lágrimas de alegria (por estar viva e por ter voltado a ouvir a minha voz) e tristeza (porque nos estávamos a separar) "Imagina que fui viajar...imagina que fui viajar por um mês ou dois ou dez...imagina que é isso, uma viagem...e que talvez a gente se volte a ver numa próxima vez..."...

As últimas sílabas já foram quase inaudíveis. O mesmo mar que me aproximou do amor estava, quiçá para sempre, a separar-me dele. Desejei a morte. Já não aguentava tanto sofrimento. Adormeci...

Acordei há pouco, depois de não sei quantas horas sem dormir e de mais umas quantas a dormir profundamente. Olho à minha volta e é de noite. O breu é imenso, gigante e avassalador. Não há a mais pequena ponta de luz à minha volta. A única que há é a que ainda provém da velha candeia, também ela uma sobrevivente. E graças a ela escrevo estas linhas agora...

Hoje, e à distância de não sei quantos anos do menino de terra firme e à distância de não sei quantos meses do homem que te amou, hoje sei que és a minha estrela-guia. O tal marinheiro tinha razão: eu vim, ainda que sem saber, à tua procura. Passei por tudo isto para te encontrar, para renascer e para viver as coisas mais bonitas de toda a minha vida. Passei por tudo isto para depois te perder...

Hoje, e apesar da dor que trago no peito e das saudades que me enchem os céus como se fossem uma autêntica chuva de estrelas, hoje sei que é por ti que ainda sobrevivo nestes mares indigentes. É por ti que ainda tenho forças para redigir umas quantas linhas de modo a poder perpetuar o amor que um dia nos uniu. É por ti que me dou ao trabalho de pensar no impensável: fazer planos, prever rotas, planejar uma espécie de futuro...

Hoje, sei que tu, minha doce e adorada Clara, tu és a verdadeira força que me alimenta, que me alegra, me consola e me acompanha. E hoje, tal como ontem e tal como desde há uns meses a esta parte, sei que é por ti que mantenho a ténue esperança de que, de facto, esta separação mais não é do que uma viagem, uma interrupção involuntária, mas necessária para que, pelo menos eu, possa redefinir estratégias e ganhar um novo alento e uma nova meta na vida, mesmo que o futuro possa ser curto para mim. É por ti que tento adivinhar o teu próximo destino de viagem, na esperança de te poder surpreender...é por ti que me deixo estar quieto, sentado à tua espera, de braços abertos, sorriso nos lábios e coração nas mãos para, num qualquer porto, num qualquer cais ou num qualquer aeroporto, te receber...

Não sei o que o amanhã me reserva. Temo não conseguir ter tempo de dar continuidade a estas linhas, a estas palavras vãs que apenas gostariam, tal como eu, de cumprir o que, um dia, me pediste: perpetuar o sentimento único, belo e incapaz de ser apagado que um dia nos uniu...

E se o amanhã já não se me apresentar, aqui fica este esboço...

Do Homem-menino e do menino-moço...

Uma constelação de beijos para ti, minha doce e adorada Clara...

PS - a todos os que possam ler isto: desculpem o dimensão do texto, mas nem eu mesmo sei de onde veio tudo isto...vou tentar dormir...pode ser que, ao acordar, eu saiba explicar alguma coisa...

Friday, July 25, 2008

Ser feliz...


“ – Para ti ser feliz é o quê?

Ora aí está uma boa pergunta, respondi ao meu interlocutor. Na altura não tinha pensado muito sobre o assunto, mas estava a viver algo novo, algo de muito bom e extremamente marcante (e mal sabia eu o quão marcado acabaria por ficar…), pelo que tentei definir o que é ser feliz…

Mirei o meu interlocutor com um ar sério e comecei a falar do trivial, daquilo que todos desejamos para as nossas vidas e para as dos que nos rodeiam. Disse que saúde, paz e harmonia eram coisas que me faziam feliz…

Mas isso não era suficiente. Ele queria que eu fosse mais expedito, mais incisivo e mais concreto. Pediu-me para dar exemplos concretos do que me fazia feliz, de modo a que pudesse perceber o que é, de facto, a felicidade para o ser humano…

E foi assim que me dei conta do que me fazia realmente feliz…

Sabes, disse-lhe eu, para mim ser feliz é adormecer com alguém no pensamento, desejando ter essa pessoa ao nosso lado, e acordar com essa mesma vontade; é saber que o dia nos vai correr bem porque seja a que hora for e em que local for, vamos estar com a pessoa amada…

Para mim ser feliz é conseguir passar horas ao telefone sem nos darmos conta disso. É trocar as mensagens mais malucas e às horas mais malucas que se possa imaginar. É ter todo o tipo de conversa possível e imaginável através da net, com direito às coisas mais maravilhosas e mirabolantes…

Ser feliz é saber que fazemos alguém feliz ao ponto de se criar a expressão estupidamente feliz. É ser capaz de provocar saudades e de as desejar para depois as poder “matar” através de um abraço ou de um beijo…

Para mim a felicidade está na união de duas bocas que querem comungar do mesmo mel, que querem e sabem beijar da mesma forma, como se nunca tivessem feito outra coisa na vida. A felicidade está num abraço capaz de apaziguar a mais atormentada das almas. Abraço esse que tem o condão de fazer ouvir o bater dos corações que também se abraçam…

A felicidade está em todas as maluqueiras que fazemos por quem amamos. Seja uma flor, um mail, um telefonema, um anel, uma almofada, sei lá, tudo vale. E tudo valerá sempre porque o motor de toda esta criatividade é o amor, é o desejo, é a paixão…

Para mim ser feliz é desejar um corpo e saber que esse corpo nos deseja. É saber que se encaixam perfeitamente seja qual for a maneira que os corpos se disponham…

Ser feliz é passar horas e horas a passear, a descobrir paisagens e a fazer parte de cenários idílicos. Ser feliz é subir ao cimo de um monte e olhar para o horizonte de mãos dadas com a pessoa amada, é sentir um certo frio na barriga por estarmos demasiado colados a quem amamos, sem saber muito bem o que fazer…

Ser feliz é ser capaz de uma “tortura” saudável, cujo intuito é adiar ao máximo a obtenção do prazer e a satisfação dos desejos “carnais” do ser humano, mesmo que isso implique uma resistência sobre-humana…

Para mim ser feliz é olhar quem amamos nos olhos e rever o brilho do nosso olhar na pessoa amada. É ser alvo do mais doce e ternurento olhar após um beijo mais demorado, mas nem por isso menos romântico. Ser feliz é contemplar o sorriso mais lindo do mundo como se contemplássemos uma das sete maravilhas da Terra…

Para mim ser feliz é estar disposto a tudo para agradar a quem amamos, é querer ver a pessoa amada mais feliz do que a nós próprios. Ser feliz é amar e sentir-se amado da mesma forma, mesmo que por caminhos diferentes…

Ser feliz é tão-somente tê-la comigo…

Quando dei por mim tinha o meu amigo a tentar esconder as lágrimas que gotejavam dos seus olhos. Tudo o que ele foi capaz de dizer foi”Bem…nem sei que te diga…mas deves ser mesmo feliz…”

Hoje, e passado tanto tempo desde que tive esta conversa, concluo muito rapidamente que há já muito tempo que não sou verdadeiramente feliz…

Monday, July 21, 2008

Às vezes...


Às vezes penso em ti…

Penso em qual seria a tua reacção se fosse ter contigo agora, agarrasse em ti e te desse um beijo daqueles que parecem só existir nos filmes. Penso em como reagirias se aparecesse à tua varanda com um ramo das tuas flores preferidas ou uma caixa de bombons ou apenas e só com um cartaz a dizer que te adoro. Penso em como te sentirias se fosse até aí só para te dar um abraço, dizer que te adoro, que tenho saudades tuas, para depois voltar ao meu cantinho…

Às vezes penso em ti…

Penso em como seria se uma noite te surpreendesse e me esgueirasse até os teus lençóis para te embalar num sono repleto de bons sonhos. Penso em como seria se um dia chegasses à casa e, sem saberes como, eu já estivesse à tua espera com a banheira cheia de espuma e sais naturais que seriam desfrutados num belo e longo banho a dois, com direito a morangos, chocolate derretido, champanhe e tudo o mais...

Penso em como seria se um dia te raptasse e te levasse a conhecer o meu mundo, as minhas origens, as minhas raízes. Penso em como gostarias de conhecer essa parte desconhecida da minha pessoa, em como te irias divertir ao ver de onde vim, o que vi e vivi…

Às vezes penso em ti…

Penso no teu corpo, na tua pele, nos teus olhos, nos teus lábios. Penso no perfume que exalas, na beleza que possuis, na magia que irradias e no bem que me fazes. Penso em beijos, penso em abraços, em mais, muito mais…

Às vezes penso em ti…

Penso em ti e tento escrever uma e outra vez, até que algo de jeito possa sair, algo que mereça ser do conhecimento geral. Penso em como dizer tudo o que não consigo, em fazer tudo o que não posso e em pensar sempre em algo mais…

Penso em fazer-te feliz, em ver-te feliz, em sonhar-te feliz. Penso em ajudar-te a nunca deixares de ser o que és, a consolidares o teu ser e a seres cada vez mais esse belo ser humano que és…

Às vezes penso em ti…

E dos olhos caem lágrimas. De tristeza e de alegria, de saudade e de resignação. Mas são mais as vezes em que sorrio, em que me alegro e em que me sinto abençoado, mesmo não te tendo por aqui…

Às vezes penso em ti…Apenas gostava que o soubesses…

Sunday, July 20, 2008

(Não apenas e) Só Hoje...


“Só Hoje” by Jota Quest

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só p’ra te levar p’ra casa
Depois de um dia normal

Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar na boca de um jeito que te faça rir
Que te faça rir

Hoje eu preciso te abraçar
Sentir o teu cheiro de roupa limpa
P’ra esquecer os meus anseios e dormir em paz

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo

Hoje eu preciso tomar um café ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou o causador da tua insónia
Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Hoje preciso de você com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença vai me deixar feliz, feliz
Só hoje

La la la la la la la la

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo

Hoje eu preciso tomar um café ouvindo você suspirar
Me dizendo que eu sou o causador da tua insónia
Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Hoje preciso de você com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença vai me deixar feliz, feliz
Só hoje

Hoje preciso de você com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença vai me deixar feliz, feliz
Só hoje

Saturday, July 19, 2008

Muito mais do que um conto...


Já pensei em escrever um livro. Aliás, vários livros. Os temas que entretanto pensei abordar também são variados, tanto na área do conhecimento como no próprio enquadramento que poderiam ter na minha vida…

No entanto, ultimamente há uma ideia que se afigura como mais insistente, mais persistente e mais precisa. Essa ideia assume formas, ganha contornos e apresenta-se a mim como se ela própria quisesse ganhar vida, ser livre ao ponto de deixar de ser apenas uma ideia…

E o mais fantástico é que reconheço essa ideia em quase tudo o que faço e vejo. Associo-a aos caminhos que percorro, aos passeios que calcorreio, às noites que passo em claro admirando a Lua (seja na varanda de casa, seja do alto de um penedo), aos raios de Sol que logo cedo me inundam o quarto…

Associo-a a um qualquer sorriso mais meigo, a um qualquer olhar mais terno, a um qualquer toque mais pessoal. Também a associo ao Mondego, a Coimbra, à vida universitária, aos meus últimos anos de vida. Mas sinto que não consigo transpor tudo isso para um papel, para um livro…

Como encontrar as palavras certas para descrever a sensação de um abraço que é tão-somente indescritível? Talvez a forma mais correcta seria dizer que há abraços que valem mais que mil palavras…

Como demonstrar, através de palavras, que um “simples” beijo nos pode elevar ao infinito? Como explicar correctamente a ternura e a doçura de um olhar que nos enche a alma de alegria, de esperança e de felicidade?

Com que termos poderia eu definir o encontro de dois corpos, cujas peles, ao encostarem-se, desencadeiam um sem número de sensações e de desejos? Quais os adjectivos correctos para demonstrar que um sorriso pode ser a porta do paraíso, o caminho mais suave e doce para a felicidade?

Como posso eu ousar contar algo ou definir algo que está para além do compreensível, do imaginável? Como dar a conhecer ao mundo tudo o que senti se nem eu mesmo sei dizer de onde vem isto tudo?

Mas talvez eu saiba de onde veio, ou vem, tudo isto. Talvez eu saiba a origem das coisas, saiba o momento em que o universo conspirou favoravelmente para que uma autêntica espiral de sentimentos e sensações se desenrolasse. Talvez eu saiba…

Contudo, também sei que ainda não sei tudo. Ainda não sei classificar as alegrias que tive, as loucuras que fiz, as aventuras que idealizei, os sonhos que preencheram as minhas noites. Ainda não sei qualificar os desejos que me faziam tremer o corpo, ainda não sei decifrar a fragrância que ainda hoje sinto, por vezes, quando o vento sopra. Ainda hoje não sei descodificar esta batida ritmada que trago no peito, ainda não sei lidar com esta vontade de querer fazer tudo mais que perfeito…

Poderia tentar, mas não sei se iriam compreender. Nem sequer sei se conseguiria acabar o livro. Sei que o tema daria para muitas e muitas páginas. Foram tantos os momentos perfeitos que se eu soubesse desenhá-los seria muito mais fácil para que pudessem ser compreendidos…

Mas creio que só Da Vinci ou Michellangello seriam capazes de colocar numa tela algo parecido. E nem mesmo as suas esculturas poderiam completar a obra…

Porque a obra não estará nunca completa. É impossível completar algo tão belo. E a beleza não tem fim. Nem a do que se viveu, nem a de com quem se viveu. Alguma vez viram um pôr-do-sol acabar? Nunca acaba, pois no outro dia há mais. O mesmo se passa com o nascer do sol. A beleza de momentos como este nunca acaba. Nem há-de acabar nunca…

Porque quem vive um nascer do sol e um pôr-do-sol sabe que haverá sempre outro. Seja amanhã, depois ou no outro dia a seguir, mas haverá sempre. E assim é o amor. Quando se ama, quando somos “afectados” por este vírus preferimos continuar doentes do que encontrar a cura. Porque não há cura para o amor. Aliás, a cura é apenas uma – amar…

Hoje continuo a querer escrever um livro. E o tema bem que pode ser o amor. Para já remeto-me ao silêncio e guardarei as minhas palavras, as minhas ideias, os meus sentimentos e afectos para mais tarde. Talvez a posteridade traga até mim a sapiência necessária para poder juntar algo tão belo e grandioso numa simples história, num simples conto…

Mas hoje também estou certo de algo: um dia estarei preparado para dar a conhecer aos meus filhos e netos a beleza de tudo o que vivi. Até lá resta-me a alegria de saber que tudo foi mágico, tudo foi perfeito. E tudo foi muito mais do que um conto…

Friday, July 18, 2008

Foi só um olhar...

Há já algum tempo voltei a encontrar um música portuguesa que caiu no esquecimento de muita gente, mas que permaneceu sempre na minha memória. A música não é nada de transcendente, mas tem algo que muito me apraz e esse facto é, por si só, mais do que suficiente para ter feito um vídeo que ilustrasse a música...

PS- realmente bastou um só olhar...

http://www.youtube.com/watch?v=ezEckJFfzJ8

Para pensar...


"Não há razão para termos medo das sombras. Apenas indicam que em algum lugar próximo brilha a luz". (Ruth Renkel)

Tuesday, July 15, 2008

Lua em mim...


A caminho de casa observo a Lua…e sinto que ela também me observa a mim. Paro e contemplo a sua beleza, a sua luminosidade, o seu brilho, a sua simplicidade. Automaticamente, lembro-me logo de alguém…

Também conheço alguém assim. Alguém cuja beleza merece ser contemplada, cuja luminosidade provém da pureza da sua alma. Alguém cujo brilho tanto se pode encontrar num belo sorriso como no mais terno dos olhares…

Sorrio e não cedo à tentação. Sento-me então à beira de um muro. A noite ainda é uma criança e não tenho nada que fazer em casa. Ao menos aqui estou acompanhado…

A brisa começa a soprar levemente. As folhas que se encontram no chão como que dançam a meus pés, parecem vivas e felizes por estarem ali assim, a rodopiar. A própria Lua parece-me mais brilhante, mais bela ainda, se é que isso é possível…

Deixo-me estar a olhar os céus e o tempo passa. Desperto com a sensação de que estou acompanhado. Olha à minha volta e não encontro ninguém…Parvoíce minha, pois claro…

A companhia não está ao meu lado. Está no céu, está na Lua, está nas estrelas. Está onde tem que estar e eu sei bem onde isso é…

Acho que já posso seguir até casa. E da rua levo mais uma história, mais uma emoção…

Obrigado, querida Lua…por estares dentro do meu coração…

Friday, July 11, 2008

E o anjo trouxe um sorriso...


Deus,

Quero agradecer o facto de ter ouvido as minhas preces. Roguei-Lhe que me enviasse um anjo, que me enviasse um dos seus ajudantes de forma a poder ajudar quem precisa, a poder animar quem necessita…

E não só o Senhor ouviu as minhas preces (uma vez mais, há que referi-lo), como também me enviou o mais belo e mais encantador dos seus anjos. A sua beleza, a sua alegria e a sua bondade por si só seriam suficientes para ajudar e encantar…

Mas o anjo trouxe muito mais para além disso. Trouxe consigo o amor, a paz, a compreensão e a pureza de espírito só ao alcance de seres bons e bem intencionados. Pai, o anjo trouxe também aquilo que, na altura, mais era preciso…

O anjo trouxe um sorriso…

Obrigado meu Deus, por teres sido tão cuidadoso comigo e por teres atendido o meu pedido. Obrigado por teres enviado um ser tão lindo e belo, um ser tão carinhoso e bondoso…

E obrigado meu anjo, por seres tão maravilhoso…

Wednesday, July 09, 2008

Se estivesses aqui...


Se estivesses aqui estaria a olhar para ti. A olhar para ti e admirar-te como quem admira uma das sete maravilhas do mundo. Estaria a contemplar a doçura do teu olhar e a indagar a tua alma com os meus próprios olhos, procurando encontrar-me neles para neles me perder outra vez…

Se estivesses aqui haveria música. Não só aquela tocada pelo bater dos corações, mas uma qualquer música que servisse para tornar este nosso encontro ainda mais especial. Não precisava ser uma música sugestiva nem tão-pouco apelativa. Bastava ser aquela melodia que sei ser do teu agrado. E como o teu bem é também o meu…

Se estivesses aqui agarrar-te-ia na mão e levava-te a um qualquer outro lugar. Podia ser de carro ou a pé, pouco me importa, pois já estás comigo e as distâncias deixariam de ter importância. Levar-te-ia até ao cimo de um monte ou até à praia de modo a podermos contemplar a beleza do céu estrelado, sentir a leve brisa que sopra e que traz consigo tantos e tantos cheiros. Ficaria abraçado a ti até ao nascer do Sol e ao longo da noite contar-te-ia as histórias mais fantásticas para que pudesses descansar por uns minutos. E também cantar-te-ia algumas das tuas canções preferidas…

Se estivesses aqui abraçar-te-ia. Dar-te-ia um daqueles abraços capazes de apaziguar a mais inquieta das almas. Seria um daqueles raros momentos em que o mundo ficaria quieto e calado a presenciar a beleza de duas almas em sintonia, testemunhando a magia de algo tão belo…

Se estivesses aqui beijar-te-ia. Procuraria nos teus lábios a fonte que saciasse o meu desejo. Sentiria neles, estou certo disso, a doce suavidade e a maravilhosa ternura de uma reciprocidade única e indescritível. Neles, em teus lábios, viajaria para lá do horizonte do beijo e avistaria os vales e montes que conduzem ao desejo…

Se estivesses aqui tocar-te-ia. Percorrer-te-ia a pele suave de uma forma tão meiga e terna com os meus dedos que, num ápice, arrepios percorreriam todo o teu corpo. Sentiria a tua pele sedosa como quem sente as nuvens que nos embalam em sonhos, como quem está maravilhado com a beleza da vida…

Se estivesses aqui…não estaria a escrever isto. Provavelmente também não estaria a dizer-te isto. Preferiria estar a fazer tudo o que atrás descrevi…

Se estivesses aqui…eu estaria feliz, tentando fazer-te feliz. E se o conseguisse, seria mais feliz ainda…

Se estivesses aqui…acabaste por estar ao longo de todo o texto. Deu para ver-te ali sentada, um pouco distante de mim, mas a observar-me. Estiveste aqui, mesmo não estando aqui…

Pena…gostava tanto…que estivesses aqui…

(* este post surge da minha necessidade de pensar em coisas boas e deixar um pouco os problemas para trás)

Falta...


Nunca a solidão me custou tanto como agora. Neste preciso instante, e apesar de estar num mundo com cerca de 6 biliões de habitantes, sinto-me a pessoa mais só deste planeta. Já lidei com este sentimento tantas vezes, e das mais variadas formas, mas nunca senti que precisasse tanto de alguém como sinto agora…

Agora, no local onde me encontro, e apesar de estar rodeado de boas memórias e de boas lembranças, sinto que o silêncio é maior e faz-se notar mais do que o bater das teclas. Sinto que já não basta aceder às memórias, às recordações, às lembranças. Sinto que já não basta olhar para dentro de mim e procurar as coisas e pessoas que eu amo e que costumam me fazer feliz…

Sinto-me tristemente só. Por mais força de vontade que possua, por mais que deseje lutar por tudo e contra todos, por mais que sonhe e tente acalentar os meus próprios sonhos, é-me difícil estar assim e continuar assim…

Eu amo, eu rio, eu luto, eu levanto-me após as quedas, eu procuro encarar tudo com a maior das forças e com o maior carácter que alguma vez vi em mim…mas falta-me algo…

Falta muita coisa, aliás…

Falta a mão que possa acariciar suavemente o meu rosto e afagar as minhas lágrimas. Faltam os dedos que possam entrelaçar-se nos meus e que possam transmitir-me paz e confiança. Falta o ombro onde possa recostar a cabeça e chorar silenciosamente as lágrimas que teimam em permanecer presas dentro de mim…

Falta o peito onde possa repousar a cabeça e me deixar embalar rumo a um sono que não seja agitado e tão cheio de pesadelos. Falta o regaço onde possa me aninhar apenas e só para sentir que, afinal, está tudo bem e que o amanhã só trará boas novas…

Faltam os olhos que me possam olhar e tranquilizar através de um qualquer brilho mágico e inebriante. Falta o sorriso que possa trazer até mim a esperança e que possa fortalecer a minha crença em mim próprio e na própria vida…

Faltam os lábios que possam veicular as palavras certas mesmo sem falar e que possam serenar o meu ser com um simples e terno beijo. Faltam os braços que me possam abraçar, apertar e segurar como se eu fosse o tesouro mais precioso do mundo, mesmo não o sendo…

Falta a alma que possa escutar, ajudar e preencher a minha apenas e só através da sua presença. Falta o coração que possa e saiba bater ao mesmo ritmo do meu, pouco importando qual dos dois marca esse mesmo ritmo. Falta o corpo que possa ser o meu rochedo nas horas de maior intempérie e o meu escudo aquando das maiores batalhas…

Enfim…olhando para isto, acabo por concluir que, afinal, não falta assim tanta coisa. Falta-me apenas o essencial – to love and be loved…

Olho para mim e vejo que continuo só. E ao constatar isto, lembro-me de uma frase de uma amiga minha (há que fazer esta referência de modo a evitar plágio). Frase que irei readaptar à minha realidade actual: “Neste momento falta muita coisa na minha vida…e uma delas és tu…”

A solidão perdura e vai continuar, eu sei. Mas ao menos consegui deixar sair algo para o mundo. Não é o mais importante neste momento (há questões mais prementes, é verdade), mas acreditem quando vos digo que seria uma grande ajuda se não perdurasse…

Até lá, resta-me ser forte, tentar ser forte e aparentar ser forte…

Tuesday, July 08, 2008

...


Se o mundo soubesse como me sinto…se o mundo tivesse noção do que me vai na alma, do que me vai na mente e no coração…

Mas o mundo não pode saber. É a lei da vida, é a lei da selva, faz parte…Uns levam pancada dia após dia, caem, levantam, desafiam e ousam desafiar uma e outra vez, e mesmo assim a vida insiste em pregar partidas, em passar rasteiras, em tornar tudo cada vez mais difícil…

Ninguém disse que era suposto ser fácil, mas ninguém disse que seria tão difícil…

A cada dia que passa as forças esgotam-se. A mágoa, a tristeza e a incapacidade para compreender o porquê das coisas leva-me ao desespero, à loucura…

Sim, estou cada vez mais insano, cada vez mais farto de tudo e cada vez mais triste. Como disse uma vez, tenho a sobrar coisas que não interessam e a faltar tudo o que importa. E nem tudo é por culpa minha…

Hoje queria ser capaz de desabafar, de despejar toda esta bola de neve crescente e imparável que se desenvolve em mim, mas não consigo. Não tenho como…

Resta-me escrever…ou pelo menos tentar…

Wednesday, July 02, 2008

A meu lado...


Estou acordado, bem acordado. Ciente da realidade que me circunda, sabedor da chuva que cai lá fora, conhecedor do aroma a terra molhada que entra levemente pela janela do meu quarto…

Tenho estado a pensar em ti. Tive que me abstrair dos meus problemas, das minhas ânsias e angústias. Tive que dominar os meus medos e afastar os meus demónios. Precisei de pensar em algo bom, em coisas boas, em coisas que me façam sentir bem, sorrir…

E inevitavelmente apareces tu. Só de pensar em ti, sorrio. Também é verdade que algumas lágrimas rolam pelo meu rosto abaixo. São as saudades…

De ti, do teu ser, do teu perfume. Saudades do teu olhar, da tua voz, da tua pele. Saudades do teu corpo, do teu sorriso, da tua alegria. Saudades do teu toque, do teu beijo, do teu abraço…

Por isso tenho estado a pensar em ti…

De tanto pensar em ti, tu chegas...Entras sorrateiramente no meu quarto, olhas para mim e sorris só como tu sabes sorrir. Deixo-me estar a olhar para ti, quieto e sem me mexer, apenas contemplando a tua beleza…

Quando faço, então, tenção de me levantar, dizes-me para me deixar estar. Caminhas até mim e, tu de pé e eu sentado, abraças-me. Com a cabeça no teu peito começo a chorar. De felicidade, de medo, de alegria, de contentamento. Afagas-me os cabelos lentamente com os teus dedos e apenas dizes “Pronto, já estou aqui”…

Sim, é verdade. Não sei bem como nem porquê, mas estás ali comigo. No meu quarto, abraçada a mim, a acariciar-me os cabelos. Até parece mentira. Cuidadosamente começo a reconhecer o teu corpo com as minhas mãos, tentando comprovar que és mesmo tu…

“Sim, sou eu”, dizes tu, como que adivinhando o que se passa na minha cabeça. O bater do teu coração está tão ritmado que, aos poucos, começo a me acalmar. E tu continuas a mexer-me no cabelo…

Mais calmo, e já de sorriso nos lábios, puxo-te para mim. Estás agora sentada no meu colo e os nossos rostos estão bem próximos. Olhamo-nos mutuamente e parece que estamos a ver as almas um do outro. Percorremos os nossos próprios interiores antes de percorrermos as nossas bocas com um beijo…

E que beijo…foi um daqueles que te leva a ficar sem ar, a corar de vergonha. Ou será de desejo? Não sei, mas pouco importa. Importa, isso sim, que estás ali comigo…

Levanto-me e trago-te comigo, ao colo. Vamos até à janela espreitar a chuva que cai lá fora. Curiosamente, a chuva parou e deu lugar a um céu lindíssimo, sem nuvens e repleto de estrelas. A um canto, lá estava ela - a Lua. Uma lua linda, cheia, esplendorosa e brilhante…

Ficámos bastante tempo a admirar a sua beleza. E ao mesmo tempo eu também admirava a tua. Foi o que te disse quando me apanhaste a olhar para ti. Coraste e disseste que eu era maluco. Sorri e retribui o elogio com um beijo…

O teu sorriso, logo após o beijo, era a coisa mais bela e ternurenta que alguma vez vira. Senti-me abençoado e privilegiado. Deus enviara até mim o mais belo de seus anjos, a mais doce das criaturas só para me salvar e me afastar dos meus fantasmas…

De repente, uma estrela cadente cruza os céus e rapidamente peço um desejo. Fizeste o mesmo, disseste tu, e perguntaste o que havia pedido. Retorqui que não podia revelar senão o desejo não se concretizava e respondeste prontamente “não te preocupes porque já se está a realizar…”

Fiquei sem palavras. Apenas soube abraçar-te. E de novo uma sensação de paz e de harmonia invadiu a minha alma. Todo eu sorria nesse momento. Todo eu estava em comunhão com o milagre da vida e com a Alma do Mundo…

Os nossos corações comunicavam a cada batida que davam. Não sei o que queriam dizer, mas estavam calmos e serenos. E também nós…

Agarrei na tua mão e levei-te até à cama. Deitámo-nos lado a lado e deixamo-nos estar a olhar um para o outro e a dar mimos um ao outro. Eu passava a mão no teu rosto, nos teus cabelos, nas tuas costas…e tu percorrias os meus braços, a minha barriga e os meus cabelos com as tuas mãos…

Aos poucos, e sem que se desse por isso, as roupas deixaram de estar presentes e resolveram que era melhor estar espalhadas no chão do que grudadas aos nossos corpos. Lentamente começamos a nos aproximar…

O que se seguiu foi sublime. Pediste-me para fazer amor como nunca houvéramos feito…

Não há palavras para descrever o que se passou. Atingiu-se a perfeição, o Nirvana. Alcançou-se o céu, desceu-se à terra e rumou-se a novas e diversas galáxias de sensações, de sentimentos e de emoções. Os corpos comungaram, as almas comungaram, as mentes comungaram e muito mais do que dois corpos a atingirem orgasmos em catadupa, o que se passou foi a consumação única e total de duas almas que habitam dois seres que se encaixam e se complementam. Física e espiritualmente…

Após esta experiência única, perguntaste se podias ficar ali comigo. Pelo menos hoje. Nem foi preciso responder. Sorri com os olhos, com a alma e com o coração. E tu compreendeste esse meu gesto e interpretaste-o bem. Deitaste-te sobre o meu peito e deixaste-te estar a ouvir as batidas do meu coração…

“É por ti que ele assim bate”, disse eu, antes que pudesses tecer algum comentário à velocidade que batia este meu coração. Deste uma leve gargalhada e beijaste-me, para depois te aninhares bem enroscadinha a mim. Com leves carícias nos cabelos, acabaste por rumar ao paraíso onírico, ao Éden dos sonhos, onde, provavelmente, te irás encontrar com mais anjos como tu…

A custo levanto-me e vou até à janela. Fico de pé a olhar para ti, a admirar-te e a pensar na felicidade que me trazes e no bem que me fazes. E estás mesmo ali, na minha cama, no meu quarto…

Ainda quase que não acredito. Por isso venho até ao computador e procuro descrever o que vi, o que pensei e o que senti. Enquanto escrevo vou olhando para ti, para ver se ainda aí estás, se não és uma ilusão, um delírio ou fruto da minha insanidade. Continuas aí…

De repente acordas e procuras-me. Olhas em frente e vês-me a sorrir para ti. Digo que queria poder captar a tua beleza e o teu ar angelical na máquina fotográfica da minha memória e tu sorris. Pedes-me para voltar para a cama e assim o faço. Perguntas se não tenciono dormir e eu digo que sim. Mas não quero…

Tenho receio de adormecer e não te ter ao meu lado quando acordar. Não quero que isso aconteça…

Espero que voltes a adormecer e começo a falar com Deus. Peço-Lhe que não me tire esta alegria, que não te deixe ir embora antes de eu acordar. O Senhor pergunta-me se não sei que estou a delirar e eu respondo que sim, que sei, mas que mesmo assim estava feliz, pois tinha ali a meu lado a pessoa que amava…

Ao ouvir isto, Deus sorriu e abençoou-me dizendo que tu só estavas ali porque eu precisei de pensar em coisas boas, coisas alegres e que me fazem sorrir. Por isso apareceste. E de acordo com Ele, saíste de dentro do meu coração…

“Sempre que a quiseres contigo, procura no teu coração. É lá que ela está e é lá que a encontrarás sempre”. Foi desta forma que Deus se despediu de mim…

Não tenho mesmo sono. Não creio que vá dormir. O que significa que vou poder continuar a olhar para ti, a sentir o teu perfume, a sentir-me o ser mais feliz do universo. Mas também sei que, entretanto, vou adormecer e que quando acordar já não estarás ali a meu lado…

Bem sei que estarás onde sempre estiveste – no meu coração – mas gostava de ter também ali. Não só na cama, mas a meu lado…

Achas que é possível? Não sei se sim ou se não, mas até lá, sei, de certeza, de uma coisa: já estou com saudades tuas…

Estou ainda acordado…E quero adormecer…mas contigo a meu lado…

Uma prece...


Senhor, ajuda-me a ser a força que não tenho. Ajuda-me a ser o sorriso que não possuo. Ajuda-me a ser a luz que se me apagou. Ajuda-me a ser a esperança que desde ontem algo me levou…

Ajuda-me a ser o guia nesta estrada desconhecida. Ajuda-me a ser a voz firme que hoje está trémula. Ajuda-me a ser o Sol que ilumina e traz vida. Ajuda-me a ser a Lua que encanta a alma esquecida…

Senhor, ajuda-me a ser a cura. Preciso de ser a cura, pois se não for, de pouco valerá todo o resto que perdura. Ajuda-me, se houver como, a mudar os papéis deste teatro que é a vida. Ajuda-me a estar lá, a trocar de lugar com, a passar por…

Sei que peço muito…mas se não pedir, sei que posso perder muito mais…

Amén…