Tuesday, October 30, 2007

Quando os sábios falam...


Há momentos na vida em que nos indagamos e nos perguntamos o porquê de existirem sábios. Ou melhor, o porquê de já não existirem (tantos) sábios. E não é que eu saiba bem a resposta a este dilema quase filosofal, mas há instantes encontrei esta frase de São Francisco de Assis e pus-me a pensar nessa questão.

Talvez os sábios o sejam por saberem sempre o que dizer, seja em que circunstância for. Talvez os sábios o sejam por terem sempre algo a fazer, algo a dar...não sei...mas sei que há, de facto, sábios, seres que deixaram e deixam a sua marca nesta e noutras vidas - para quem acredita, é claro -, seres que souberam perpetuar no tempo as suas palavras. E foi esse mesmo tempo que se encarregou de as enobrecer e de as tornar sábias.

A frase que se segue é das mais simples e complexas que já li até hoje. E resolvi colocá-la neste blog apenas e só porque gosto desta dicotomia, deste duplo-sentido que uma simples frase pode vir a assumir. E, claro está, é óbvio que me identifico com estes dizeres.

Assim sendo, e porque hoje parece não ser dia de textos made in Filho, aqui ficam as sábias palavras de São Francisco de Assis: "Senhor, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado, compreender do que ser compreendido, amar do que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna". (S. Francisco de Assis)

Sunday, October 28, 2007

Eu sei...


Eu sei...

Eu sei o quanto querias e queres cá estar...eu sei o quanto queria que cá estivesses...eu sei o quanto queríamos que aqui estivesses...

Eu sei...

Eu sei o quanto sentes falta disto...de tudo...das pessoas, das noites, das caras conhecidas e desconhecidas, do ambiente, de tudo...eu sei...porque sinto a tua falta também...eu sei porque sinto que falta algo que me faça não sentir a falta de algo...eu sei porque ambos sabemos o que é sentir a falta de algo...

Eu sei...

Eu sei que custa estar longe...e sei porque também eu longe estou, algures...à procura de algo que me faça regressar...eu sei porque sei o que é a distância...eu sei porque escrevi "À distância"...eu sei porque ambos sabemos o que é estar longe quando se deseja estar perto...

Mas também sei que estás e tens estado presente...eu sei que ontem estiveste ali, no meio de tantos e tantos milhares...eu sei porque te senti ali...eu sei porque até te vi...eu sei porque também sabes o que é estar presente mesmo quando se está ausente...

Eu sei...

Eu sei que tudo pode acontecer...e por isso mesmo sei o que aconteceu: estiveste ali comigo. Não foi preciso "jogar no mar flores para te encontrar"...nem foi preciso pedir aos céus para que estivesses ali comigo...

Eu sei...

Eu sei porque "guardei o beijo que você me deu", ainda que mentalmente, claro...eu sei que foi assim que surgiste...mentalmente...eu sei porque é na mente que reproduzo horas e horas de "filmes", autênticas longas-metragens...intermináveis, diria eu...eu sei porque a mente fala o que o coração não quer falar...eu sei porque o coração só fala o necessário...

Eu sei...

Eu sei porque ele ontem falou...falou comigo...virou-se para mim e disse: "Amigo, descansa...aproveita e ouve a música...porque Eu sei que ela está contigo"...

http://www.youtube.com/watch?v=zZsGWmpcai4

Tuesday, October 23, 2007

À distância...


À distância...

À distância sei que não te esqueço. Sei que estás presente, mesmo estando ausente. Sei que estás onde não estás. Sei que vou contigo para onde quer que vás. Sei que, à distância, não tenho medo: protejo-te de noite e de dia; com a ajuda de Deus e dos anjos; faço-me estar presente no ar, no mar, na cabeça ou num simples dedo...

À distância sei o que imagino. Imagino o dia em que foste como sendo o teu regresso e eu sorrindo como o menino que sou quando comigo estás. Imagino a alegria que és quando te sei à altitude de mais de dez mil pés. Imagino a figura do teu ser quando à noite quero adormecer e a meu lado desejo-te ter. Imagino que aqui dormes porque aí está muita gente e porque não poderá haver nunca quem perceba este nosso contentamento descontente que se dá porque há alguém, de entre nós, fisicamente ausente...

À distância sei-te de cor. Sei-te porque te tenho presente na mente. Sei-te porque não saber-te seria esquecer-te. Sei-te porque a tua pele em mim continua a roçar...mesmo que por agora só o possa imaginar. Sei-te tão longe que estás mesmo aqui a meu lado enquanto isto escrevo. Sei-te tão perto que nem a um pequeno beijo me atrevo...

À distância o teu perfume continua igual. É fragrância que perfuma o meu despertar matinal. É sensação de pureza que se pode sentir na essência da tua beleza, obra-prima de uma Natureza que tão bem te quis e que para onde estás agora te mandou para que pudesses ser feliz...e porque o és também o sou...nada de mim está comigo...porque todo o teu ser me levou...

À distância de mil anos continuamos os mesmos. Dois seres cúmplices, amigos, companheiros...dois seres que navegam mares distintos apenas na Geografia, porque ambicionam os mesmos direitos: o direito à Felicidade, o direito a um futuro feliz. Tal como já eu havera conseguido, depois deste "sim, estou feliz...até à distância consegues isso" eu ter ouvido...

À distância não deixamos de ser nós. E mesmo que nos sintamos sós, basta-nos apenas ouvir do outro a voz...Apaziguam-se os ímpetos, aguçam-se os apetites, lavam-se as almas e seguem-se as loucas noite de interlúdio, em que o tempo parece curto para algo que é tanto e tão nosso. Em que às vezes um até amanhã é precedido de um será que posso...

Será que posso dizer que há distância? À distância que isto redigo, é com grande gozo que me regozijo - não, não há distância. Porque se houvesse não haveria este texto. Porque se houvesse teríamos que ter um pretexto...para o que há entre as nossas duas pessoas. Não falo em nós porque sei que o nós, de momento, se encontra a sós. A sós, mas não só. Porque para estar só ele teria de estar esquecido. E isso não acontece...

E não acontece porque não há espaço para tal acontecimento. Porque sabemos que à distância há saudades. E se há saudades, há algo mais do que um simples momento. Porque tal como diz a imagem deste texto: "A distância pode causar a saudade, mas nunca o esquecimento".

Heteronimamente falando...


Hoje não sou eu que escrevo. Também não sei quem escreve. Tão pouco sei porque se escreve ou porque escrevo. Apenas sei que devo escrever...mesmo não sendo eu. O que me leva a escrever? Algo…qualquer coisa...talvez muito, talvez nada...Talvez uma qualquer ânsia de deste eu que escreve, mas que não sou eu. Mas não me perguntem qual a ânsia e de quem é...

Há dias assim...ou melhor, há noites assim. Noites em que o ar torna-se rarefeito. Em que no tudo e no nada parece haver defeito. Mesmo que o defeito esteja em mim...ou seja eu...Mas se há defeito em mim, a que mim se refere este eu que não escreve sendo eu? Ao que escreve? Ao que não escreve? Ou ao que não escreve? Confuso? Talvez não...

Talvez não porque nem mesmo eu sei quem escreve. Mas sei que quem escreve é um qualquer eu meu. É um qualquer eu que há em mim e que se mostra agora por já não mais temer o fim do seu eu interior...que pode ser interno, ou não, ao meu próprio eu. Mas seja ele mais ou menos interior, a verdade é que não deixa de ser um eu meu, um eu no qual eu também estou presente, um eu no qual sou o passado que procura o futuro neste presente actual que não se coaduna com o actualmente. Porque actualmente sou o que sou. E o que sou eu? Um eu sem mim ou um mim sem eu? Quem me encontrar saberá o que de mim se perdeu?

As voltas que este que escreve já deu. Tantas que já nem eu, que estou de fora a ler, sei a quantos este meu outro eu anda. E nem ele. Engraçado, não? Se calhar não...mas vai daí, que importa? Que importa se me sinto à leste? Que me importa se penso que este meu eu é apenas mais uma peste que surgiu porque não soube ser mais eu? Que importa? Para o eu que escreve já nada importa. Porque este eu quer partir. Quer partir para não mais regressar, para não mais se fazer ouvir. Porque este eu está longe de estar perto. Porque este eu já não é mais a água do meu deserto.

Este eu é etéreo. Este eu é transcendente. É algo que não consigo mais tocar. É força que já não posso mais controlar. É sonho que já não se impede de sonhar. É luz que não pode nunca deixar de iluminar. Este eu é Sol, é Lua, é brisa, é mar. Este eu é a molécula que faz o inquebrável não quebrar. E porque não quebra também não verga. E se não verga, resiste. E se resiste, luta, batalha e não me quer ver triste.

Mas triste hoje eu estou. Porque o meu outro eu ousou lutar a batalha que nunca ninguém ganhou, porque este meu eu nunca a quis ganhar. E não quis porquê? Porque os motivos já não eram suficientes para lutar. Mas agora surgiu um: o meu eu quer encontrar-se com o meu próprio eu. Quero ser um para poder ser uno. Quero ser um para poder ser "O". Quero ser eu para poder voltar ao meu eu...

À distância que este meu eu escreve do meu eu, não sei o que pensar. Mas sei que algo já ganhei. Porque numa mesma altura a todos os meus eus fiz pensar. Porque o meu eu sem mim nada é...porque não há nada em mim que não tenha um pedacinho do meu eu...e se em mim nada morre, então alegremente posso afirmar e aos céus bradar: o meu eu ainda não morreu!

PS- este texto tem apenas um objectivo: confundir complexamente com uma simplicidade estrondosa...hoje apeteceu-me ser heterónimo de mim mesmo...

Friday, October 19, 2007

Sinto saudades...


Hoje, mais do que nunca, sinto saudades. Sinto que sinto saudades das noites que a mim próprio minto quando digo não sentir saudades. Sinto saudades de um outrora nunca passado e sempre presente. Sinto saudades de absolutamente nada que tenha a ver com o tudo que me preenche.

Sinto saudades porque fui marcado por coisas ou pessoas que deixaram em mim marcas indeléveis, sinais de um tempo que passou, mas que está presente porque acredita no futuro. Sinto saudades porque algo ou alguém foi ou é demasiado importante para mim; porque há coisas que nada nem ninguém poderá apagar. Sinto saudades porque sou humano, porque sei que recordar é viver...mesmo que as recordações, às vezes, nos façam pensar naquilo que estamos a perder...

Sinto saudades porque sinto a necessidade de ter presentes fases, planos ou aspectos da minha vida. Sinto saudades porque quero ter algo presente em mim, porque quero saber que a saudade imensa não é aquela que parece não ter fim, mas sim a que deixa a nossa alma suspensa. Sinto saudades porque nas saudades residem o condimento do dia-a-dia que encaro sem a força da tua alegria, sem o brilho do teu olhar, sem a magia do teu sorriso.

Sinto saudades...porque sinto. Porque se não as sentisse estaria a perder o melhor de ti em mim: as recordações, as marcas por ti deixadas em terras nunca dantes calcorreadas. Sinto saudades porque nelas estás tu e estou eu; o mesmo eu que foi sem ter partido; o mesmo eu que me deixou para ir contigo; o mesmo eu que habita aqui e além, à espera do número redondo que é o cem...

Sinto saudades de pequenos pormenores, de pequenos grandes “pormaiores” que fazem com que as saudades se tornem ainda maiores e ao mesmo tempo mais dóceis e fáceis de suportar. Sinto saudades do toque suave no braço, da magia de cada abraço, das palavras trocadas no silêncio de cada olhar. Sinto saudades de estar contigo...fosse para rir, para brincar ou para aparvalhar...

Sinto saudades de todo o tudo que é nosso e que surge do nada; tal como do nada que é tudo e é todo por servir para tudo, mesmo se vindo do nada. Sinto saudades de risos, sorrisos e detalhes; de pequenos gestos que se tornaram milagres aos olhos de quem os viu. Sinto saudades de quem nada falou e tudo ouviu só por saber estar onde ninguém quis estar, por saber não negar o que nunca se sentiu...

Sinto saudades...sinto mesmo muitas saudades...Tantas que já nem o Mondego parece chegar para todas as minhas saudades poder abarcar. Mas nem por isso ele deixa de me ouvir; nem por isso ele deixa de para mim sorrir sempre que uma lágrima minha de felicidade nele acaba por cair.

E se lágrimas deito, é pela felicidade que trago escondida no peito. É porque sei que sentir saudades é bom. Porque sei que nas saudades estão pedaços de ti que aos poucos reconstruo e que aos poucos definem o que sinto. E se o que sinto são saudades, que venham elas então! Que seja invadido e inundado o meu coração. Pois sem elas a vida não teria sal. Sem elas a tua ausência seria algo de banal e a minha tristeza algo de normal.

Mas como não somos seres tristes, e porque não poderei nunca estar triste se me lembro de um teu beijo, de um teu abraço, da minha cabeça deitada no teu regaço, eis que me permito saudades sentir. Eis que me permito saudades ter...Pois nas saudades nunca chegaste a partir...e através das saudades, todos os dias, te posso ver...

Thursday, October 18, 2007

Quando o sonho passa a realidade...


Era uma vez...

Era uma vez um sonho. Um sonho que sonhava ser real. Nesse sonho havia de tudo: sentimentos, significados, pessoas e vontades. E as vontades eram tantas que até o próprio sonho começou a ter vontade própria. Estranho, não? Um sonho ter vontade própria? Talvez...mas a verdade é que este sonho queria mesmo ser real. E quis tanto que se fez ouvir: primeiro foi sonhado; depois foi assimilado; em seguida foi partilhado e a partir daí ganhou asas. O dia-a-dia passou a ser a sua força propulsora e as pessoas que partilharam esse sonho passaram a ser os fiéis guardiões de um sonho único, simples e singelo. Um sonho que por ser tão puro era tão belo. Um sonho que não poderia nunca vir a ser só um sonho...

Então o sonho ganhou vida. Passou a estar mais presente. Passou a ser algo mais do que um conto fabuloso do subconsciente humano. O sonho ganhou asas, ainda que o seu formato fosse outro...O sonho já não era uma rábula. Nem sequer era um mito. O sonho passara a meta, a objectivo, a um fim cujos meios seriam insondáveis...porque ainda ontem era sonho. A vida de um sonho não é fácil: primeiro, porque muitas vezes não compreendemos os sonhos e depois porque mesmo que os compreendamos, nem sempre conseguimos que eles se concretizem (e não interessa se há ou não culpados)...

Mas este sonho era teimoso. E em pouco tempo passou a ser uma realidade...mas não era real. Pode parecer estranho, mas foi mesmo assim. Este sonho tornou-se realidade antes de ser real. O sonho queria ser reluzente, mas não queria ser ouro. O ouro atrai muita cobiça, e este sonho era humilde e singelo. Então sonhou ser prata. Reluziria na mesma e não chamaria tanta atenção. Só que a realidade quis ser diferente do que era suposto ser o real. E o sonho foi de madeira...E se a realidade era de madeira, como viria a ser o real? Já nem o sonho sabia. Sabia apenas que já era algo mais do que o sonho. Mas não era real...mesmo sendo realidade.

Os dias passaram e o sonho parecia esmorecer. Já nada fazia prever que um dia fosse ser reluzente qual pedras preciosas encontradas no garimpo da margem do rio Amazonas. O sonho, que tanto brilho tinha por dentro e que tanto queria brilhar por fora, já estava outra vez a caminho de onde viera: do próprio sonho. Parecia condenado a uma introspecção regressiva e involuntária. Apenas e só porque não parecia ter aliados.

Porém, e porque o maior aliado do sonho é o Homem, eis que um bravo e destemido ser humano irrompe um dia no meio de uma tarde nublada e chuvosa e alcança o inédito: dá brilho ao sonho. Faz dele o que ele realmente é. Torna-o real. Fá-lo brilhar com o mesmo brilho que reside nos olhos de quem o sonhou. E quem o sonhou não acredita: o seu sonho agora é real. Já não é realidade - é real. E na realidade, o real é bem mais bonito do que o sonho. Na realidade, o real brilha tanto como os raios de Sol em manhãs de Primavera. Na realidade, o brilho do sonho mais não é do que o reflexo do brilho do olhar de quem sonhou, da alegria patente no sorriso de quem um dia sonhou e viu o seu sonho ser concretizado, do bater do coração de quem viu um sonho seu ser transformado em realidade...

"Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce" - assim terá dito o poeta uma vez, quiçá assomado por algum ímpeto mais fervoroso e mais alucinante. Mas de facto, basta sonharmos para que uma obra nasça. Seja ela qual for. Seja para o que for...

E após o reencontro do sonho com o seu sonhador, ambos seguiram juntos o seu caminho. E até hoje permanecem juntos. São amigos, companheiros, camaradas e cúmplices. São o complemento ideal entre o mundo real e o onírico. Estão bem e de saúde. Diria até que se recomendam...são felizes...estão felizes...como realmente deve ser...E se o estão e se o são, é porque o sonho alcançou o seu sonho: ser uma realidade real; mas também porque o sonhador soube sonhar e soube partilhar. E da partilha nasceu um outro sonho: o de alguém que queria ver alguém com um sonho concretizado. E porque o sonho já não estava só, o Universo conspirou favoravelmente. Moveu toda a sua cadeia de influências e fez com que não só um, mas sim dois sonhos se concretizassem. Ao ver o sonho original tornar-se real, o sonho secundário também se tornou no mesmo. Porque ambos alimentaram-se da mesma fonte: a fonte dos sonhos...

No final, nada mais resta do que esta certeza: tudo não passou de um sonho...mas tudo é, ainda hoje, bem real...

E porque contado talvez ninguém acredite, aqui fica a última certeza desta história: "Nós acreditamos...e é quanto basta". =)

Bons sonhos...

Monday, October 15, 2007

Cumplicidade...

Cúmplices. É o que ressalta destes dois seres abraçados. Parece que nunca fizeram outra coisa que não dormir desta forma. Quase que se assemelham a gémeos siameses, passe a comparação, que não conseguem nem querem viver separadamente. A calma, a serenidade e a paz de espírito são os baluartes deste quadro que vislumbramos. E neles assenta a cumplicidade.

Mas, afinal, o que é a cumplicidade? Para muitos, é o bem inatingível. São milhares os casos de pessoas que não conseguem ser cúmplices, seja em que tipo de relação for (amizade, namoro, etc). Para outros, é a trave-mestra que suporta toda e qualquer relação. Seja qual for a definição mais acertada, certo é que a cumplicidade é uma raridade nos dias que correm. Talvez porque deixamos de apreciar quem temos ao nosso lado; talvez porque estamos demasiados centrados no nosso ser e não ousamos levantar a cabeça por um segundo que seja; talvez ainda porque tememos a cumplicidade. Como se ela fosse uma doença...tss tss...

Pobres daqueles que nunca foram cúmplices, direi eu. Porque esses nunca souberam nem saberão o quão mágico é o momento em que, sem pronunciar uma só palavra, o olhar diz tudo o que nos vai na alma. Porque nunca souberam nem saberão como é bom estar a falar com alguém, que até nem precisa estar fisicamente presente, e ver que os nossos pensamentos são lidos e entendidos. Porque nunca puderam nem poderão saber o sabor de um beijo que é fruto de um desejo recíproco e apenas comunicado com a alma, o olhar e o coração...


A cumplicidade é o detalhe que determina se duas pessoas são ou não certas (ou feitas) uma para a outra. E como se atinge a cumplicidade? Quem me dera saber. Apenas sei o que vivi. E mesmo assim, sei muito pouco para poder estar aqui a explanar o que quer que seja. Talvez pudesse arriscar, mas creio que há segredos que se devem guardar (se é que eu tenho algum)...

Porém uma coisa eu sei: a cumplicidade resiste a tudo - à distância, ao frio, ao vento, ao calor, às tempestades, etc, etc, etc... E quando se tem cumplicidade os grandes obstáculos parecem simples pedrinhas da calçada. As enchentes transformam-se em ribeiras e os tufões acabam por ser meras brisas primaveris. Porque um cúmplice é um escudo; é uma fortaleza; um anjo da guarda que nos guia e nos acompanha para onde quer que vamos.

Ser cúmplice é estar no local certo, à hora certa e receber a "encomenda" certa para depois comemorar com um abraço que não se deu. Ser cúmplice é "perder" horas de sono na conversa; é não deixar o outro desanimar nem desistir, por mais estranho ou utópico que seja o seu sonho. Ser cúmplice é saber que se uma dúzia é muito, meia dúzia pode chegar perfeitamente. Ser cúmplice é estar em sintonia nas palavras, nos gestos, nos olhares, nas acções e nos silêncios.

Quando procurarem a cumplicidade, um conselho: não se esforcem. Porque ela é espontânea e natural. Tal e qual um beijo vindo do nada, no meio de tudo...e é nessa naturalidade que reside a beleza da cumplicidade...

No abraço que te dei...

"No abraço que te dei" é um texto poético da minha autoria, feito numa daquelas noites em que o sono tarda em chegar. Porém isso às vezes tem o seu lado positivo e a prova disso mesmo é o facto de ter conseguido escrever este poema. Na minha modesta opinião, este texto é um dos melhores que já escrevi, dentro do género. Retrata apenas e só o que não foi...mas podia ter sido...

“No abraço que te dei”

Expectantes lá fomos
Ver o que afinal somos,
No local que nos juntou
E onde tudo começou...

À chegada a inquietação
Palpitava no coração,
A ânsia dava já sinais
De não poder aguentar mais...

Foi então que ali eu vi
O meu brilho todo em ti,
Tal e qual como sonhei
No abraço que não te dei...

E sei que ainda assim
A alegria não tem fim,
O teu olhar brilhava tanto
Como o meu, para meu espanto...

Foi então que ali eu vi
O meu brilho todo em ti,
Tal e qual como eu sonhei
No abraço que não te dei...

O medo não me fez avançar
E a ti não te fez recuar,
Nada mais parecia haver
Senão um único som a bater,

Que batia por saber querer
O que ambos queriam ter,
Mas que por medo ou cobardia
Adiaram por um só dia...

Foi então que ali eu vi
O meu brilho todo em ti,
Tal e qual como sonhei
No abraço que não te dei...

E se atrás pudesse voltar
Sei que não voltaria a errar,
Porque não há maior passo
Do que saber dar um abraço...

E foi então que ali eu vi
O meu brilho todo em ti,
Tal e qual como eu sonhei
No abraço que não te dei…


(Espero que gostem...)

Sunday, October 14, 2007

Monólogo da Solidão...


Há alturas em que o mundo parece deserto. Somos 6 biliões de seres humanos, mas todos parecem poucos, ausentes. O tempo parece parar. A Lua, há muito no céu, parece não querer dar lugar ao Sol que apresenta um novo dia, um novo caminho. O ar sopra, mas muito levemente, como que temeroso perante a quietude e a serenidade da ausência de movimentos, de barulhos ou de ruídos.


Nessas alturas, sinto-me impotente. Perante o tempo que não avança; perante a Lua que não desce e o Sol que não sobe; perante a brisa que não ousa ser vento; perante o silêncio mais cortante que há: o silêncio da solidão.


É nesse silêncio que os nossos demónios se aproximam e tentam se apoderar das nossas almas. Fazem-nos enfrentar os nossos medos, confrontam-nos e indagam-nos, levando-nos a questionar o como, o quê e o porquê de estarmos nesse silêncio. E ao longo desse confronto, somos muitas vezes escravos do silêncio da solidão. Às vezes até nos deixamos dominar. Sentimo-nos fracos, incapazes e pouco merecedores de qualquer companhia. Chegamos mesmo a desejar cenários impensáveis ou a sondar os nossos pensamentos insondáveis. Porquê? Porque o silêncio da solidão é a criptonite de quem vive em sociedade, mas sente-se um misfit. Porque o silêncio da solidão congela, petrifica e amedronta quem não tem com quem partilhar as suas ideias, as suas ânsias, as suas vontades e ambições...


E que fazer então quando somos assolados por esse silêncio? Sentamo-nos em frente ao pc e escrevemos no nosso blog? Damos cabeçadas na parede até cairmos para o lado inconscientes? Bebemos uns copos até ficarmos grogues? Fumamos uma substância alucinogénica para podermos ver amigos invisíveis? Sinceramente, não sei. Até porque não costumo experimentar nenhuma das soluções atrás referidas. Então, como faço?


Simples: assumo, sem problemas, que estou só, que me sinto só e que sou um ser só. Mas sou-o porque a presença de outrém não acontece. Apenas e só por isso. E não me deixo dominar pelo silêncio da solidão porque possuo memória. Porque possuo em mim milhares de milhões de recordações de coisas, acontecimentos e pessoas que não permitem que eu seja acossado pela estirpe mais perigosa do silêncio. É graças a mim mesmo que não estou só. Porque sei que em espírito há sempre alguém comigo: colegas e amigos infelizmente já desaparecidos; amigos de longa data ausentes; família; amigos e conhecidos; pessoas de quem gosto, etc...todos eles estão comigo porque os trago dentro de mim. Para além disso, Deus não me deixa estar sozinho...nunca...nem ele nem o meu anjo da guarda nem os santos que me protegem...


E será que estou certo no que digo? Como não está aqui ninguém para me contrariar, acredito que sim. Estou só no meu quarto. Ouço música e deixo que os meus dedos, a mando do meu cérebro, divaguem e façam destas linhas algo digno de ser lido por mim e por outros que passeem por este meu cantinho.


O mais curioso é que ainda assim o silêncio da solidão procura fazer-se sentir...e tal como numa luta de boxe, há rounds em que sinto que ele ganha. Mas nem que seja aos pontos, a vitória final é minha. Porque amo, porque choro, porque rio e porque celebro comigo mesmo as vitórias e derrotas, as alegrias e tristezas, os amores e desamores que vivi e vou vivendo com centenas de pessoas que se cruzaram e se cruzam no meu caminho.


E porque o silêncio já nada mais tem para oferecer, afasta-se. Segue rumo a outras paragens certo de que um dia (pode ser já amanhã) vai voltar e vai triunfar. E a sua crença reside na sua tenacidade e no seu oportunismo. Mas isso não me incomoda. Até porque, e sem saber disso, ao vir ter comigo, o silêncio da solidão faz-me companhia e fortalece-me. Ajuda-me a lembrar os que gostam de mim e aqueles de quem eu gosto. Alimenta-me a alma e o espírito com as suas confrontações. Serve-me a mim ao querer servir-se de mim...


Já cá não está o silêncio. E se agora sim eu deveria sentir-me sozinho, tal não acontece. Neste espaço de tempo vi e revi quem comigo chorou, riu, perdeu e triunfou. Neste espaço de tempo senti o cheiro de quem tenho saudades, saboreei os sabores de quem para mim cozinhou, senti o toque de quem já me tocou, senti o abraço de quem já me abraçou. Neste espaço de tempo, amei e fui amado, beijei e fui beijado, enfim, pela sorte fui bafejado.


Abençoado sejas, silêncio da solidão. Pois sem ti talvez me sentisse realmente só...

Friday, October 12, 2007

Poesia...


Poesia...sentido poético utilizado por algumas pessoas para tornar a prosa mais suave, mais sensível, mais audível e menos perceptível. Porque a poesia não se escuta, não se cheira, não se vê e não se aceita. Como diria alguém, e também neste caso, a poesia primeiro estranha-se e depois entranha-se. Porquê? Quem me dera saber...


"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens; é morder como quem beija, é ser mendigo e dar como quem seja; é ter garras e asas de condor(...)"...não sei se esta é uma boa definição ou não para o que é ser poeta, mas acho que é uma das melhores que conheço. Independentemente de ser ou não, o que podemos ressalvar destas linhas é o facto de o poeta ser, quiçá, e aos olhos de alguns, um pouquinho mais além do que os outros seres humanos ditos normais. Se é que existem seres humanos normais... =)


Poesia é leveza de espírito. Poesia é utopia "prosástica". Poesia é ousar ultrapassar as barreiras impostas pelos cânones da prosa. Não que a prosa seja má ou que não mereça qualquer tipo de consideração. Mas a prosa não tem a subtileza da poesia. Não tem a beleza e a pureza de uma boa rima poética. Pura e simplesmente, não tem...


E surge este tema no meu blog porque...porque aos poucos vou ousando ser ousado. Aos poucos vou pisando o risco e vou saltando o muro que me permite ver, lá longe, as formas da poesia. Ou seja, aos poucos vou arriscando e vou experimentando novas formas de poesia. Não que eu seja um poeta nem que pretenda sê-lo. Apenas começo a ver que a poesia, às vezes, ajuda a expressar melhor certas ideias, certos pensamentos.

Tuesday, October 09, 2007

Palavras Soltas...


Hoje resolvi desafiar-me. Achei por bem chegar ao meu blog sem um assunto previamente definido. Daí o título, "Palavras Soltas". Quero ver no que isto vai dar. Tentarei usar a poesia, mas não prometo que o resultado final seja algo digno de se colocar à disposição dos blogonautas. A ver vamos...

"Palavras Soltas"

Ser ou não ser,
Estar ou não estar,
Ciente de que no fundo
Até nos podemos enganar...

Porque o que reside no engano
Mais não é do que o incerto,
Do que o triste desengano
De estar longe estando perto...

Ver ou não ver,
Pensar ou não pensar
Que a dor do Amor
É a mesma do amar,

Mesmo que o Amor seja o que é,
Algo que ninguém sabe,
O nada que nos consome,
O tudo que nos preenche

A alma, o coração,
Algo que se alimenta
De quem procura e intenta
Segmentar a sua paixão

Por um outrém que não precisa
Ser alguém ou ser real,
Pode ser o mar ou até a brisa,
Pode ser o Sol, pode ser fatal...

Palavras soltas são o que são
Valem o que valem e nada mais,
Mesmo se ditas com o coração,
Mesmo que fiquem para os anais...

E se outrora soubera ser,
E porque outrora soubera estar,
Agora apenas quero não ser,
Apenas desejo não estar,

Porque não estando, não estou,
Não sendo, não sou,
Não há caminhos, não há nada,
Não importa para onde vou...

O trilho há-de lá estar,
E quiçá um dia será percorrido,
Porém a vida não pode esperar
Que o mesmo seja compreendido,

Logo, sou e não sou,
Estou onde não estou,
Fujo para onde não vou,
Permito-me ser menos e ser mais,

Sinto o que não sinto
E sei que o sinto ainda mais
Do que se sentisse o sentimento
Que não sinto cá por dentro...

Já não sei do que falo,
Já nem sei porque isto assino,
Mas já sei porque me ralo:
Sinto falta do Homem outrora menino,

O Homem que tudo soube,
Que tudo pôde e nada quis,
Que podia ter sido rico, mas foi pobre
Porque a sua riqueza era ser feliz...

PS- bem, foi interessante escrever isto...não fazia a ideia de que era capaz de escrever sobre tanta coisa e sobre nada ao mesmo tempo =)

Monday, October 08, 2007

Your song...


Antes de mais, o senhor da foto pode ser o que for e as pessoas podem ser preconceituosas o quanto quiserem, mas não podem negar o seguinte: Elton John tem algumas músicas muito boas mesmo.


De todas elas, há uma que desde há muito me fascina: "Your Song". A primeira vez que a ouvi com ouvidos de gente, digamos assim, foi quando vi o filme "Moulin Rouge". Desde então passo a vida a cantar esta música.


Não sei bem ao certo o que me fascina tanto, mas sei que a tal música é mesmo inspiradora.


Para quem gosta da música, aqui fica o link: http://www.youtube.com/watch?v=buzVBu0bR-w

Sonho...


Martin Luther King disse um dia "I have a dream"...acho que nem ele sonhou que essa frase se tornasse tão célebre. E é o facto de sonhar que permite ao Homem ser mais e melhor, ir mais além, desafiar a lógica e os desígnios desconhecidos.


É no sonho que encontramos a força e a inspiração para podermos encarar o dia-a-dia com garra e determinação. É através do sonho que nos libertamos das nossas próprias amarras pessoais. É com o sonho que alimentamos o nosso "inter-ego": o subconsciente.


Sonhar faz bem à alma. Alimenta-a também e dá-lhe o suplemento energético necessário para que as nossas esperanças não desvaneçam, para que os nossos objectivos mais ousados não deixem de fazer sentido. O sonho alicerça a utopia que existe em cada um de nós.


Mas e se um dia deixarmos de sonhar? Que será de nós, seres humanos?


Penso que se esse dia chegar, morreremos. Não concebo uma vida sem sonhos, sejam eles utópicos ou não, sejam eles loucos aos olhos da sociedade ou não. Porque sonhar é, ao fim e ao cabo, viver. Mostrem-me uma pessoa que nunca sonhou e que é feliz, e então retratar-me-ei publicamente. Mas acredito que todos sonhamos. Todos sem excepção...


E como diria o poeta, "(...) porque pior não há do que acordar e ver que não se viveu, não se sonhou e só se morreu...", meus amigos, aceitem o meu desafio: sonhem. Sonhem e aceitem os seus sonhos.


Porque o sonho tem uma particularidade única: faz-nos felizes...mesmo que em sonhos...

Thursday, October 04, 2007

Fim-de-semana prolongado...


Sei que este tópico em nada tem a ver com o que habitualmente costuma aparecer neste blog, mas de vez em quando também é bom variar o conteúdo do que escrevo. Até para evitar cair em erros ou repetições que em nada ajudarão a credibilizar este blog (como se tal fosse possível...=) ).


No entanto, e porque não gosto nada de fins-de-semana prolongados, gostaria que os leitores assíduos deste blog se pronunciassem sobre este tema. Serei o único a não gostar destes fins-de-semana? Posso desde já dizer que o facto de não gostar não tem nada a ver com o facto de não ter o que fazer nestas alturas. Pura e simplesmente acho uma perda de tempo terrível haver tanto tempo sem que as pessoas produzam algo ou façam algo que ajude a melhorar a situação deste país.


E isto não é demagogia. Até porque Portugal é o país da UE com mais feriados, pontes e sei lá mais o que...


E pronto, como diria o meu irmão, era só isto que tinha para dizer...

Tricolor...


Há muito tempo que não escrevo nada sobre futebol. Não sei se o facto de já não praticar o desporto-rei tem alguma coisa a ver com isso, mas hoje sinto necessidade de voltar a versar sobre futebol.


O motivo? O maior clube brasileiro: o São Paulo Futebol Clube.


Falar do Tricolor paulista é falar do maior clube brasileiro da actualidade. Desde há meia dúzia de anos a esta parte que o São Paulo faz as delícias dos seus torcedores. Aos vários títulos conquistados durante este período, há ainda que juntar outros factores igualmente importantes: uma gestão rigorosa e a prática constante e contínua de bom futebol.


Graças a isso, o Tricolor é hoje líder destacado do Brasileirão 2007, com 12 pontos de avanço e menos um jogo. Caso vençamos o jogo de hoje à noite, frente ao Flamengo, abriremos a distância para o 2º classificado em 15 pontos. E tendo em conta que depois desta jornada ficarão a faltar apenas 9 partidas, penso que já se podem começar a encomendar as faixas de campeão =)


E lá vamos nós a caminho do Tetra-campeonato brasileiro. Não é para todos...

Tuesday, October 02, 2007

15 anos...


Assinalam-se hoje 15 anos da minha chegada a este país. A 3 de Outubro de 1992, então com 11 anos e acompanhado de pais e irmão, deixei a minha terra, o meu país, a minha gente. Deixei tudo em prol do sonho do meu pai, ele que tanto queria regressar às suas origens, tal como outros tantos emigrantes que, um dia, deixaram a sua terra em busca de melhores oportunidades na vida.


Não gosto muito deste dia. Desde que cá estou não me lembro de ter tido um dia 3 de Outubro como deve ser. E muito menos me apetece comemorar o que quer que seja. Apesar de já se terem passado estes 15 anos, continuo a sentir que me falta algo. E falta mesmo...


Pronto, aqui está o meu testemunho público daquilo que sinto em relação ao 3 de Outubro. Poderia ser pior.