Há muito que o merecias. Há muito que te devia uma surpresa, um gesto de gratidão e de carinho. Bem sei que também pensavas nisso, que também desejavas ter um sinal, uma prova de que eu era quem tu julgavas e que, afinal de contas, mesmo depois de tudo, me conhecias…
Ponderei bastante sobre o assunto. Afinal, não queria ser vulgar, não queria agir por agir nem agir sem pensar. Como sempre, foram muitas as horas de sono que não dormi a pensar nisso. Ao menos desta vez pensava em algo útil e belo…
Pensava em ti…pensava na forma como te haveria de surpreender, na maneira como haveria de fazer passar a mensagem certa, sem deturpações e sem duplas interpretações. Pensei tanto…e quanto mais pensava, mais indeciso ficava. Mas tive que me decidir…o tempo começava a escassear e não queria correr o risco de deixar passar a oportunidade. Apesar de tudo, a decisão não foi fácil. És tão especial que julgo não haver nada no mundo capaz de poder transmitir fielmente a admiração, o carinho, a cumplicidade e tudo o mais que possa sentir por ti…
Como tal, lá engendrei um plano. Não era perfeito, mas era quase. Não era transcendental, mas era real. Não era original, mas o que me moveu para o fazer, isso sim era, pois creio que nunca ninguém sentiu isto por ti…
Chegaste a casa. A porta abriu-se lentamente, como sempre, e, ao entrares, deparaste-te com um ambiente diferente. As luzes estavam todas apagadas. No entanto, havia luz no hall de entrada. Velas…algumas velas iluminavam o caminho. No chão um trilho de pétalas de rosas vermelhas como que estendiam a passadeira para a estrela da noite. A ladear estas pétalas, pequeninas velas também sinalizavam o rumo pelo qual deverias seguir…
Não sei se pela estupefacção ou se por outra razão, o certo é que avançaste lentamente, numa passada curta e pausada. Os teus olhos percorriam o chão, as pétalas, as velas. Na tua mente percorriam outras coisas, digo eu, coisas do tipo “o que se passa?”… Nada…nada de mais…
Entraste na sala, onde o caminho continuava a ser iluminado e perfumado, e olhaste para o sofá. Em cima dele, no local onde costumas repousar a cabeça quando te deitas no meu colo, estava um peluche. Piegas, pensaste tu…Talvez…e ainda não tinhas visto o cartão que ele trazia. O cartão dizia apenas isto “ Let’s make a night to remember”. Sim, inspirada naquela canção celebrizada por Bryan Adams…
Sorriste…de uma forma tão única, tão bela e tão singela que, se a noite terminasse ali, aquele sorriso teria sido o suficiente para me deixar feliz. Sorriste e prosseguiste por entre pétalas e velas. Começaste então a sentir o ligeiro aroma do incenso. A cada passo respiravas calmamente, examinando cada milímetro daquela casa, a tua casa, aquela que conheces tão bem, mas mesmo assim parecia-te nova…
Estavas agora a chegar às escadas. Ao longo do corrimão, reparaste tu, estavam fotos nossas, fotos de alguns dos nossos momentos mais inesquecíveis: a viagem ao Brasil, as férias em Cuba, o acampamento no Gerês…Cada imagem daquelas valia muito mais do que qualquer descrição minha aqui e agora. E uma vez mais, sorriste. E ao sorriso acrescentaste um tal brilho nos olhos que…que nem consigo descrever. São poucas as pessoas que se podem gabar de olhar para alguém e reconhecer um olhar embevecido de ternura, de alegria, de sentimentos puros e nobres. E eu, a partir daquele momento, passei a fazer parte desse lote restrito e abençoado…
Chegaste ao topo das escadas e deixaste-te estar. Contemplaste, uma vez mais, o trajecto que havias percorrido até então e depois deixaste fugir um suspiro…um longo e quase insonoro suspiro. O brilho e o sorriso permaneciam contigo, como desde o dia em que te conheci…
Avançaste então numa passada firme. Estavas segura de ti e determinada a ver o que ainda havia para ver. Suave, muito suavemente, pronunciaste o meu nome. Sabias onde me encontrar, mas mesmo assim ouvi-te a chamar por mim. Deixei-me estar onde estava…tinhas que vir até mim, senão tudo aquilo deixava de fazer sentido…
E deste comigo no teu quarto. Estava sentado à beira da cama, na qual o enorme coração desenhado com pétalas de rosa te deixou boquiaberta. A luz das velas, que tão bem iluminava o quarto, realçava ainda mais a tua beleza. Meu Deus, como és bela, pensei eu. E quanto sorte tenho…
Levantei-me e fomos de encontro um ao outro. Tentaste falar, mas não te deixei. Coloquei um dedo sobre os teus lábios e impedi que houvesse diálogo. Ainda não era hora. Abraçámo-nos como aquando do primeiro abraço, como se não houvesse mais um amanhã. E beijámo-nos…a sensação suplantou o beijo que demos há tanto tempo atrás. A magia ainda estava ali…
Sussurrei ao teu ouvido que ainda faltava qualquer coisa. Lentamente comecei a despir-te. Sem pressas, e já com um cd de músicas que nos acompanharam desde sempre, comecei a deixar à mostra esse lindo corpo que tens, essa tentação que me enfeitiça e me ensandece de loucura e de desejo. Seguiste o meu exemplo e fizeste o mesmo…
Pouco depois estávamos ambos nus. Um abraço, um beijo, uma carícia…tudo feito na mais perfeita das sintonias, na mais sublime das simbioses. Batimentos cardíacos compassados, gestos sincronizados, palavras certas, tudo isso acontecia, tudo isso era real. Pus-me atrás de ti e abracei-te. Estava agora a sentir o perfume que o teu pescoço exalava, essa fragrância que tão bem combina contigo…
Sem precisar de dizer nada, deixaste-te guiar por mim. Fomos até à banheira. Espuma, sais minerais, velas e mais rosas. Assim estava ela à tua espera. Deixei que entrasses primeiro. Não conseguia imaginar melhor cenário do que aquele que via. Estava tudo perfeito. E ainda faltavam os morangos…os quais foste comendo da minha mão, num ritual que parecia muito mais do que aquilo que é…
Sugeri umas massagens, aceitaste. Comecei a massajar-te e de repente, aproveitando a minha distracção (estava atónito a contemplar o teu corpo, a tua beleza, o teu ser), puxaste-me para dentro da banheira. Ali estávamos nós agora, ambos dentro de uma banheira que tão boas recordações já nos dera. E conseguimos que outras fossem criadas mesmo ali, naquele preciso instante. Fizemos amor ali mesmo, rodeados de espuma, de velas, de morangos, de pétalas de rosa…
Em seguida voltamos à cama. Desta vez apenas as toalhas tapavam os nossos corpos. Sugeri jantar, mas não te apetecia. Querias ficar ali mais um pouco. Isso atrapalhava o que ainda restava do meu plano, mas tudo bem. Já tinha calculado essa possibilidade e então abri a porta da varanda do teu quarto e ali estava mais uma surpresa. Mesa posta, cadeiras, comida e, claro, velas. O jantar estava à nossa espera…
“Tu és qualquer coisa…”, foi assim que reagiste, para logo de seguida te lançares a mim, cobrindo-me de beijos e abraços. Pisquei o olho para ti e levei-te à mesa…
O jantar estava delicioso, e soube ainda melhor devido à companhia, devo confessar. Estávamos a chegar à sobremesa. E na altura em que te preparavas para saborear o gelado de chocolate caseiro, música…Acordes de guitarra e de viola, vozes e…serenata…
Abeiraste-te da varanda, esquecendo completamente que só estavas de toalha, e olhaste para baixo. A serenata começava agora. Aproximei-me de ti e abracei-te. Assim permanecemos até ao fim da serenata, a qual foi gentilmente dedicada a ti. Os músicos deixaram-nos de novo a sós e aproveitei para voltar ao quarto. Faltava apenas uma coisinha…
Ao voltar à varanda, reparei que brilhavas. Toda tu eras brilho, irradiavas alegria, emoção, felicidade. Eu tinha acertado…só podia…
No céu, uma lua cheia lindíssima procurava competir contigo no que diz respeito à beleza, mas perdia claramente. Pusemo-nos a admirar a lua e foi então que me enchi de coragem e pedi a tua atenção…
“Sabes, não tenho muito jeito para isto…sempre fui melhor a agir ou a escrever do que a falar…ainda para mais quando tem a ver comigo e com os meus sentimentos…Mas hoje preciso de fazer isto assim, a falar, a dizer, olhando-te nos olhos, o que quero, o que penso e o que sinto…
És tudo para mim…Quando olho para ti sinto esperança, sinto força, sinto coisas que nunca senti com mais ninguém. Sinto que tudo faz sentido, mesmo que não exista lógica. Sinto que tudo está bem, mesmo que não esteja. Sinto paz, mesmo que esteja em guerra comigo mesmo…
Não sei mais o que dizer para além de que és a pessoa que mais admiro, que mais prezo e estimo, a pessoa que mais alegria me dá e que mais feliz me faz sentir…És o ser mais fantástico que conheço e por ti tudo vale a pena, especialmente a vida…
Aceitas ser minha…para o resto da eternidade?”
Eu sabia que já andavas a pensar nisso…lia isso nos teus olhos, nos teus gestos, nas tuas conversas nem sempre directas. E decidi que chegara o momento de avançar com isto, de consumar definitivamente aquilo que nos unia…
Foi preciso muito para ali chegar. Só Deus sabe o quanto passei, o quanto sofri, o quanto desacreditei para agora estar ali a pedir-te algo desta natureza. Mas tudo valeu a pena. Porque sem isso nunca te teria conhecido, nunca teria dado real valor a sentimentos únicos e sensações nobres. Sem isso nunca teria tido a oportunidade de te dar o teu real valor também…
Tu, entretanto, fitavas-me com uma atenção e uma força descomunais. Comecei a temer um “não” como resposta. Os segundos passavam e não dizias nada. Apenas olhavas para mim. O meu coração batia a mil à hora. Tentei manter a calma, mas não era fácil. Até que…
Deixaste cair a toalha…Ali estavas tu, nua, lindíssima, esplendorosa, a caminhar na minha direcção com a firmeza de uma felina, de alguém que sabe de antemão o que vai fazer…
Fizeste cair a minha toalha também. E abraçaste-me. Saltaste para o meu colo e sussurraste ao meu ouvido “Te amo”…Um arrepio de alegria percorreu-me a espinha. Era tudo o que eu queria ouvir. Estava quase a dizer obrigado, quando colocaste um dedo nos meus lábios e puxaste-me para o interior do quarto…
A seguir…bem, o resto é fácil de imaginar. Fizemos amor como se o tivéssemos feito sempre, desde os primórdios da Humanidade. No mínimo, foi mágico…
E antes de adormeceres no meu peito, coloquei-te o anel no dedo. Era oficial agora. Afagava-te o cabelo e acabaste por adormecer. E logo a seguir fui eu…
Acordei…e vi que tinha sonhado…Acontece, acho eu…