Uma vez mais tenho visitas à noite. Não, não são amigos. Pelo menos não de carne e osso. Não, também não são Anjos ou Espíritos (quem acredita neles, sabe do que estou a falar). Estou a falar de uma visita especial, única até…Estou a falar da Insónia…
Uma vez mais ela me vem visitar. Permitam-me que a trate assim (“ela”) desta forma tão pessoal, tão próxima, como se de uma parente minha se tratasse ou como se fosse uma visita corrente. Até porque, de facto, ela o é. Não é minha parente, mas visita-me mais vezes do que 99% dos meus familiares. É claro que estou a exagerar…o correcto será dizer "visita-me mais vezes do que 99,9% dos meus familiares"…
Mas não me queixo. Pelo menos não em relação aos tais 99,9%...são apenas números, estatísticas (nunca gostei muito de estatísticas – a minha explicadora que me perdoe) e isso não interessa para o caso. E também, creio eu, não me vou queixar desta visita, desta Insónia. Não vale a pena…Ela não irá desaparecer por causa disso…
É curioso constatar que passo muito mais tempo acordado do que a dormir. Às tantas, e de forma inconsciente, devo estar a tentar bater o recorde mundial de menos horas dormidas ao longo da vida. Às tantas…
Se querem que vos diga, não, não gosto de dormir assim tão pouco. Nunca fui de dormir muito (claro está que a seguir a uma noitada ou a uma noite mais agitada, sabe sempre bem dormir mais qualquer coisa), mas não me lembro de dormir tão pouco como de há uns tempos a esta parte. Eu ainda pensei que fosse inverter essa tendência, visto que há três semanas estive a bater o meu próprio recorde (dormi, durante 15 dias, das 00h às 7h30, sempre, sem interrupções). Porém foi fogo de vista e voltei ao que me é mais habitual: as noites em claro…
Claro está que podia tomar alguma medicação…Mas para quê? E se, entretanto, me vicio nos comprimidos? Prefiro não arriscar. Prefiro passar noites e noites em claro. Sempre dá para fazer alguma coisa. O quê? Ora bem, ora bem…Dá para escrever os meus textos (não sei porque, mas grande parte da minha veia literária só se manifesta a altas horas da madrugada), dá para pensar na vida (coisa que nunca paro de fazer, é verdade, mas à noite a tendência acentua-se), dá para sonhar acordado (também o faço constantemente), dá para falar sozinho, com Deus, com as paredes, enfim, dá para muita coisa…menos para dormir…
Ainda agora, neste preciso momento, posso-vos dizer que estou com pouco mais do que 1h e qualquer coisa de dormida, em relação à noite passada, e permaneço impávido e sereno, como se nada fosse, como se tivesse acordado há meia dúzia de horas. É triste eu sei. Mas creio que há coisas mais tristes. Mas neste contexto, sim, é triste. Não é bom saber que o resto do País dorme (ou a grande maioria) e eu estou aqui, a pensar na vida, a sonhar acordado, a escrever textos non-sense…
Mas as coisas são mesmo assim, não é? Eu já tentei de tudo um pouco, mas parece que nada resulta. Só ainda não tentei uma ou outra coisa (nada de mal, atenção), mas também não me parece que vá experimentar isso (e não, não me estou a referir a comprimidos ou substâncias menos lícitas e passíveis de me endrominarem ao ponto de cair para o lado e arrochar feito uma pedra ou um urso em hibernação). Por um lado acho que até sei o que poderia me ajudar numa situação destas…mas, pronto...não será por aí…Com alguma pena minha, mas não será por aí…
E até que o sono resolva ocupar o lugar da minha amiga Insónia, cá continuarei eu a escrever, a sonhar, a pensar, a cantar (esqueci-me de enunciar esta minha especialidade há pouco). Cá continuarei eu a tentar fazer render estas horas intermináveis, estes segundos eternos. E assim lá irão aparecer mais e mais textos, mais e mais conversas, mais e mais sonhos…
Ainda bem que não publico nem 1/5 do que escrevo. Ainda me internavam em Sobral Cid ou no Júlio de Matos, em Lisboa. Soubessem vocês o que paira nesta mente a estas horas, hehe…Paira tanta utopia, tanto sonho, tanta tolice que…ai ai…só dá para rir, mesmo…Acho que até a própria Insónia se ri disto tudo. E sei que ela gosta de me visitar. Doutra forma não se faria apresentar em meus aposentos quase todos os dias, certo?
Ao menos assim vou tendo companhia. Ao menos assim vou tendo quem me acompanhe nestas delirantes viagens, nestes meus utópicos devaneios. Valha-me antes isso…