Sunday, April 27, 2008

(In)Diferente...


A atmosfera parece estar a mudar. Sinto algo de diferente a cada passo que dou, a cada esquina que dobro, a cada pessoa que cumprimento. Não, não é nada motivado pela pessoa com quem falo ou com o pavimento que lenta ou apressadamente vou calcorreando…

Sou eu…eu estou diferente. Para melhor ou para pior? Depende das perspectivas. Na minha perspectiva, estou…diferente. A noite já não é a mesma para mim; a alvorada assume outros contornos; nem tudo merece ter um princípio, um meio ou um fim; lá fora tanto se ouve o chilrear de um passarinho como o grasnar de um bando de corvos…

Com isso assumo a diferença que em mim se faz sentir. Sinto-me indiferente à indiferença. Sinto-me pertencente à classe dos “sem pertença”. Sinto-me habituado a que me julguem pelos actos presentes e pelas faltas ausentes. Com isto, acabo por notar que algo em mim muda, que algo em mim surge, vai, vem, parte, regressa e torna a partir sem deixar rasto…

E tão-pouco procuro eu esse rasto. Não sinto a mínima vontade de o procurar. Dizem que faço mal, que deveria procurar saber o que seria. Ou será. Ou poderia ser. Mas não. Recuso-me. Afinal, estou diferente, sou diferente. E também me sinto indiferente…

Não, esta indiferença não é a mesma dos que já nada querem, nada ambicionam e nada desejam. A minha é diferente. A minha é minha, é única e é bonita. A minha indiferença é o meu bote de salvação, é a minha escapatória para uma vida que, por vezes, parece condenada a não ter glória. A minha indiferença é o que me mantém por aqui nestes dias…

Com ela ouço as palavras que nunca disse e que nunca soube calar; ouço os sons que sempre quis ouvir, mas nunca soube decifrar; ouço as ondas que rebentam por aqui mesmo que não tenha eu um mar; vejo os traços de quem um dia, sem querer, ousei beijar; sinto os braços de quem um dia me soube embalar; toco na alma de quem um dia ousadamente quis amar…

A atmosfera parece estar a mudar. São os ventos de mudança que, talvez, se façam anunciar. Não sei que novas trazem, nem sei se trazem alguma coisa. Sei apenas que para algo hão-de servir. Quanto mais não seja para varrer o que não precisar de cá ficar e para transportar até algures a mensagem que, sem saber qual é, poderá servir a alguém ou chegar a ninguém…

Mas chegue onde chegar, vá para onde for, há uma certeza que fica no ar: o rasto que não quero seguir, atrás de mim há-de continuar. Não tem nome, não tem rosto, não tem cheiro e não tem cor. Mas eu sei onde ele está, sei quem ele é e sem qual a sua cor. Um dia chegaremos lá, onde o seu nome é, no fundo, o meu destino. Um dia chegarei ao Amor…

Sunday, April 20, 2008

Não te prometo, mas...

Um amigo, em conversa comigo, confidenciou-me o seu medo de perder a pessoa amada. Disse-me que as coisas têm andado complicadas e que a sua amada é uma pessoa com alguns “problemas” difíceis de ultrapassar. E acabou por me pedir conselhos e opiniões e pediu-me para o ajudar. Fosse como fosse…

Na altura, pouco mais fiz do que o reconfortar. Não podia dizer muito, não sou sábio nem culto ou entendido o suficiente para poder ajudar alguém com problemas amorosos (basta ver como me encontro nesse campo…). Acabei por lhe dar alguns pontos de vista e prometi que ia pensar no assunto…

E, de facto, assim o fiz. Coloquei-me no lugar dele, imaginei-me no lugar dela (não foi fácil, mas lá teve que ser) e acabei por alcançar algo. Pelo menos, quero acreditar que sim…

Como tal, aqui fica a minha ajuda para este meu amigo:

“Querida,

O que me traz aqui hoje é tão-somente a “coisa” mais importante que tenho na vida neste momento: tu! É por ti que penso, repenso, faço e refaço tudo o que faço e deixo de fazer, tudo o que penso e deixo de pensar. É por ti que hoje aqui estou. Por ti e por nós…

Lembras-te de quando tudo começou? No princípio tudo parecia um conto de fadas, lembras? Tudo parecia um sonho, uma história surreal de felicidade no mundo real que habitamos. Tudo era novidade, excitante. Todos os problemas pareciam ter solução, não havia obstáculo que não pudesse ser ultrapassado, não havia tempestade que não enfrentássemos de peito aberto…

E com isso fomos crescendo, fomos ganhando confiança, ambição e cumplicidade. Aos poucos o nosso grande sonho parecia ser possível – estávamos a caminho da Felicidade. Fomos fazendo planos, fomos afugentando medos e até os fantasmas do passado fomos extinguindo…

E do nada veio um “Adoro-te”, seguido de um “Adoro-te Muito” e de um “Também Sinto a tua Falta”. Cada vez mais sentíamo-nos importantes um para o outro. Ansiávamos por mais tempo juntos, contávamos as horas e os segundos que faltavam para os nossos programas. Era tudo tão lindo, tudo tão belo…

Mas a vida dá muitas voltas, não é?

E lá surgiram os problemas. De repente, os medos voltaram, os fantasmas ressuscitaram e tudo o que havíamos dito, feito e pensado parece ter deixado de ter valor. Afugentaste-te de mim e de ti. De nós, ao fim e ao cabo. Acabaste por te deixar enredar nas tuas próprias tramas e receios. Não, não te culpo. Culpado sou eu por não ter sabido proteger-te de tudo isso e muito mais. Culpado sou eu que não consegui impedir que se voltassem a ouvir os teus “ais”…

Desde então tenho tentado. Às vezes temos tentado. Mas nem sempre vamos conseguindo. Custa-me admitir isso. Nem sabes quanto, não imaginas mesmo. Custa-me saber que estou a lutar umas vezes por nós e contra algo, e outras vezes por nós e contra ti também…

Dizes que tens medo, que há muita coisa em jogo, etc e tal. Eu sei. Acredita que sei. Sei mais do que imaginas. E também tenho medo. Também eu tenho muita coisa em jogo. Também eu tenho os meus momentos de dúvida, de ânsias, de negação. Também eu tenho alturas em que preferia não ter coração…

Mas por ti estou disposto a ter. E estou disposto a tudo. Quero tentar, quero ir até ao fim. Quero ser um eu mais eu em mim. Quero alcançar a meta contigo a meu lado. Quero que seja realidade o teu sonho mais sonhado…

Tens medo de tanta coisa, não é? E receias outras tantas mais…E nem sempre, ao olhares para mim, te sentes plenamente segura…Pois, eu sei como isso é…

Mas…estou aqui. Tenho estado e não vou fugir. Não te vou abandonar nunca. A não ser que mo peças. Espero que não o faças, mas se o fizeres, assim o farei. Por mais que me custe…

Mas eu estou aqui. E tenho estado. E juntos temos sabido ultrapassar as coisas, não temos? Com maior ou menor dificuldade, lá vamos desbravando caminho, lá vamos descobrindo o porquê de nenhum de nós querer ficar sozinho…

E eu sei que isto pode continuar a ser assim. Eu sei que isto não pode ter chegado ao fim. Sei que a Felicidade está a nossa espera. Sei, acredita que sim…

Como tenho tanta certeza? Simples…

Apesar de não te poder dar garantias sobre o futuro (não sou bruxo nem vidente), sei o que posso fazer por ti, sei o que podes fazer por mim e sei o que podemos fazer um pelo outro. O tempo que passámos juntos é mais do que suficiente para saber isso…

Queres certezas? Não tenho certezas universais, mas tenho as minhas certezas…sobre nós…

Não te prometo a eternidade, mas prometo fazer com que todos os nossos momentos se tornem eternos. Não te prometo todas as jóias, anéis e diamantes do mundo, mas prometo fazer de ti a “jóia” mais bela de sempre, prometo ajudar a lapidar esse belo diamante que és tu. Não te prometo fazer rir todos os dias, mas prometo não te fazer chorar nunca…

Não te prometo este mundo e o outro, mas prometo que serás o meu Universo e que juntos seremos a mais bela de todas as galáxias. Não te prometo o céu, mas prometo que nunca conhecerás o inferno. Não te prometo o Sol para todos os dias, mas prometo afastar as nuvens e a chuva que poderiam encobrir o teu sol…

Não te prometo estar sempre presente, mas prometo nunca estar ausente. Não te prometo um mundo mais seguro, mas prometo que estarás sempre em segurança nos meus braços. Não te prometo uma vida doce, mas prometo que doces serão todos os meus beijos. Não te prometo palavras sempre certeiras ou longos diálogos, mas prometo saber falar através do silêncio de um olhar, do calor de um abraço ou da ternura de um beijo…

Não te prometo a fuga à morte, mas prometo que darei a minha vida por ti. Não te prometo a alegria plena, mas prometo que nunca virás a conhecer a tristeza. Não te prometo tornar-te princesa, mas prometo que te sentirás sempre uma rainha. Não te prometo estar sempre certo, mas prometo procurar nunca estar errado…

Não te prometo ser infalível, mas prometo que não te quero nunca falhar. Não te prometo nada que não possa cumprir, mas prometo cumprir até o que não prometi…

Não te prometo amor eterno, mas prometo um amor para toda a vida. E se esta vida não chegar, prometo que te irei procurar na próxima. E na outra a seguir. E na outra também. Fá-lo-ei para que saibas que pretendo cumprir as minhas promessas até mesmo no Além…

Querida,

Foi só isso que me trouxe aqui hoje. Aqui me tens perante o teu ser, a tua beleza, perante a criatura mais bela da Natureza. Aqui me tens de alma e coração abertos. Tudo o que disse é sentido. E tudo o que disse será cumprido. Até porque o prometido é devido…

E se isto não for suficiente para que juntos possamos continuar rumo ao nosso destino, então desculpa-me. Perdoa-me não saber mais, perdoa-me se, em vez de homem, ainda sou um menino…

Mas este menino quer crescer. Quer ser Homem e quer lutar por ti. Até ao fim. Porque vales a pena. Porque a nossa história não é nada pequena. Porque “muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa”. Porque isto é Amor…

E neste tempo em que temos estado afastados e separados, acabei por me dar conta disso mesmo: I L Y. E tenho cada vez mais saudades tuas. Muitas mesmo…

É por ti que aqui estou hoje. Por ti e por nós. E tudo o que quero é, um dia, poder olhar para trás e sorrir ao contar esta história, esperando que, quando isso acontecer, não nos encontremos, afinal, a sós…

Sempre teu…”

PS – E pronto, foi desta forma que tentei ajudar o meu amigo. Espero bem que tenha sido mesmo uma ajuda. E se houver gente que se queira inspirar nestas palavras, força, não me importo. Ao menos que alguém possa ser feliz…And by the way, good luck, my friend...

Friday, April 18, 2008

Sons...


Tão perto e tão longe. É assim que hoje me sinto. Sinto-me perto de mim e longe do meu eu. Sinto-me longe do mundo que um dia alguém me prometeu. Sinto que sinto que não sei o que sente este que, hoje, é o meu próprio eu…

Mas afinal, o que é o perto e o longe? Como se mede a distância dos sentimentos? Como se sabe até que ponto existe um longe ou um perto naquilo que sentimos e percebemos? Mede-se pela dor, pelas lágrimas, pela soturnidade? Ou medir-se-á antes pela sensação de que há e haverá sempre um perto e um longe, talvez até à eternidade?

Não, não estou dorido, nem a chorar, nem tão-pouco soturno. Estou antes cansado, moído e dormente. Também reina em mim alguma tristeza, alguma apatia perante a chuva que continua a cair não só lá fora, como também sobre e em mim. Sou o reflexo das nuvens que encobrem o sol, sou a extensão das águas que caem do céu e inundam ruas, vielas e calçadas, sou como que o uivo do lobo que se ouve, ecoa e se escoa ao longo das madrugadas…

E mesmo que esse eco se propague para longe, a distância continuará a ser subjectiva, quase que surreal. O eco pode ser mais audível lá para onde vai do que aqui de onde foi. E isso não se explica. Apenas acontece, tem lugar e sucede. E é nessa sucessão, nesse encadeamento de situações, de ecos e gritos, que tudo assume a forma disforme que, por vezes, se torna uniforme. É nesse emaranhado de reverberações que se tornam inaudíveis, mas perceptíveis, as ânsias, as mágoas e o bater desses corações…

Sim, porque batem os corações, batem esses órgãos tão simples e complexos, esses seres cujos intuitos, por vezes, parecem desprovidos de nexos. Não que o coração tenha que bater com outro objectivo que não aquele para o qual nasceu. Não que o coração tenha que ser mais do que o próprio eu para o qual nasceu. Não, creio que não. Mas talvez pudesse ser menos enigmático, menos misterioso, menos inquietantemente inquietante. Mas pronto, há que aceitar…há que continuar a medir a distância e o valor de longe e do perto…

Porque ambos continuarão a existir, ambos continuarão a ser o que são: conceitos inquantificáveis, impossíveis de aquilatar, concretamente abstractos e gradativamente redutores de tudo o que é e deixa de ser importante quando falamos de sentimentos…

Talvez por isso me sinta assim, tão longe e tão perto. Talvez por isso sinta que, enquanto a chuva cai, estou em plena travessia do deserto. Talvez por isso o coração bata longe, muito longe, demasiado longe. Tão longe que quase não o ouço, tão longe que mal dou por ele…

E se porventura o seu bater ressoa e ecoa novamente até mim, eis que dou comigo a rir, eis que dou comigo a chorar…por não saber se tal som voltarei a ouvir….se tal som me voltará a tocar…

Tuesday, April 15, 2008

Só para que saibas...


…que estou aqui…

(Para uma amiga especial)

Hoje escrevo...


Hoje escrevo para os que amam, para os que amam inocente e pacientemente à espera de um amor que talvez nunca chegue. Escrevo para os que realmente sabem amar sem nada pedir em troca, os quais amam de forma pura e cristalina. Escrevo para os que aguardam pelos lábios doces e suaves, pelas mãos macias e carinhosas, pelos olhares ternos e brilhantes, pelos sorrisos pueris e contagiantes. Escrevo para os que sonham com os braços que embalam, protegem e abraçam, para os que desejam ouvir aquelas palavras sussurradas ao ouvido, para os que ainda querem acreditar no Cupido…

Hoje escrevo para os que ainda querem tentar. Escrevo para os que ainda acreditam que vale a pena tentar, que vale a pena um último esforço, uma última braçada até à margem, um último fôlego para alcançar o tesouro que se encontra no fundo do mar. Escrevo para os que estão cansados de tentar, mas que mesmo assim ainda ponderam vir a tentar. Escrevo para os que passaram a vida a tentar sem nada conseguir, sem nada alcançar. Escrevo para os que tudo, um dia, alcançaram e que hoje nada têm. Escrevo para os que sempre tiveram tudo e que passaram a vida a tentar ter mais ainda, sem se aperceber que a “riqueza” que tanto procuravam estava mesmo ao seu lado…

Hoje escrevo para os que sofrem, para os que anseiam e para os que choram. Escrevo para os que são alvos de constantes amarguras, para os que têm o azar de não ter sorte. Escrevo para os que passam a vida a pensar na morte, para os que rumam sem destino nenhum aparente, mesmo que digam que estão à procura de um norte…

Hoje escrevo para os que riem, sorriem e são felizes. Escrevo para os têm motivos para ser alegres, para os que são abençoados com as mais diversas benesses, para os que sabem reconhecer as mesmas em suas preces…

Hoje escrevo por tudo e por nada. Escrevo pela beleza do amanhecer e pela calma da madrugada. Escrevo pela noite, pelo dia, escrevo pela tristeza e pela alegria. Escrevo porque, de facto, preciso de escrever para que me possa acalmar, para que possa adormecer…

Hoje escrevo para todos e por todos. Escrevo pelo mundo que vejo e pelo que não vejo, mas sei que existe porque o sinto. Escrevo para ver se, uma vez mais, não me minto. Escrevo por já não saber mais o que fazer para tudo isto de mim arrancar, para tudo isto em mim conter. Escrevo por saber que a escrita é-me terapêutica, que me ajuda a ajudar a mim mesmo…

Hoje escrevo com o pensamento em tanta coisa que não hei-de nunca escrever. Escrevo com a mente a abarrotar de ideias, frases, conceitos, cenários, preconceitos e sentimentos que nunca deixarão de ser uma abstracção. Escrevo com a certeza de que já não sei se me move a mente, a loucura ou o coração. Escrevo sem saber qual o nexo do que escrevo, quais as linhas orientadoras que me desorientam no rumo que, sem calcular, tracei para este texto…

Hoje escrevo com o pensamento…enfim, nem me atrevo a dizer. Escrevo a olhar para algures, a imaginar qualquer coisa, a sonhar com qualquer outra coisa, a desejar outra coisa mais, a aspirar a outra coisa ainda. Escrevo porque pouco mais sei fazer. Escrevo porque na escrita sinto que me posso perder, mesmo que nela não me volte a encontrar. Escrevo porque sou como todos os que me merecem estas palavras e como tantos mais que nunca as merecerão. Escrevo com a alma cravejada de solidão…

Hoje escrevo por pensar no que penso, por não fazer o que penso, por não dizer o que sinto. Escrevo por ter tanto para escrever. Escrevo na esperança de que a esperança nunca venha a morrer e que a minha escrita continue a aparecer, pois preciso dela. Escrevo imaginando que este texto é um barco à vela e que os ventos serão favoráveis e que conseguirei atracar num porto seguro, num local agradável, num mundo diferente…

Hoje escrevo na esperança que haja alguém que perceba o que digo, alguém no meio de tanta gente. Escrevo na esperança que haja alguém que saiba ler nas entrelinhas o que eu nunca saberei dizer em todas as minhas linhas. Escrevo para que alguém possa saber que a minha escrita é a minha fala. Se eu fosse mago, gostaria que ela fosse o meu poder…

Hoje escrevo porque posso, porque ainda consigo redigir meia dúzia de palavras. Escrevo porque há coisas que me fazem escrever, pessoas que me levam a escrever e esta vida porque faz por merecer. Escrevo para os ausentes, para os presentes, para os visíveis e invisíveis. Escrevo para os eternos e os perecíveis. Escrevo para os que buscam o que não querem e para os que querem o que não buscam…

Hoje escrevo sem nexo, escrevo sobre o amor, a paixão, a felicidade ou o sexo. Escrevo sem a lógica que não procuro ter. Escrevo porque me sinto internamente a arder. Escrevo porque já não ganho nada há muito, logo, porque estou a perder. Escrevo por ter a alma dorida, por ter no corpo as mais variadas cicatrizes causadas pela passagem da vida…

Hoje escrevo por estar prestes a rebentar. Não de raiva, nem de loucura, nem de nervos. Escrevo por estar prestes a rebentar a escala que mede qualquer coisa que não sei medir, que regista a altitude do balão que utilizo para subir, mesmo que saiba que quanto mais alta é a subida, mais dolorosa poderá ser a queda…

Hoje escrevo antes que vire pedra, antes que deixe de querer escrever. Escrevo sem nenhuma razão aparente para além daquela que me faz escrever. Escrevo acompanhado de tanto e de coisa alguma. Escrevo no meio do vazio que me ladeia e que ocupa os espaços que destinei outrora…enfim, escrevo por me apetecer escrever agora…

Hoje escrevo por impulso, por irracionalidade e por encomenda. Escrevo porque já não tenho emenda. Escrevo porque escrever faz parte de mim. Sou sem ela o que ela é sem mim…

Hoje escrevo e não vislumbro um fim, pelo menos para a escrita. Escrevo a pensar que não escrever é, talvez, o que mais me irrita. Escrevo pela paixão, pelo amor e pelo desejo que sinto e tenho…pela escrita…

Hoje escrevo…mas só hoje, prometo, só hoje escreverei assim, sem um final aparente, sem um aparente fim…

Hoje escrevo para que tudo se possa afastar e para que algo se aproxime de mim...

“Hoje escrevo” chega ao fim…

Monday, April 14, 2008

Oxalá...


Ainda me lembro de quando arriscava, de quando me atirava de cabeça e só depois é que pensava nas consequências. Ainda me lembro de quando o mundo era o meu palco e eu actuava as vezes que fossem necessárias sem ter que me refugiar no camarim ou sem ter que pedir para que se baixassem as cortinas de forma a poder descansar, meditar…

Ainda me lembro de ser furacão dentro de qualquer tempestade, de ser o fiel paladino da eternidade, o eterno sonhador em busca da Felicidade. Ainda me lembro de não temer quedas, obstáculos ou barreiras. Ainda me lembro de não ter medo de errar, de fazer asneiras…

Ainda me lembro de nada temer e tudo enfrentar, de tudo querer e tudo alcançar. Ainda me lembro das lutas, das batalhas, das guerras, dos erros e das falhas. Ainda me lembro de como, onde, quando e porque fiz cada uma destas cicatrizes. Ainda me lembro de ter sido rei entre donzelas, senhoras, meninas, senhoritas e até “meretrizes”…

Ainda me lembro de tudo quanto me faça bem e mal, ainda me lembro de tudo o que me levou a este fim, a este final. Ainda me lembro da força que me impulsionava, da mão que me embalava, da boca que me beijava e da pessoa que me acariciava…

Ainda me lembro…Acho que ainda me lembro de tudo. E até do nada que um dia foi tudo, mas que deixou de o ser, não fosse algo acontecer. E aconteceu…

Aconteceu que ainda me lembro, que trago tudo gravado em mim. Por dentro e por fora, todo eu sou páginas e páginas de histórias verídicas e verdadeiras. Todo eu sou infindáveis trilogias de histórias que, definitivamente, já viram melhores dias. Todo eu sou vestígio, resquício de tudo o que me lembro. E eu me lembro de tudo, o que não sei se fará de mim um sortudo…

Ainda me lembro de quando eu fazia e acontecia, de quando o mundo era o que eu quisesse que ele fosse. Ainda me lembro, sim…Mas já não existe esse “eu” em mim…

E não existe porque me lembro…Demasiado…De tudo, de nada, de muito e de pouco. Lembro-me de tanta coisa que me sinto a ficar louco. Louco por trazer em mim tanta memória, tanta lembrança que já não voltará a ser esperança. Louco por saber que sou e estou ciente do que fui e do que sou. Louco por saber que o que fui, partiu um dia para bem longe e nunca mais voltou…

E até desse dia me recordo…Sei bem quando parti de mim mesmo, quando fui para não mais voltar. E agora já não posso fazer mais nada. Parti para nunca mais regressar, parti sem rumo ou destino traçado, parti sem saber que deixei-me entregue a mim mesmo e isso é pecado…

Ainda me lembro…e por me lembrar de toda a minha coragem é que, hoje, me sinto covarde. E não gosto de sentir esta covardia…Oxalá um dia me volte a coragem…Oxalá volte a ser corajoso um dia…

Sunday, April 13, 2008

Momento Final...


“ Momento Final – Santos e Pecadores “

Sentado e a árvore ali ao pé de mim
O vento agora já nem vem aqui
Deixei de ter com quem falar
Fiquei sozinho com o meu olhar

Oh, oh, oh, oh
Oh, oh, oh, oh

O longe se faz bem mais perto
Sentindo que o vento corre incerto
Ouvindo sons que só eu sei pensar
Sorrindo parto para outro lugar

O meu momento final
Sei que tenho um lugar
Onde o santo e pecador
Pode enfim descansar (2x)

(Instrumental - Fim)

Porque a vida é um conjunto de momentos, e porque esses mesmos momentos poderão ser sempre momentos finais, aqui fica o “meu” momento final…

Thursday, April 10, 2008

LF, o Eterno Desconhecido...


Falso, mentiroso, manipulador, interesseiro e frio. Que fariam se recebessem uma carta em vossa casa a acusar-vos de serem isso tudo e mais alguma coisa? Qual seria a vossa reacção?

Aposto que estão espantados com a pergunta...
Mas não estejam. Não estejam porque fui agraciado com tamanha dádiva. Recebi ontem, em minha casa, uma carta de uma amiga a descrever-me (ainda que num determinado contexto, que não tem nada a ver com o foro sexual ou de relacionamento físico para além da amizade) com esses mesmos termos, essas mesmas palavras. Não acreditam? Podem acreditar. E sim, ela é minha amiga...

O que fiz eu ao ler tais palavras? Sorri. Mais nada. Sabem, já me chamaram coisas bem piores na vida e os termos com que ela se dirigiu a mim não são mais do que aquilo que são. Simples palavras, simples termos cujos intuitos ainda não sei bem quais seriam, mas isso pouco importa. Importa sim que esta minha amiga fez o que fez com base no pressuposto de que me conhece...


Na altura pensei que, um dia, haveria de aproveitar a tal carta para escrever algo sobre ela, um texto, uma crónica, sei lá. Não que a carta seja valorosa a esse ponto, mas sim porque acho piada quando dizem que me conhecem, que sabem o que é melhor para mim, que sabem como e em que penso e porque penso, que sabem como devo agir e reagir, que sabem como sou e deixo de ser, enfim, que sabem o que é e quem é o Laurindo Filho...


E pensava eu que só mais tarde aproveitaria a tal carta quando eis que, e por ter que tratar de um assunto, fui falar com uma amiga minha para me ajudar e aconteceu o que não queria que acontecesse...pelo menos não naquela hora: revi os meus bébés (leia-se, os meus cães, a Luna e o Nilo)...

E o que isso tem a ver com a carta? Tudo ou nada. Depende da perspectiva. Ao vê-los, não pude conter a emoção de ter estado cerca de 8 meses sem os ver. As lágrimas pediram licença para cair, mas não permiti. Deixa-as apenas estar à porta. Ao me verem, os meus meninos vieram logo a saltar e a lamber-me as mãos, todos sôfregos e contentes. Mas não estiveram tão efusivos como alguns de vocês poderiam imaginar...

É que eles notaram que estava triste. Aliás, emocionado. Felicíssimo por voltar a vê-los, mas triste por saber que não poderia ficar muito tempo com eles porque tinha que regressar rapidamente a Coimbra. Por isso não os queria ver. Porque sabia que, ao vê-los, precisava de ter mais tempo para estar com eles...


E com isto quero eu dizer que...? Que ao fim de 8 meses, os meus cães reconheceram-me. Não me ladraram, não me rosnaram, não se amedrontaram, não fugiram. Vieram ter comigo e saudaram-me como se os 8 meses fossem, na verdade, 8 dias. Mas não são. São 8 meses. E mesmo assim eles me reconheceram...


Já a minha amiga, a que me mandou a carta, julgando que me conhece e achando-se no direito de, resolveu enviar-me uma carta depois de alguns dias de "esquecimento", "distância" e "vazio", utilizando palavras dela. E com isso, com este meu comportamento, passei de algo que só eu e ela sabemos, ao falso, interesseiro, manipulador e mentiroso. Giro, não acham?

Eu acho que é o que é e vale o que vale. Não pensem que por falar disso aqui, que lhe estou a dar relevo ou importância. Não, não estou. Quero apenas que todos possam aprender as facetas que o ser humano pode assumir. E até que ponto nós realmente somos conhecidos ou não, até que ponto nos conhecem ou não...

Eu posso afirmar que há apenas uma pessoa que me vai conhecendo, por esta altura. Atenção e notem bem: que me vai conhecendo. Por acaso até sabe demasiado...mas porque eu quero que assim seja e porque sei que a nossa amizade se vai solidificando assim, aos poucos e mutuamente. De resto, e apesar de ter amigos de longa data, esses amigos só me conhecem até certo ponto. Sempre fui assim. Talvez seja erro meu, mas nunca me deu para mudar. Prefiro assim...


Ou seja, ninguém me conhece bem, bem, bem. Não a 100%. Eu sei que é quase impossível conhecermos alguém a 100%, mas também sei que é possível chegar lá. Só precisamos de paciência, respeito, convivência, etc e tal...

Como tal, e porque seria injusto dar a ideia de que estou aqui a massacrar a autora da carta, venho aqui dizer exactamente o contrário. E agradeço a ela esta lição. Que lição?

A seguinte: obrigado amiga...por me mostrares o porquê de, cada vez mais, ter a certeza de que o problema do planeta Terra é ter seres humanos. E obrigado por me teres dado a provar a certeza de que os cães, mesmo que sendo irracionais, reconhecem quem já conhecem. Obrigado...


Aos que me conhecem há muito, não se preocupem. Não me queixo de só me conhecerem o que conhecem. A culpa é minha, unica e exclusivamente minha. Aos que não me conhecem e ajudaram a minha amiga da carta a pensar assim, obrigado. A importância que me dão, mesmo sem me conhecerem, é boa, faz-me bem ao ego. Podem continuar. Aos que me querem conhecer, pensem bem. Depois deste relato, não quero que se sintam enganados. É que não quero mais cartas destas, ok? Hehe...


A quem me vai conhecendo...tenho a sensação que vais gostar de ler isto. E que, de certa forma, vais achar uma certa piada à situação, dentro do possível, claro está. Conto com a tua apreciação um dia destes...


De resto, meus amigos e minhas amigas, leitores e visitantes deste meu cantinho, espero que não se importem com o tema deste post. Não é por mal, mas tive que partilhar isto convosco. Não quero que vos aconteça o mesmo. Nem em relação a mim, nem em relação a vocês...


Do eterno desconhecido, LF.

Wednesday, April 09, 2008

Um Conto Real...


Estou só. Para não variar, são as paredes, os móveis, as fotos e os objectos que me acompanham. À janela, o vento e a chuva sussurram-me que não devo sair. Ao lado, a cama sorri e aconselha-me o mesmo. Mas não me apetece. Por isso saio...

Saio à procura de algo. De ar, de gente, de sons e luzes que possam, ainda que por instantes, separar-me desta solidão que me persegue, que segue colada a mim e que se me entranha na pele à medida que o tempo passa. Curiosamente, o tempo acalmou. São Pedro parece querer dar-me essa benesse. Ainda bem...

Saio sem rumo, sem destino. Não sei bem para onde ir nem o caminho a tomar. Apenas sei que quero e que estou a sair. A sair de um quarto demasiado grande para este ser demasiado pequeno. Pelo menos neste momento. Acabo por apear num qualquer café. Detenho-me aqui por notar que está cheio. De luz, de vida, de sons, de vozes. Ao contrário de mim...Pelo menos neste momento...

Entro e faço o que não costumo fazer: sento-me mesmo a meio do café. Não por querer ser o centro do Universo. Nunca quis. Faço-o apenas para me sentir rodeado, resguardado, protegido. Mesmo que não reconheça uma única alma, um único rosto à minha volta...

Folheio uma das minhas revistas de culto. O café e a água com gás já me foram servidos. Ninguém se mete comigo, ninguém sorri ou acena na minha direcção. No meio de quase uma centena de pessoas consigo estar sozinho, sentir-me sozinho, notar-me sozinho. Tal como estava minutos atrás, quando resolvi sair do meu quarto...

Começo então a reparar no ambiente e nas pessoas que me rodeiam, que me circundam. Faço uso da minha boa audição e começo a percepcionar conversas, diálogos, "bocas" e comentários. Não, não é cusquice. Nem tão-pouco curiosidade mórbida. É apenas uma forma de me sentir próximo dessas pessoas, de interagir com elas...

Daí à "encarnação" das vozes que ouço, é um passo. Ao fim de poucos segundos começo a ver-me no lugar de quem vejo...

Sou como o rapaz do casal à minha frente, que é agraciado com um beijo. Sou como o rapaz que, ao meu lado, tenta conquistar o coração de uma bela menina. Sou como qualquer um dos rapazes que, uns metros mais à frente, bebe minis e troca ideias sobre mulheres e futebol. Sou como tantos e tantos homens que se fazem acompanhar. De mulheres, de amigos, de amigas, de conhecidos e, quiçá, de desconhecidos. Sou como toda a gente, mas não sou...

Não sou porque me encontro só, sentado a meio de um café a redigir este texto. Não sou porque comigo não estão amigos, amigas, conhecidos ou desconhecidos. Não sou porque comigo não está ninguém para me agarrar na mão, me beijar suavemente os lábios ou acariciar levemente a face. Não sou porque não posso ser...

Chegado a esta conclusão, penso então nos porquê's de não ser nada daquilo que vejo. De não ser nada daquilo que sinto e observo. E suspendo o pensamento. Prefiro fazê-lo noutra altura, noutro local, noutro ambiente. Não quero que me vejam triste, pensativo ou soturno. Não que me envergonhe de estar assim. Mas prefiro continuar a ser o que sou no meio deste café: apenas mais um...

Talvez continue o pensamento em casa, no quarto, na cama. Talvez tente concluir o que não quis terminar neste café. Talvez...Não prometo nada, mas talvez até escreva sobre isso...

Entretanto, as horas avançam e sinto que este café já nada tem para me oferecer. Estou de saída e vejo que me enganei. Recebo uma mensagem no telemóvel...e sorrio. Algo raro desde que aqui me sentei. Penso responder, agradecendo o sorriso, mas não o faço. Respondo apenas à mensagem. Talvez venhas a ler este texto e aí ficarás a saber que, graças a ti, sorri. Obrigado pelo sorriso...

E é assim, já refeito do sorriso que me provocaram, que me dirijo ao carro. Ainda não sei se vou para casa, mas isso também pouco importa. Para onde quer que vá o sentimento será o mesmo. Pelo menos hoje. Pelo menos agora...

Lá fora, a noite continua limpa. Já não há chuva, vento ou frio. São Pedro continua a olhar por mim. Também ele percebe como estou e, por isso mesmo, poupa-me às intempéries. Obrigado São Pedro...

Ja não sei o que será de mim para o resto da noite. Como tal, findo aqui este meu relato, este meu conto real. Mas apenas o relato finda aqui. O resto...o resto continua igual...como sempre...

Monday, April 07, 2008

Versos...simples, mas versos...


“Dá mil batidas o coração
Que sabe contar os dias
Para que o sim passe a não
E as tristezas a alegrias...”

Diálogo à chuva...


Enquanto a chuva cai lá fora, o meu pensamento ruma longe, não me deixando antever o que vejo agora. Apenas sei que não me detenho aqui, ao colo desta cadeira que me embala num misto de conforto e inquietação. Creio que ambos seguem juntos, de mãos dadas, rumo ao local onde vagueia a minha mente, deixando-me, por isso mesmo, entregue a mim mesmo, sozinho e ausente…

No local onde me encontro as paredes falam. Os móveis falam. As luzes comunicam. Não há cá mais ninguém, mas o diálogo acontece na mesma. Todos falam de algo diferente, mas todos têm o mesmo assunto em comum. E apesar de me saber ausente, sei que respondo a todos e a mais algum. Sei que conversas surgem, porque surgem e como se concluem. Sei que ideias e imagens aparecem e depois se diluem. Sei, a sério que sei…

Só não sei porque querem tanto eles falar. Aliás, sei, mas não percebo. Não percebo qual a utilidade de diálogos que só contribuem para a minha cada vez maior insanidade. Não entendo a razão que os leva a falar comigo precisamente nesta altura em que não estou totalmente comigo. Mas sei que respeito as suas palavras, sei que compreendo as suas motivações. Mas questiono o timing, a escolha da altura para se fazerem ouvir…

Dizem que me querem ver a sorrir. Respondo que o tempo lá fora está cinzento, nublado e chuvoso. Que quando assim é não consigo sentir qualquer vontade de rir, sorrir ou de gozo. Que, com tantas nuvens no céu, me custa para ele olhar e um raio de sol procurar. Não sejas assim, reage. É por isso que aqui estamos, para te lembrar que todos estamos onde não estamos e todos encontramos o que não procuramos, dizem eles. Olha para nós e sorri. Fala connosco e sorri. Pensa que estás aqui mesmo não estando. Pensa que estás sozinho, mas que nós te estamos acompanhando…

Mas porquê, indago eu. Porquê essa presença ausente, porquê conversar com pessoas que não são gente? É simples, respondem todos em uníssono. Estamos aqui não para que sorrias, mas sim para que te lembres que assim poderão ser os teus dias: nublados, chuvosos e cinzentos. E que mesmo assim a ti te cabe remar contra todas as marés e todos os ventos. Cabe-te a ti passar por todos estes momentos sem que receies falar e questionar os teus sentimentos…

É por isso que estamos aqui. Para que saibas que a Felicidade que procuras está em ti. Mesmo que precises de parcerias. Os raios de sol que queres ver estão em ti. E ainda que as nuvens estejam carregadas de um negrume ameaçador, não temas. O sol está aqui mesmo, nas paredes, nos móveis, nas luzes, ao teu redor…

É por isso que contigo falamos, mesmo que te tenhas ausentado. Queremos que saibas que não deves esmorecer. Hoje estás sozinho, mas em ti mesmo surges acompanhado. De tudo e de nada. Mas estás. Se te sentes só a culpa é tua. Porque ao quereres buscar os raios de sol, esqueceste a beleza do sorriso que te oferece a lua…

É para isso que tanto contigo falamos. Para que saibas que as nuvens podem demorar a passar. Talvez até se façam estar presente durante anos e anos e anos. Mas isso, a ti, pouco te deverá importar. Porque tudo isso é e será de ultrapassar. Apenas tens que ouvir o canto dos pássaros, ler nas entrelinhas das folhas das árvores e entender as ondas do mar. Apenas tens que perceber que não há bela sem senão e que o sol da tua vida está à espreita, estando apenas e só à espera que um dia passe a monção…

Por isso, não te incomodes se te falamos muito ou pouco. Não te chateies se te sentes louco. Livre e insano, assim te queremos. Para que cada vez mais seja menos preciso aparecermos. Para que cada vez mais seja menos preciso a nossa companhia…

Porque estaremos todos acompanhados a dada altura. E tu, estarás junto de ti e da tua inspiração. A mesma que te faz pensar em tanta loucura, a mesma que a nós nos juntou um dia…

Dilemas de (pseudo)escritor...


O que será que me incomoda ao ponto de me impedir de escrever? Estarei eu a chegar ao limiar das minhas capacidades? Será que já não serei capaz de escrever como escrevia antigamente?

Pergunto isto porque desde há uns dia a esta parte, escrever tem se tornado uma tarefa quase que penosa para mim. Não há texto nenhum que comece e que consiga ter fim. Parece que me faltam palavras. Parece que já não há aquele “je ne sais quoi” que me fazia implodir de dentro de mim mesmo milhares de ideias, de temas e de frases que, sabe-se lá como, acabavam sempre por “dar” um texto…

É triste sentir-me assim. É triste saber que há aqui tanto dentro de mim, mas que nada sai. É triste saber que por mais que tente, chego a meio e parece que encontro uma placa a dizer “Desculpa lá, mas tenta novamente!”. E isto começa a dar comigo em doido. Sinto-me a ficar seria, insana e loucamente demente…

Também não sei bem o que poderia escrever depois de tanto aglomerar, juntar e sobrepor. Talvez pudesse escrever poesia. Ou algum texto sobre o amor. Quiçá pudesse ousar compor uma letra que virasse canção. Ou melhor ainda: talvez pudesse tentar ouvir o meu coração…

Mas acho melhor não. Não que tenha medo, mas sim porque receio já não saber perceber a linguagem deste que me faz viver. Talvez já não saiba interpretar os sinais que dantes me diziam se era preciso parar de escrever, esperar ou batalhar ainda mais. Já não sei se sei ouvir a minha própria inspiração, a tal que vinda não sei de onde, sei que vem do meu coração…

Talvez seja isso mesmo. Talvez esteja a ficar surdo de mim mesmo. Às tantas já não falo a minha própria língua, já não percebo o meu próprio dialecto. Talvez por isso passe tantas e tantas horas a olhar e a falar para o tecto…

E assim chego que à triste conclusão que o causador de tudo o que sei e não sei, de tudo o que penso e não digo, de tudo o que faço sem fazer e de tudo o que quero mas que acabo por não escrever, sou eu! Apenas e só eu…

Onde estás tu, então, agora? Onde estás tu, que no fundo, és eu? Onde estou eu, que não me encontro? Onde estou, não sei…E como diria o poeta “ (…) Eu não sei quem te perdeu…”…

PS – Espero depois deste texto poder voltar a escrever algo de jeito…Já não me posso aturar sem escrever…

Saturday, April 05, 2008

"Meu Eu em Você"

Há músicas que realmente…Há músicas que parece que foram escritas por nós ou para nós, esteja ela adequada ao presente que não temos, ao passado que julgámos ter ou ao futuro que talvez nunca venhamos a ter…

Mas mesmo assim essas músicas tornam-se marcantes, impossíveis de nos passarem ao lado sem que, ainda que minimamente, nos provoque algum tipo de reacção próxima do arrepio ou da lagrimazinha no canto do olho…

Eu tenho a sorte de ser brasileiro e de ter amigos que ainda falam comigo desde aquele lado do Oceano Atlântico. E com isso vou continuando a estar em contacto com as minhas raízes, com o meu povo, com a minha gente. Mas acima de tudo, com a minha música. Perdoem-me a parcialidade (não posso ser só virtudes), mas a música brasileira é a melhor do mundo. A mais simples, a mais complexa, a mais rica e a mais intensa a nível de sentimentos. Não há nada como um bom pagode, um bom samba, uma boa balada ou uma boa canção sertaneja. Nada…

E há dias uma amiga minha deu-me a conhecer uma das duplas sertanejas mais famosas do momento, no Brasil: Victor e Léo. Para quem gosta do género musical, como eu, a música que vos trago hoje é muito bonita, muita profunda. Diria mesmo, perfeita…

Porquê? Deixo-vos a letra da canção e um dos vários clipes que existem no YouTube, relativamente a esta música. Que cada um de vós tire as vossas próprias conclusões. Eu já tirei as minhas…

Não fui eu quem escreveu o que se segue, mas poderia, perfeitamente, ter sido. Partilho esta música com todos os que me visitam neste meu cantinho e dedico-a também a todos os que se revêem, gostariam de se rever ou já se reviram neste verdadeiro hino ao amor…

“ Meu Eu em Você ”

Eu sou o brilho dos teus olhos ao olhar
Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu
Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar
Quando em meus braços você se acolheu

Eu sou o teu segredo mais oculto
Teu desejo mais profundo, o teu querer
Tua fome de prazer sem disfarçar
Sou a fonte de alegria, sou o teu sonhar

Eu sou a tua sombra, eu sou teu guia
Sou o teu luar em plena luz do dia
Sou tua pele, protecção, sou teu calor
Eu sou teu cheiro a perfumar o nosso amor

Eu sou tua saudade reprimida
Sou o teu sangrar ao ver minha partida
Sou o teu peito a apelar, gritar de dor
Ao se ver ainda mais distante do meu amor

(Refrão)
Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno, a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou o meu eu em você…

Eu sou a tua sombra, eu sou teu guia
Sou o teu luar em plena luz do dia
Sou tua pele, protecção, sou teu calor
Eu sou teu cheiro a perfumar o nosso amor

Eu sou tua saudade reprimida
Sou o teu sangrar ao ver minha partida
Sou o teu peito a apelar, gritar de dor
Ao se ver ainda mais distante do meu amor

(Refrão)
Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno, a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou o meu eu em você…”

Há músicas que realmente…Acho que, neste caso, só o título já diz tudo não? “Meu Eu em Você”?

Porque publico isto? Porque creio que todos nós, um dia, aspiramos a vir a ser este "eu em você"...

Para quem já o é, os meus parabéns - saibam continuar a sê-lo e não vacilem nem se acomodem. Para quem ainda não é mas acredita vir a sê-lo, coragem - tudo na vida exige esforço e tudo o que dá luta é mais saboroso. Para quem nunca o foi e começa a desacreditar que possa vir a sê-lo, não há que desesperar - não ama todo e qualquer um; ama apenas aquele que deseja realmente vir a amar...


Espero que gostem…

Thursday, April 03, 2008

Quando amarem alguém...


Quando amarem alguém, digam-lhe que amam. Escolham as melhores palavras e digam-no através de gestos, de sorrisos, de beijos, de abraços, de olhares. Não interessa bem como o fazem ou qual a maneira mais certa de o fazer. Importa sim, confessar o nosso amor. Mesmo que vos custe um bocado. Mesmo que isso vos aumente a dor…

Mas acreditem que a dor será muito maior se não o disserem. Poderão arrepender-se toda uma vida por não o terem feito. E quem sabe, se tivessem arriscado, se não teria sido aquele, o verdadeiro amor, o amor-perfeito?

Quando amarem alguém, façam-lhe sentir especial. Surpreendam esse alguém com a beleza de um sorriso ou com a doçura de um beijo matinal. Criem condições para que esse alguém possa ser e estar mesmo que não seja ou não esteja. Não se importem de, a esse alguém, oferecer os vossos corações de bandeja. Mesmo que isso comporte algum risco…

Porque, no fundo, a vida é um risco. Tudo na vida é um risco. Sobretudo o amor. É a maior aposta na casa de jogo que é a Vida. O Amor é como o maior casino do mundo na Las Vegas da Vida. E se é certo que nem todos ganham, mais certo é que só ganha quem joga. E quando se ganha, sai sempre o Jackpot…

Quando amarem alguém, saibam ser. Saibam ser tudo e nada. Saibam ser a carícia que acorda esse alguém pela manhã. Saibam ser o abraço que conforta esse alguém de madrugada. Saibam ser perfeitos sem se esquecerem que são imperfeitos. Saibam ser qualidades sem esquecer que têm defeitos. Saibam ser força quando estiverem fracos. Saibam ser inteiros, mesmo que estejam aos bocados…

Porque amar é superar. Superar as dores, as dúvidas, as incertezas, as indagações. Amar é superar tudo o que impeça de estarem juntos dois corações. Amar é a prova máxima de superação humana. Quem ama supera e só se supera quando, porque e onde se ama…

Quando amarem alguém, façam loucuras. Sejam loucos de forma sã. Cometam uma loucura a cada manhã. Amem loucamente, pois só os loucos sabem amar. Os que se dizem sábios não sabem amar porque não sabem arriscar, não sabem dar sem pensar no retorno. Por isso, amem como o louco que se atira de cabeça para mergulhar nas Cataratas do Niágara. Sejam loucamente sãos ao ponto de quererem ser loucos, doidos varridos no amor…

Porque é preciso ser louco para se amar alguém. Porque amar alguém implica que se aprenda a amar outro ser que não o nosso próprio ser. E só um louco poderá abdicar de uma percentagem do seu amor por si para poder amar outra pessoa. Mas mais louco é aquele que não sabe abdicar, pois esse nunca poderá ter a sorte de amar…

Quando amarem alguém, entreguem-se. Não se coíbam de tal acto. O amor tem espinhos, sim. Às vezes até parece um cacto. Mas mesmo assim entreguem-se. De alma, corpo e coração. Mesmo que o amor vos pareça tempestade, lembrem-se: a bonança vem logo a seguir à monção…

Porque na entrega aprende-se a partilhar. E a partilha fornece coisas como a amizade, a cumplicidade, a confiança. Entreguem, partilhem. Entreguem-se a esse alguém como se fôsseis uma criança. Pois uma criança dá de si sem em troca nada pedir. E se fizerem isso, se se entregarem, o amor acontecerá e só terão razões para sorrir…

Quando amarem alguém, celebrem esse amor. Seja como, onde, quando e pelo que for. Não deixem de celebrar algo tão nobre. Não queiram ser como o ser que ama, mas que o receia mostrar: pobre. Gritem aos quatro cantos do mundo, espalhem a notícia ao som dos ventos. Anunciem a Deus que amam de verdade. E se for caso disso, que até pretendem vir a ter rebentos…

Porque o amor merece celebração. Porque o amor necessita que se verse sobre a sua união. E isso por si só deve ser motivo de orgulho, de regozijo. Deixem que os deuses saibam que vocês amam, eis o que vos digo. Porque lá de cima, do Olimpo ou dos campos da Eternidade, eles querem que todos saibam como é o amor de verdade…

Quando amarem alguém, façam tudo o que sempre fizeram e a isso juntem o que sempre desejaram. Afinal, amar mais não é do que continuar a escrever a história que Adão e Eva começaram. E pouco importa se houve pecado. O amor é algo único e demasiado belo para que se fale em pecadores. Peca quem não ama ou rejeita amar. E quem peca não aguentará as dores…

Porque a dor de não ter amado é pior do que a dor de quem ama e ver partir o seu amor. Não amar significa ser incompleto. Amar, mesmo que platónica ou utopicamente, sempre nos ajuda a algum tempero na vida pôr…

Quando amarem alguém, não se preocupem com regras, etiquetas ou restrições. No amor, como deveria ser na vida, não manda a razão, mas sim os corações. Não se inibam nem se limitem. Sejam o exemplo de como se deve amar e deixem que o resto do mundo vos imitem…

Pois este sim é um belo exemplo. É esse o exemplo que o mundo precisa clonar: o exemplo de quem ama a arte de amar…

Quando amarem alguém, pura e simplesmente amem. Percam-se e encontrem-se nessa estrada que é o amor. Não se preocupem com mapas ou semáforos ou bússolas. Guiem-se pelas estrelas, pela lua ou pelo sol. Guiem-se pela beleza de quem vos ama e se encontra ao vosso redor…

Pois na vida não há melhor guia. O amor sabe sempre como encontrar o caminho. E mesmo que se faça tarde ou comece a escurecer, quando amarem, saberão sempre que amanhã vai chegar o dia. O dia que começa e acaba como começou: com a pessoa que sempre amamos e que sempre nos amou…

Quando amarem alguém…agradeçam a Deus tal sorte, pois uma vida sem amor é o mesmo que nascer e ser imediatamente condenado à morte…

Dúvida e Certeza...


À hora que isto escrevo, todo eu sou uma dúvida. Uma dúvida constante e real que me persegue e me afronta sempre que pode. Uma dúvida que põe em causa todo o meu ser, que me faz pensar se o que faço na vida é viver. Uma dúvida que resulta da incerteza de não ter certezas sobre certas incertezas. Uma dúvida que toma de assalto a minha mente e o meu espírito. Eis a dúvida que sou neste momento…

Sinto-me incerto. É curioso: logo eu. Logo eu que tantas certezas tenho para dar aos outros e sobre coisas que me perguntam. Logo eu que pareço tão afirmativo e tão assertivo sobre tantas e tantas coisas. Logo eu que sobre mim…ah, pois é…Acho que já percebi. O problema é mesmo esse: é sobre mim…

Se não fosse sobre mim, a esta altura isto já não seria uma dúvida (ou um conjunto de dúvidas). Seria um ponto assente, algo definitivo e decididamente certo. Mas não é. É sobre mim…

Não que importe ao mundo que eu tenha dúvidas. Eu sei. Já lá vai o meu tempo de presunção. Mas importa que o mundo saiba que há dúvidas que nos assolam, que nos perseguem, que nos massacram. Há dúvidas que parecem estar aqui apenas e só para nos fazer duvidar. Sim, só para isso. Mas então, não é esse o papel da dúvida? Não. Geralmente as dúvidas surgem com o intuito de alertar as pessoas, de as fazer pensar melhor sobre determinado assunto. Mas há dúvidas, como as que me assolam neste momento, que existem apenas para criar a dúvida na pessoa. Só para isso. Com mais nenhum propósito, com mais nenhum intuito…

Não sei, mas não creio que isso seja fortuito. Pelo menos, não no meu caso. Não que seja especial ou algo do género, mas creio que as minhas dúvidas não querem que pense melhor ou que pondere outras perspectivas. As minhas dúvidas não querem que eu pense. Isso sim. Acho que é mais por aí…

E o que ganham elas com isso? Simples: enquanto não pensar, não poderei ter certezas. Enquanto estiver ocupado com estas dúvidas, não poderei tentar ter certezas sobre tudo o que preciso ter. Acima de tudo, sobre mim mesmo…

Enfim, parece ilógico, não? Ter a certeza de que se tem dúvidas? E que as mesmas são apenas e só dúvidas? Talvez. Talvez seja ilógico, realmente. Mas duvido que seja. Aliás, tenho a certeza. Mas se a dúvida começa a ter lógica, a certeza pode ser ilógica…é isso? Será?

Meu Deus…que estranho…talvez por isso não me percebam…talvez por isso nem eu me perceba…afinal, procuro ter sempre a certeza das coisas e gosto de as afirmar com tal. E se assim é, então sou ilógico. Por não ser logicamente dúbio, então estou mal. Não estou bem nem sou consentâneo com o mundo…

Pelos vistos o problema é mesmo meu, não? Caramba, nunca pensei. Começo a chegar à conclusão que vale a pena ter dúvidas. Afinal, é normal tê-las, não? E ter certezas parece ser uma perda de tempo…

À hora que isto acabo de escrever, apenas me resta uma certeza: o ser humano está demasiado habituado a ter dúvidas porque é muito mais fácil tê-las do que procurar ter certezas. E ainda que ambas (dúvida e certeza) possam surgir do nada, apenas uma explica o inverso, isto é, apenas a certeza pode explicar tudo. A dúvida, essa nunca há-de explicar nada…

E eu que tantas dúvidas tenho, acabo por ficar feliz com esta minha certeza. Não que me vá valer de muito, mas ao menos agora sei o que devo fazer…

Foste...mas estás bem...


Não, não estás comigo. Estás então com alguém. Sim, eu sei que estás. Sei que estás com alguém que te trata bem e que cuida de ti. Sei que não estás pior agora do que estavas quando era eu quem cuidava de ti. Sei disso e não me importo. Até porque a opção foi minha. Fui eu quem decidiu deixar-te ir, quem decidiu que poderias ir com outro alguém que não eu…

Não me arrependo. Curiosamente, e apesar de sentir a tua falta, não me arrependo. Sei que estás bem, que tens companhia e que foste ter com a tua “alma gémea”. Acredito que neste momento estás, algures nessa casa, na companhia daquele que em ti se inspirou, daquele que em ti teve origem. E acredito plenamente que devem estar felizes. E ainda bem, pois também eu me sinto feliz por isso…

Se quero que voltes? É relativo. Acho que deves voltar quando for a hora de voltares, ou se essa hora se proporcionar. Se me incomoda a espera? Já esperei por mais coisas na vida, algumas durante muito, muito tempo. Não quer dizer que, por ter esperado, tenha alcançado 1/3 delas, mas esperar por ti também não será nada do outro mundo. Se não quero ir te buscar? Gostava, não digo que não. Mas gosto mais de saber que agora também estás bem, que agora estás na companhia de quem tens que estar. Posso ficar sozinho por mais uns tempos, não me chateia. Já estou habituado…

Apenas quero que saibas que és importante para mim, que sem ti me sinto um pouco sem mim. Mas não me sinto perdido, pois sei-te bem, feliz, nas nuvens. É isso o que mais me interessa neste momento. Saber-te assim…

Até ao teu regresso, continuarei agarrado às nossas memórias, aos momentos em que tanto vivemos, às peripécias que passamos. Até lá, é assim que te quero comigo – mentalmente. Pois na memória resides e residirás sempre. Mesmo que nunca mais regresses. Mesmo que eu já cá não esteja quando decidires regressar…

Afinal a vida é isso mesmo, certo? A vida é um caminho feito de encontros e desencontros. E neste momento, tu já te encontraste contigo e estás bem. Também lá chegarei um dia, quero crer…

Não, não estás comigo. Mas estás contigo. Também eu estou contigo. Muito mais do que poderia imaginar. Mas agora, e neste momento, estás bem assim, aí longe. E, para já, é assim que devemos ficar…

Apenas quero que me prometas algo: cuida desse alguém que te levou. Porque esse alguém quer-te tanto ou mais bem do que eu. Esse alguém sabe o quanto vales para mim, pois sente o mesmo por ti. Cuida desse alguém que te quer bem, como se cuidasses de mim, como cuidavas de mim. Cuida, pois se te deixei ir com esse alguém foi porque essa pessoa está mais do que habilitada a tratar de ti e a ser tratada por ti.

Sejam felizes. É tudo quanto vos desejo…

Nota do autor: Não sabem o quanto gostei de escrever isto…e o texto não é tão simples/transparente quanto parece…

Tuesday, April 01, 2008

1 de Abril: e se fosse o Dia das Verdades?



Hoje, 1 de Abril, é comemorado o Dia das Mentiras. Um pouco por todo o lado as pessoas aproveitam esta oportunidade para contarem uma mentirinha e pregarem partidas aos amigos, colegas, etc…

Contudo, venho propor uma coisa diferente. Aliás, sugerir. E que tal, se em vez de mentirem (ou mentirmos), tentarem, hoje, mais do que nunca, dizer a verdade?

Sabem porque digo isto? Simples: todo o ser humano mente. Seja de que forma for, a quem for e pela razão que for. Todos mentimos. Uns mentem aos amigos, outros mentem aos pais, outros ainda mentem a si próprios…

Acho que hoje poderíamos tentar não fazer isso, em vez de aproveitar para “insistir” na “brincadeira”…

É só uma opinião, como é óbvio. Mas prometo que hoje não irei mentir. Farei esse esforço quase sobre-humano para não mentir sobre nada e a ninguém. Quem quiser aceitar o desafio, aqui fica a minha deixa. E se quiserem, amanhã ou depois, passar para comentar e deixar as suas experiências deste 1 de Abril, estão mais do que à-vontade.

Um feliz Dia das Verdades =)

Deixa-me levar-te pela mão...



Deixa-me levar-te pela mão,
Mostrar-te todos os cantos do mundo
Onde impera o coração
E o amor se sente a cada segundo.

Deixa-me levar-te pela mão,
Guiar-te por montanhas e vales
Onde direi ao teu coração
“Não quero nunca que te cales”.

Deixa-me levar-te pela mão,
Subir-te ao céu e ao paraíso
Através de um beijo intenso de paixão
E de um abraço sempre preciso.

Deixa-me levar-te pela mão,
E no silêncio falar contigo,
Dizer que não há motivos para preocupação,
Pois tu agora estás comigo.

Deixa-me levar-te pela mão,
Deixa-te levar por estes dedos
Que nunca te abandonarão
Quando enfrentares os teus medos.

Deixa-me levar-te pela mão,
Deixa-te ir neste rio que flúi,
Neste rio chamado vida, cuja razão
É ser para ti o que nunca fui.

Deixa-me levar-te pela mão
Para adormecer-te no meu peito,
Onde poderás sonhar, então,
O sonho mais que perfeito.

Deixa-me levar-te pela mão,
E aconchegar-te de madrugada,
Acordar a teu lado com a razão
De te fazer sentir amada.

Deixa-me levar-te pela mão,
Deixa-te ir sem nenhum temor,
Deixa-te levar…é minha a mão…
A mão é tua, sim senhor…

Deixa-me levar-te pela mão,
Provar-te que é possível caminhar a dois
De manhã, à tarde e ao serão,
Hoje, amanhã, sempre e depois.

Deixa-me levar-te pela mão
Para dançarmos rumo à eternidade,
Na mais bela dança de salão:
A dança da Felicidade.”

* written by W.A.P.

PS – E lembrem-se: “A mão que embala o berço da vida é a mão do Amor” (W.A.P.). Guiem e deixem-se guiar por ela…

Realmente irreal...


“ Cheguei a casa à hora do costume. Nem mais cedo nem mais tarde. Estávamos a meio da semana e o fluxo de trabalho aumentava freneticamente. Pensei que fosse morrer com tanto que fazer. O que mais queria era tirar umas férias, viajar, conhecer novos lugares ou redescobrir velhos lugares. Mas não podia. Ainda faltavam algumas semanas para poder tirar férias…

Ao chegar a casa reparei que já estavas lá também. Recebeste-me bem-disposta, sorriso nos lábios e brilhozinho nos olhos. Rapidamente nos juntamos para um abraço bem apertado, bem nosso. Naquele momento não era preciso mais nada. Os problemas, o trabalho, tudo estava esquecido. Naquele momento senti-me abençoado, pela sorte bafejado e pelos deuses protegido. Era assim que me sentia nos teus braços…

Contaste-me o teu dia, falaste das tuas novas ideias, dos teus novos planos. Eram tantos que pareciam durar anos e anos…Contaste-me tudo e depois perguntaste-me a mim. Mas eu não queria falar. Tu já sabias isso, mas insististe mesmo assim. E lá falei eu então. Falei sem grande entusiasmo, até porque a semana estava a ser um marasmo, mas ainda assim tu prestaste atenção. Só tu mesmo…

E foi assim que nos sentámos no sofá. O verdadeiro sofá. Aquele que todos sonham, mas que nem todos alcançam. Continuamos a conversar e a ver televisão. Já não me lembro qual era a série, nem se era de aventura, de comédia ou acção. Sei apenas que estavas deitada no meu colo, cabeça apoiada na minha perna. Sabia que querias uns miminhos, sabia que querias os teus minutos da minha atenção…

Aos poucos lá fui passando as mãos pelos teus cabelos. Notava-se que a preguiça já te estava a rondar. Também te acariciava o rosto, o pescoço e os braços. Querias comer qualquer coisa na cozinha, mas as tuas pernas não queriam que os teus pés dessem nem dois passos. E lá fui então. Não preparei nada de mais, mesmo que mo tenhas dito que sim. Comemos, lavou-se e arrumou-se a louça na cozinha, e voltámos para a sala, para horas e horas de descanso sem fim…

Agora era eu quem me deitava no teu regaço. Retribuíste com carinho o que te havia feito ainda há bocadinho. Mas assim não estávamos bem. Se podíamos estar melhor a mil, porque ficarmo-nos pelo cem? E assim deitámo-nos. Eu um pouco mais acima do que tu. Afinal, a menina queria repousar no meu peito. Ao ver-te ali, assim deitada, pensei em como tudo era perfeito. Quis ser poeta para fazer uma quadra a preceito. Quis ser pintor para pintar o quadro do que via. Quis ser cantor para poder cantar a minha alegria…

Disseste-me que o meu coração estava acelerado. Eu respondi que não estava preocupado, pois sabia o porquê dessa aceleração. Perguntaste-me se havia algum problema e eu, sorrindo, disse apenas que eras tu a única razão. Sei que sorriste também, mesmo que não tenhas levantado a cabeça. Há coisas que nunca mudam, retorquiste tu, no meio de um suspiro. Um longo e profundo suspiro…

Continuamos assim deitados por mais algum tempo. Aos poucos foste chegando mais junto a mim, à procura do calor que te embalasse rumo aos sonhos e ao sono que te chamava. Já estavas à mesma altura que eu. Fitaste-me morosamente nos olhos. Não disseste uma única palavra. Também não era preciso. Há muito que falávamos assim, sem frases ou verbos ou sujeitos. Sem pronunciar um único vocábulo, éramos capazes de diálogos perfeitos. E assim estivemos até que os nossos lábios resolveram actuar. Não foi preciso muito mais para que nos estivéssemos a beijar. Mas estes beijos eram diferentes. Eram mais doces do que o mel. Eram mais suaves do que a seda. Eram mais ternos do que um recém-nascido…

E foi no meio desse contacto celestial que percebi que tudo vale a pena afinal. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Tudo vale a pena quando a fé não é pequena. Tudo vale a pena…

Aos beijos juntaram-se os abraços. E a estes os gestos de carinho. Nem quero acreditar que já não estou mais sozinho, deixei eu escapar após estarmos novamente abraçados e a ver televisão. E eis que quase deixa de bater o meu coração. O que se passa, perguntaste logo. Nada, respondi eu, apenas me dei conta de que acabou o sofrimento, acabou a solidão. Desta vez sorriste bem alto e o abraço que me deste era a resposta que eu precisava. Aos poucos fomos adormecendo. E assim permanecemos até meio da noite. Aí acordei e fui-te pôr à cama. Aconcheguei-te os lençóis, dei-te um beijo na face e deixei-te um bilhete dizendo “Há mais no fim-de-semana =) “…

Fui-me embora de alma lavada, com o espírito renovado. Estava muito mais aliviado. Tudo porque amava e sentia que era amado. Porque desejava e era desejado. Porque tinha comigo quem me queria a seu lado. Voltei para casa feliz. Era a minha casa. Mas estava vazia. E apesar do vazio que se fazia sentir, fui capaz de para ele olhar e dizer “Já não falta muito para que estejas preenchido um dia”. E o vazio calou-se, anichou-se e desapareceu…

Antes de dormir pensei em ti. Na tua beleza, no teu sorriso, no teu olhar. Pensei que se amanhã iria ter um bom dia era porque contigo tinha a sorte de estar. Mesmo que agora estivéssemos longe, separados fisicamente. Mas isso pouco importava. O importante era saber que tudo corria bem. E que ao acordar tudo estaria na mesma. Mesmo que tudo fosse um sonho. Mesmo que tudo fosse irreal”.

Nota do Autor: Este é um relato imaginário, utópico. É o sonho do Último dos Moicanos. Inspirado apenas e só na louca demência de uma semana repleta de insónias, directas e mais directas…